Temos o final do primeiro ato da história e o início de uma nova fase. De um lado, Nora e Makoto são capturados por homens estranhos portando armas. Enquanto isso, Yukiko, ainda preocupada com o sumiço de Makoto, recebe uma chamada desesperada de Yuuki que acaba de matar Nao e toda a sua família.
Sinopse:
Com uma mistura de gore e terror, Happiness é um shounen diferente que trabalha as várias facetas humanas. Na história, Makoto Okazaki é um garoto que está sempre evitando confrontos e escondendo seus verdadeiros interesses, sem saber como se expressar. Num dia fatídico, porém, Makoto é atacado e forçado a fazer uma escolha: morrer como um humano ou viver como um vampiro. Desesperado e com medo da morte, o rapaz escolhe viver, mas sua nova "vida" não é algo que ele possa fingir que não existe e o rapaz se vê forçado a encarar quem é e seus desejos. Finalmente a estreia de Happiness pela NewPOP, do mesmo autor de "Aku no Hana" (The Flower of Evil).
No quinto volume, Oshimi botou o pé no acelerador e fez alguns desenvolvimentos bastante preocupantes. Começamos o volume com Makoto e Nora cercados por alguns estranhos soldados que parecem conhecer um pouco do potencial dos dois. Mesmo Makoto se liberando para poder proteger Nora, não sabemos se ele será capaz de enfrentar tantos adversários ao mesmo tempo. Quem são eles e o que eles querem? Na escola, Yukiko está sentada no lugar especial que ela compartilhava com Makoto, desejando saber o paradeiro da pessoa por quem ela tem sentimentos tão especiais. No dia anterior, ela havia encontrado com Masami, uma pessoa com quem ela foi capaz de conversar e que lhe deu um pouco de segurança. Quando ela estava perdida em pensamentos, Yuuki liga desesperado para ela pedindo que Yukiko o mate porque ele é incapaz de se matar. Sem entender o que está acontecendo e temendo pela sanidade do amigo, ela entra em contato com Masami e os dois seguem para onde Yuuki se encontra. Ao chegar lá, se deparam com uma cena digna de filmes de terror. O que fazer agora?
Esse é um volume altamente veloz de Oshimi. Se os anteriores já exigiam do leitor que ele parasse para entender a arte e o que se passava em cada página, esse é um detalhe importantíssimo nesse volume. Tem pouquíssimos diálogos e o leitor precisa sentir as páginas. Algumas cenas são cheias de emoção onde raiva, desespero, solidão e instinto primitivo transbordam por toda a parte enquanto outras possuem momentos viscerais que o leitor precisa parar alguns minutos para absorver o que realmente aconteceu ali. A arte de Oshimi está lindíssima neste volume com uma predominância de hachuras e sombreamentos por toda a parte. A edição como um todo é bem escura e em alguns momentos o mangaka emprega cenas bem estranhas e abstratas, representando o que Makoto estava observando em um momento bem específico. As cenas são repletas de tensão e a arte ajuda na imersão naquilo que está acontecendo. Detalhe: Oshimi nem precisa inventar demais a roda, bastando ele se focar nos personagens e em como eles estão se sentindo em um determinado momento. A gente vê a cara de pavor da Yukiko quando ela percebe que todo o seu mundo está ficando de cabeça para baixo. Ou Yuuki com olhos perdidos e um rosto distorcido porque ele perdeu parte de sua sanidade diante das mortes que ele mesmo provocou.
Este é um volume que nos deixa com muitas perguntas e nem quero entrar em tantos detalhes. Só queria comentar dois pontos que acho importantes que é o primeiro em que Oshimi nos coloca diante de algum tipo de organização ou força particular que parece conhecer o que é Nora e o que ela é capaz de fazer. Ainda não temos grandes detalhes a esse respeito e parece que o volume 6 dá mais algumas pistas, mas resta a gente saber o que essa organização quer. Makoto parece ter aberto mais a cabeça no sentido de que ele precisa atacar para proteger Nora ao qual ele não entende exatamente como se sente a respeito dela. O vampirismo é tratado de forma mais aberta neste volume e achei interessante como Oshimi associa a ideia de se tornar um ser sobrenatural à incapacidade de determinadas pessoas de se relacionarem socialmente com maior extroversão. Makoto era um garoto fechado enquanto Yuuki era alguém que apesar de estar cercado de outras pessoas, era alguém completamente solitário por dentro. É diferente da abordagem mais sensual e mística do vampirismo no Ocidente.
