Horácio parte em uma aventura para tentar encontrar sua mãe a quem ele nunca conheceu. Em uma jornada em que ele irá fazer novos amigos, Horácio mostra sua coragem ao tentar salvar seus amigos que se encontram em um enorme buraco cercado por predadores.
Sinopse:
Sozinho no mundo, Horácio nunca se conformou por não conhecer a sua mãe; então, decidiu procurá-la, numa aventura cheia de percalços e descobertas; do jeito que a vida é; Fabio Coala reinterpreta o clássico tiranossauro rex comedor de alface de Mauricio de Sousa de uma forma respeitosa e, ao mesmo tempo, ousada e emocionante.
O Horácio é um personagem bastante curioso na Turma da Mônica. É o único personagem que por vários e vários anos tinha o dedo exclusivo do Maurício de Souza que gostava de colocar seus pensamentos e ideias nas histórias do personagem. Pelo que a gente pode ler nos extras dessa edição, era o único personagem vetado para as Graphic MSP. E a gente percebe nas historinhas do Horácio nas revistas mais antigas da Turma o quanto era um personagem diferente. Sempre com mensagens de amizade, de dedicação, de perseverança. Um tiranossauro rex vegetariano que adora alface. Tem como não gostar de um personagem desses? Sempre foi o meu personagem favorito, e esta foi a primeira Graphic MSP que eu comprei. Sim, comecei tarde. Demorei a pegar as outras, e ainda faltam várias, mas o Horácio sempre teve um apelo particular para mim. Ter escolhido o Fábio Coala depois de muita insistência do autor em desenhar o personagem foi a mais acertada possível. Ele entendeu bem a essência do Horácio e nos trouxe uma linda e encantadora história sobre família, amizade e seguir os seus princípios.
Depois de muito tempo vivendo sozinho, Horácio se pergunta onde está a sua mãe. Nunca foi capaz de encontrá-la e ele teme que tenham se perdido em algum momento. Vendo vários animais com suas famílias, Horácio decide embarcar em uma jornada para obter pistas do paradeiro dela. É aí que ele salva Napinho de um grupo de predadores que o estão cercando. No início, o pequeno animal fica com medo do nosso personagem, temendo que ele vá devorá-lo. Mas, ele ter declarado que era vegetariano espanta Napinho. Os dois acabam fazendo uma boa amizade e Napinho diz a Horácio que viu uma t-rex fêmea em uma enorme cratera. Isso anima nosso pequeno dinossauro, mas seu amigo diz a ele que é um lugar bastante perigoso com vários predadores nas florestas e os animais que caem ali não conseguem mais sair. Os dois partem em uma jornada perigosa a essa cratera. Será que eles vão encontrar a mãe de Horácio?
A história é emocionante. Temos duas narrativas acontecendo em tempos paralelos. A de Horácio e seus amigos indo em direção à cratera e a da mãe de Horácio tentando sobreviver ao ataque de predadores e protegendo um ovo. Acima de tudo essa é uma narrativa sobre família, seja aquela de sangue ou aquela que surge da amizade. A gente vê a importância dos laços que unem as pessoas. Coala nos apresenta personagens que estão preocupados com seus pais e irmãos. Por exemplo, Napinho perdeu seu irmão e ele caiu na cratera onde ficam os raptores. Ao pedir a ajuda de seus iguais, estes dizem não poder ajudar porque ele não será mais capaz de sair de lá. Napinho sabe o perigo do local e que pode não sair vivo de lá. Mas, que seria muito grave abandonar o seu irmão sem sequer tentar ajudá-lo. Ele não se sentiria bem consigo mesmo. E isso fala bastante sobre nossas relações com nossos parentes. Às vezes nos colocamos em situações perigosas porque o nosso laço com essas pessoas é forte. Algo que ultrapassa o contato; às vezes podemos ficar longe de nossos pais e irmãos, mas o amor continua o mesmo.
