Após uma vida marcada por tragédias Hope e Red seguirão suas vidas do jeito de cada um. Hope, sendo uma honrada guerreira vinchen. Red, sendo um ladrão sagaz. Mas, quando o destino dos dois se encontrarem, eles vão tocar muitas vidas e os corações um do outro.
Sinopse:
Em um império fragmentado, circundado por mares selvagens, dois jovens de culturas diferentes se unem por uma causa comum.
Uma menina de 8 anos é a única sobrevivente do massacre de sua vila por biomantes, uma das mais poderosas forças do imperador. Batizada com o nome de seu vilarejo para nunca se esquecer do que perdeu, Bleak Hope é treinada em segredo por um mestre guerreiro para se tornar um instrumento de vingança.
Um estranho garoto de olhos vermelhos fica órfão nas esquálidas e sujas ruas de Nova Laven, mas é adotado pela pior pessoa que o destino poderia lhe apresentar: Sadie Cabra, uma das criminosas mais infames do submundo. Batizado como Red, ele é treinado para ser um exímio atirador de facas – além de ladrão, mentiroso e trapaceiro.
Quando um senhor do crime estabelece um acordo de poder com biomantes para tomar o controle do submundo de Nova Laven em troca da miséria da população, as histórias de Hope e Red finalmente se cruzam. Seja por honra ou vingança, essa improvável aliança os levará para a maior batalha da vida deles.
Jon Skovron marca aqui o início da trilogia Império das Tormentas, uma fantasia embalada por uma espadachim habilidosa, piratas, vigaristas, jogos de poder e revolução.
Criar bons personagens é fundamental para uma boa história. E não digo só se focar nos protagonistas e torná-los interessantes, mas também se debruçar sobre os personagens de apoio. Aqueles que integram a vida dos protagonistas, que fornecem as motivações e objetivos finais. Mostrar por que eles são importantes para a história. Mesmo que eles não levem a história adiante, mas de alguma forma eles servem como base de sustentação dos protagonistas. Império das Tormentas não é apenas a história de Hope e Red, mas o de todos ao seu redor.
A escrita do Skovron é muito boa. Rápida, dinâmica, você devora o livro em alguns dias. A gente quer saber o que vai acontecer a seguir porque tudo é legal. O livro tem uma pegada de Young Adult (YA), mas o autor soube trabalhar bem dentro desse gênero e trazer uma história bem diferente. Não é aquele YA com uma pegada romântica demais, mesmo tendo um romance no ar. É um livro de fantasia com um estilo mais despojado, personagens carismáticos e uma ambientação original. A narrativa é feita em terceira pessoa a partir de três pontos de vista: Hope, Red e mais um que eu não posso comentar. O dinamismo do autor está em saber que palavras encaixar para tornar tudo mais simples para o leitor. Mesmo ele tendo criado toda uma série de palavras específicas e gírias próprias do Círculo, a gente consegue se adaptar bem ao que nos é apresentado. Outro elemento de escrita bem realizado é a boa alternância entre as descrições e os diálogos, já que o livro é escrito em um discurso direto. As descrições não são muito longas e os diálogos são velozes.
"A voz saía em espasmos enquanto ele era dominado pelo choro. Sadie tinha ouvido mais do que o suficiente. Pensou em lhe dar um belo chute na cara. Isso iria fazê-lo se calar. Duvidava de que ele fosse de muita ajuda quando escapasse. Ele nem era um verdadeiro vaga de rua. Era o filho de uma artista, provavelmente mamou na teta até os 5 anos."
Algo que eu achei que os meninos da Arqueiro podiam ter feito é deixado o título original Hope and Red. Eu entendi que se tratou de uma decisão editorial a partir do fato de que os leitores poderiam achar que o livro poderia não ser do gênero fantástico. Mas, Império das Tormentas caberia bem como um subtítulo que não haveria quaisquer problemas. Fora que a capa escolhida pela editora foi muito bem acertada porque passa o que é a ambientação da história. A minha insistência no título se deve ao fato de o autor malandramente ter usado os títulos dos dois primeiros volumes como sendo os nomes dos personagens (ou alcunhas). Não vou falar do segundo volume porque é maldade, mas no caso do primeiro Hope and Red é o nome dos protagonistas. Dá uma baita de uma sonoridade bacana ao título, além de o tradutor ter mantido os nomes dos personagens em inglês (baita escolha acertada). Enfim, foram escolhas editoriais e dá para entender perfeitamente as razões, apesar de eu não concordar (são pontos de vista... nada mais. Não tira o brilho da edição nacional que está linda e da tradução impecável).
Como não falar desses protagonistas sensacionais? Quando o leitor se importa com os personagens, sofre junto com eles, se diverte, torce para os dois é sinal de que o autor acertou a mão em cheio. E a construção desses dois é incrível. Aos pouquinhos Skovron vai apontando as motivações para ambos separadamente e depois junta os dois. A partir daí, você não quer mais que eles se separem porque eles são sensacionais juntos. O curioso é que a química dos dois é muito boa. Me fez lembrar uma antiga série de TV chamada Kung Fu, mas com os papéis trocados. Hope seria o artista marcial perdido em uma grande cidade e Red seria o policial sagaz que conhece tudo das ruas (claro que Red é um ladrão aqui). E as interações dos dois passam a ficar naquele choque de culturas entre aquele que valoriza a honra e a justiça e a necessidade de saber ser esperto nas ruas.