Masami entra na história como alguém que ajuda Yukiko em um momento em que ela precisava de alguém que compreendesse o que ela estava vivendo até ali. Só que a personagem claramente confiou rápido demais em alguém que ela havia recentemente conhecido. O resultado disso é bem óbvio e a edição anterior deixa isso bem claro. A maneira como Oshimi consegue trabalhar personagens distorcidos é fascinante e a gente fica alucinado querendo sacudir a Yukiko para que ela pudesse enxergar a verdadeira natureza do personagem. Mas, a bondade da menina aliada a uma boa dose de ingenuidade é o que vai levá-la a um caminho sem volta e a deixar marcas indeléveis em seus sentimentos e em seu corpo. Yuuki também é pego no meio desse furacão porque ele não consegue entender como deve reagir diante de algo que ele acabou fazendo instintivamente. Ele é um assassino? Ou vítima de alguma outra coisa? Como ele deve entender a si mesmo? E como um sujeito com a mente completamente distorcida como Masami se encaixa nesta equação?
O final do volume cinco dá um salto de dez anos no tempo e nos apresenta uma Yukiko no futuro onde ela se encontra em um trabalho em um escritório. A partir daí, no sexto volume vamos iniciar um novo ato onde Oshimi vai nos trazer essa Yukiko que foi transformada por aquilo que ela viveu na infância. A personagem se tornou ainda mais introvertida e é uma pessoa eficiente em seu trabalho. O seu supervisor Sudo tenta se aproximar dela, mas a personagem está inserida em sua casca e não deseja esse tipo de interação. Em um choppinho com os colegas ela acaba sendo obrigada a mostrar uma marca de infância de tudo o que ocorreu no passado. Algo que é físico e emocional ao mesmo tempo. Quando o passado volta a bater em sua porta, Yukiko fica desesperada e começa a perder todo o contato com a realidade.
A arte dessa edição é mais sólida e as linhas mais precisas. Gosto de como Oshimi vai se concentrar muito mais nas expressões e sentimentos dos personagens. A gente vai ver as expressões quase nulas da Yukiko se alterando pouco a pouco ao longo da narrativa. No começo vemos o sofrimento vivido pela personagem, que impede que ela tenha uma vida de verdade. Quando Sudo procura abrir o coração de Yukiko, suas expressões vão se suavizando até o momento em que vemos ela expressando um sorriso ou um choro. Reparem em como ao longo de todo o volume, o mangaka representou os personagens, na maior parte do tempo, do torso para cima. Só mais para o final que temos algumas cenas mais em plano aberto que é quando a narrativa toma o seu rumo pretendido. Esse começo de segundo ato me conquistou pela habilidade do autor de mostrar o quanto a personagem estava sofrendo e o quanto ela precisava de alguém que dissesse a ela que ela poderia seguir em frente. Oshimi conta isso através de sua arte.
Enfrentar um trauma é uma tarefa muito difícil. A maioria das pessoas acaba não o fazendo e escolhendo estratégias para não precisar lidar com eles. É lógico que o ideal é enfrentá-los, mas o que não é possível é que um trauma nos impeça de viver. E é isso o que está afetando Yukiko no começo deste sexto volume. Ela não superou o fato de ter vivido uma situação terrível ou de não ter encontrado Makoto, por mais que tivesse passado um longo tempo buscando-o. É como se a personagem estivesse vivendo por dez anos em animação suspensa. Quando Sudo consegue entrar em contato com o coração da personagem é como se uma represa tivesse se aberto e tudo o que ela manteve para si transbordasse. Isso se revela em uma espécie de agorafobia, uma incapacidade de deixar o seu apartamento. O medo de reviver o passado é tão grande que chega a ser irracional. O esforço de Sudo em se relacionar com ela, faz com que Yukiko perceba que precisa, de fato, enfrentar o seu trauma. Por essa razão que ela faz aquela loucura no final do volume.
Estes dois volumes foram um meio do caminho na trama. Oshimi nos deixa com várias perguntas ao final do primeiro ato como, por exemplo, a organização que está atrás de Nora e de Makoto, o despertar de Yuuki e seu alinhamento com o terrível Masami. A arte continua muito boa e a história segue a passos largos em direção a algum acontecimento explosivo. O salto temporal serviu para que o autor pudesse trabalhar os sentimentos de Yukiko e toda a questão do trauma vivido após uma situação de risco.
Ficha Técnica:
Nome: Happiness vols. 5 e 6
Autor: Shuzo Oshimi
Editora; NewPop
Tradutor: Denis Kei Kimura
Número de Páginas: 192 cada
Ano de Publicação: 2019
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