Horácio continua a ser um personagem inspirador. Acho que Coala conseguiu incorporar bem as ideias de Maurício de Souza, além de colocar as suas próprias em um personagem que não se deixa limitar por leis ou regras. Por todo o quadrinho, os outros dinossauros tentam chamar a atenção do protagonista quanto à lei da selva. Que ele não pode ir contra ela e que apenas os fortes são capazes de sobreviver em um mundo cruel e violento. Horácio mantém suas convicções mesmo diante de várias dificuldades. Ou seja, ele tem a coragem de se manifestar quando os outros estão errados. De assumir sua posição. De ter a ombridade de manter as suas convicções. Em um momento em que somos afogados por desinformação vindo de toda a parte, sermos sinceros com o que acreditamos e mantermos nossas opiniões mesmo diante de uma pressão social, uma história como essas é uma preciosidade.
Outro ponto legal é a discussão sobre liberdade e ver o mundo. Horácio tem uma visão ampla sobre o que ele deseja para si mesmo. Olhar diferentes lugares, respirar novos ares. Quando ele vê uma série de criaturas presas e acomodadas em uma cratera gigante, ele fica incomodado. Porque essas criaturas apenas existem, elas não se desenvolvem. Isso se combina com a defesa de suas convicções porque o personagem não se conforma com o lugar comum. Uma postura questionadora e assertiva que afeta até mesmo suas próprias decisões. A ideia de participar dessa aventura surge do fato de ele desejar mais para si. Alcançar metas que o instiguem e o levem a outros lugares. Se ele só come, dorme e caça, isso não é o suficiente para ele. Deve haver mais em sua existência. Acho bacana essa posição do personagem porque é típico de pessoas criativas. Nunca querer o mesmo, desejar o diferente. Ir para o algo mais.
A relação entre ele, Napinho e o Tecossauro é muito bacana. O Tecossauro é ajudado por Horácio quando ele estava afundando em um pântano. Para Napinho, era absurdo Horácio ajudar alguém que poderia devorá-lo. Isso pouco importou para ele, que preferiu ajudar alguém que estava precisando. Isso demonstra muito do caráter leve e desapegado do personagem. A maneira como ele lida com as situações acaba tocando os outros dois personagens que formam uma bonita amizade. Seja Napinho que se inspira em Horácio para se tornar uma pessoa mais corajosa, seja Tecossauro que compartilha da solidão do protagonista por também não conhecer sua mãe. Vemos que as ações dos dois amigos de Horácio são bastante afetadas por esse momento inicial. Não à toa mais adiante eles tomarão uma atitude corajosa para poder ajudar o amigo.
Essa é uma linda HQ e o Fabio Coala está de parabéns por ter conseguido passar mensagens tão engrandecedoras através de um dos personagens mais carismáticos do universo da Turma da Mônica. O Maurício de Souza acertou em ter autorizado o Coala a escrever uma história do personagem. Vou finalizar com o trecho inicial e final que mostra um menino interessado por dinossauros acompanhando uma arqueóloga. Podemos ver o brilho em seus olhos em ver uma criatura tão majestosa. E o menino compartilha o seu amor por essas criaturas com a pesquisadora. A cena final é linda. Não vou detalhar mais do que isso. Meu encantamento pelo personagem continua firme e forte. E desejo que todos possam aproveitar umas alfaces com o dinossauro mais fofo das HQs.
O Quadrinho em 1 Quadro:
Deixei para falar do trecho da mãe do Horácio no final para destacar a arte do Coala. Colorida, vibrante, é formada de cores fortes que destacam os personagens. É incrível como o emprego adequado de cores consegue provocar sensações ou impressões no leitor. É uma HQ que pode ser destacada pelo seu forte emprego do verde, que invoca não só a criatura do dinossauro, mas ao mesmo tempo representa o sentimento da serenidade. Até mesmo o design do Horácio nos passa essa impressão, com uma cabeça grande e um enorme sorriso no rosto. Os trechos em que vemos o que aconteceu com a mãe do protagonista são todos sem balões de fala, permitindo que os quadros falem por si mesmos. São momentos em que a arte do Coala brilha com momentos dramáticos onde a personagem luta por sua vida. É incrível como ele consegue entregar uma história em paralelo usando uma técnica narrativa diferente da principal. Demonstra versatilidade. Embora use sarjetas pretas, isso não prejudica nem um pouco a compreensão dos quadros. Os personagens são ainda mais expressivos, ajudando na compreensão do enredo desse trechinho.
Ficha Técnica:
Nome: Horácio - Mãe
Autor: Fábio Coala
Editora: Panini
Número de Páginas: 96
Ano de Publicação: 2018
Link de compra:
Comments