Bleak Hope passou por uma tragédia em sua infância. Sua vida é movida por sua vingança. Ela quer matar o biomante que destruiu sua vila e seus pais. Ela treina como uma guerreira vinchen para isso e consegue os meios para tal. Por conta da tragédia, Hope acaba por se fechar em uma casa impedindo que outras pessoas entrem em seu coração. E mesmo assim aqueles que passam por sua vida acabam deixando uma marca, mesmo eles sendo poucos. Ela sente um medo aterrador de perder aqueles que ama. E esse medo vai nublar muitas das suas decisões além de sua ira devastadora contra aquele que fez de sua vida um inferno. Somente quando ela encontrar uma nova razão de viver do que simplesmente vingar aqueles que morreram é que ela vai entender de fato o que é a felicidade.
Já Red é um menino que teve uma vida difícil ao lado de um pai que precisava se prostituir para sobreviver e de sua mãe que era viciada em coral. Aliás, seus olhos vermelhos vem justamente do fato de sua mãe abusar do uso de coral que é uma droga estimulante. O coral vai acabar por pouco a pouco acabar com a saúde e a sanidade de sua mãe até o momento em que ela acaba por morrer. Seu pai segue a mãe após alguns momentos de profunda tristeza e Red é deixado sozinho no mundo. Para a sorte (ou seria azar?) dele ele encontra com a mulher mais maluca e ardilosa do Círculo, Sadie Cabra. Sadie acaba adotando Red como uma espécie de filho e tenta criá-lo do jeito dela. Red acaba sendo formado nas ruas, que vai lhe ensinar os truques da vida. A gente vê que mesmo dentro daquele jeitão malandro, repleto de bravatas do Red, existe uma boa pessoa que se importa com seus companheiros. Quando o seu destino se encontrar com o de Hope, ele não vai saber o motivo de querer ajudá-la. Diga-se de passagem (e isso não é spoiler nenhum), só achei um pouquinho forçado o insta-love criado nos dois personagens, mas beleza. Podia ter sido feito de outras formas, mas okay.
“Era o primeiro sangue que ela derramava. Tinha esperado sentir alguma coisa. Satisfação. Pesar. Mas só sentia a mesma antiga escuridão. Só que agora isso não a amedrontava. Dava-lhe forças.”
Os demais personagens são incríveis. Não consigo imaginar a história sem eles. Sadie, Urtiga, Rolha, Hurlo, a Velha Yammy, Brackson, todos contribuem para dar toda uma outra camada para a história. Eles preenchem a narrativa com a sua participação tornando a vida dos personagens mais completa. Esses personagens ajudam a tornar os protagonistas mais redondos seja com um conselho, uma rivalidade, uma amizade de longa data, uma relação de companheirismo, alguém que o criou. Do contrário teríamos apenas os dois que mesmo sendo protagonistas fascinantes não tornariam a história memorável. Quantas vezes eu não me diverti com as filosofias de vida da Sadie Cabra? Ou com o jeitão contido de Rolha? Ou mesmo com as artimanhas de Urtiga? O Círculo se torna um lugar repleto de pessoas por causa deles, porque Jon Skovron dá vida a estes personagens.
Skovron foge bem daquele estilo de fantasia tradicional. Ouso dizer até que ele se encaixa perfeitamente bem em um subgênero chamado flintlock fantasy, ou seja, fantasia que se passa em mundos onde a pólvora já foi desenvolvida e faz parte do uso cotidiano. É o que nos vemos aqui. Temos a presença de pistolas, de canhões e de todo o tipo de armas de fogo. Ao lado disso a magia nesse mundo aparece na forma dos biomantes, seres que manipulam o corpo dos seres vivos com apenas um toque. As pessoas podem ser transformadas em seres repulsivos ou ganharem habilidades especiais dependendo do nível de poder do biomante. Ao lado disso tudo temos uma ordem de espadachins que juraram servir ao Império. Como vocês podem ver, Skovron fez uma mescla muito boa de elementos tradicionais ao lado de algo mais moderno criando uma ambientação bacana. E ele consegue explicar isso ao leitor bem harmonicamente. A gente não fica lendo longas explicações sobre as coisas, que a gente chama de info dumping. Tudo tem um propósito.
Fora que eu adorei as passagens dentro de navios. Como eu queria uma história de piratas!! E consegui bem aqui. Dá para perceber que o autor fez uma boa pesquisa sobre navegação porque as passagens são bem descritas e passam uma sensação de realismo. E ele também mostra a navegação sob um ponto de vista comercial, quando Hope entra para uma tripulação de transportadores. Essa pegada de pirataria não é perdida em nenhum momento e veremos isso até no segundo volume já que tivemos alguns desenvolvimentos neste sentido.
Querem um livro de fantasia diferente do que tem nas prateleiras? Esse é o seu livro. Personagens com quem a gente se importa, uma escrita simples e um mundo muito criativo te esperam nessa incrível aventura. Não tem como a gente não se importar com esses personagens. Queremos ver todos eles a seguir, mesmo os vilões. Então, subam no navio, puxem as velas e vamos adiante!!
“A pessoa que você acredita ser é apenas uma parte sua, assim como todas as verdades não passam de verdades parciais.”
Ficha Técnica:
Nome: Império das Tormentas Autor: Jon Skovron Série: Império das Tormentas vol. 1 Editora: Arqueiro Gênero: Fantasia Tradutor: Alves Calado Número de Páginas: 368 Ano de Publicação: 2018
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