Duas mulheres que acabam se envolvendo descobrindo detalhes de um acordo ilícito entre uma corporação e uma seita religiosa. Mas, Vess não saiu de seu planeta natal à toa e acredita na grande verdade enquanto Grix é a capitã de uma nave que mantém seus pés firmes no chão.
Sinopse:
Em um pequeno sistema solar em uma galáxia distante, duas mulheres - uma jovem acólita religiosa e a outra, uma experiente capitã de um nave de carga - descobrem uma conspiração entre os líderes da religião mais dominante e da megacorporação mais poderosa.
Em fuga por medo de represálias de ambos os lados, esta dupla improvável deve decidir onde suas lealdades se encontram - e arriscar levar o mundo rumo à anarquia se eles revelarem a verdade.
Segredos obscuros
G. Willow Wilson pode ser considerada uma autora de mão cheia. Alif, O Invisível foi um romance de estréia que fez muito sucesso e ganhou vários prêmios. Ela acabou migrando para os roteiros de quadrinhos e assumiu o título da Ms Marvel criando uma personagem muito aclamada que é a Kamala Khan. Invisible Kingdom é a sua nova aposta e ela recebeu a benção de uma das editoras mais respeitadas de quadrinhos, a Karen Berger que publicou o título dentro do seu selo na Dark Horse. Quando eu vi o título com o nome da autora e a editora por trás, nem pensei duas vezes. Sabia que era material de qualidade.
A narrativa é vista a partir de dois pontos de vista: da jovem acólita Vess e da capitã Grix. Somos apresentados à Vess logo nas primeiras páginas. Ela é uma rooliana (uma raça alienígena que possui vários gêneros) e decidiu fazer a Renunciação: para entrar no monastério, ela abandona sua sociedade, seus bens materiais e até a sua visão em busca do Reino Invisível. Este seria um reino onde todos estariam livres dos pecados mundanos. É uma ordem muito estrita e para entrar a pessoa precisa vir do seu planeta natal até o monastério com os olhos vendados. O próprio trajeto é uma espécie de rito de iniciação. Já Grix é uma capitã de um navio de carga lidando com todas as adversidades de seus caminhos. Ela conseguiu um bom contrato com a poderosa Corporação Lux e está terminando o seu trabalho. Sua tripulação entende como a mente de sua capitã funciona e todos parecem funcionar de forma eficiente.
Tudo começa quando Grix descobre na lista de mercadorias algumas caixas com conteúdo estranho. Ela se preocupa com isso por causa da entrada na alfândega mais próxima, com o rigor dos fiscais de lá. Quando o conteúdo das caixas não bate com o que foi declarado, Grix procura entender de onde teria vindo toda aquela carga. E se depara com o fato de que esta é proveniente justamente do seu contrato mais lucrativo. Quando Grix percebe que tem algumas naves seguindo a sua, ela deduz que existe alguém mais envolvido e quer chegar ao fundo disso.
No Planeta Duni, Vess termina o seu trajeto até o monastério. Para ela, é um sonho realizado poder estar naquele lugar tão iluminado. Como Vess tem conhecimentos matemáticos, ela é colocada para organizar as finanças do monastério. Durante o seu trabalho ela descobre algumas coisas que não batem. Por exemplo, para uma religião à parte do mundo, ela tem um estranho envolvimento com a Corporação Lux. É uma trama ainda em desenvolvimento do qual tanto Grix como Vess apenas desconfiam que alguma coisa está errada. Manipulação de números, tráfico de influência. É a união de alguém com capital religioso ao lado de alguém com capital político.
Em um âmbito mais profundo, Vess se questiona se aquilo que ela acredita é real ou não. Porque diante de tanta sujeira, o seu conjunto de convicções é testado. Ela mantém sua posição firme a respeito da religião, apesar das críticas feitas por Grix. E ainda mais: Vess deixou de lado o seu papel como rooliana para trás para entrar no monastério. Isso é algo que certamente vai voltar à tona em futuros volumes. Já Grix se vê envolvida em algo maior do que ela pensava. O foco nesse primeiro volume é mais em Vess, mas Grix demonstra um pouco de sua experiência e sagacidade como capitã. Na hora do aperto é nela que a tripulação se apoia.
A arte de Christian Ward é bem colorida, puxando para o azul e o vermelho nas partes de Vess enquanto que as de Grix tendem a ser mais roxas e pretas. É uma palheta que poderia infantilizar demais a arte, mas Ward consegue manter muito bem o equilíbrio, sempre apresentando uma boa combinação nas páginas. Gostei da ambientação também. Ele consegue criar coisas bem inusitadas, como o monastério móvel e a nave em formato de caixão. O artista dá aquele feeling de história espacial suficientemente para comprarmos a ideia. Queria ter visto um pouco mais do que ele pode fazer com cidades, algo muito presente no primeiro capítulo. Tem uma imagem muito legal da Vess andando por um beco que deu um quadro do que é a cidade: de um lado o ritmo cosmopolita de Duni e do outro o ar transcendental das Irmãs da Severidade.
O design de personagens ainda me parece normal. Eu quero ver o Ward abusando dos designs. Isso porque o estilo de arte dele me remete na hora ao que Fiona Staples usa em Saga: o mesmo padrão colorido, uma história espacial, elementos políticos e religiosos. Por essa razão ainda não dá para dizer muito nesse sentido. No mais, Invisible Kingdom é uma ótima pedida para quem quer conhecer algo bem diferentão, naquilo que a autora já apresentou em Ms Marvel. Me deu a curiosidade suficiente para me prender na história e querer ver a continuação.
Ficha Técnica:
Nome: Invisible Kingdom vol. 1
Autora: G. Willow Wilson
Artista: Christian Ward
Editora: Dark Horse Books (Berger Books)
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 136
Ano de Publicação: 2019
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