Resenha: "Invisible Kingdom vol. 2 - Edge of Everything" de G. Willow Wilson e Christian Ward
- Paulo Vinicius
- 28 de abr. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 4 de jun. de 2021
Sem combustível e mantimentos, a capitã Grix vai precisar levar a Sundog para algum lugar antes que eles morram no espaço. E a única saída possível é fazer uma parada forçada em Rool, o planeta de onde Vess veio. E ela não será bem recebida lá.

Sinopse:
O time renegado está sozinho. Uma vez eles foram os peões de uma religião perversa e de uma megacorporação ambiciosa. Depois de revelar o mundo que estes grupos "inimigos" estão conspirando juntos em um esquema de proporções galácticas. E quando a sua tripulação encontra um grupo de piratas do espaço, eles podem não estar tão sozinhos quanto pensavam antes.
Este segundo volume me decepcionou um pouco em relação ao volume passado. Achei que haveria um foco na conspiração que unia religião e a corporação Duni. No entanto, a autora preferiu focar em uma narrativa mais intimista, buscando desenvolver melhor a relação entre Gris e Vess. Nada contra, mas quando a o foco se perde completamente e só é retomado lá no final, isso me preocupa um pouco. Principalmente pelo fato de a série acabar no próximo volume. A gente tem um momento bem legal no quarto capítulo, mas senti falta de um desenvolvimento global melhor. Quase metade da narrativa se passa junto com os Rifters, que são uma espécie de piratas espaciais. Mas, nem tudo é reclamação e temos um bom momento em Rool onde vemos como os nativos lidaram com a fuga de Vess do planeta, principalmente pelo fato de ela ser de um gênero necessário para a procriação (Rool tem 5 gêneros, sendo que somente um deles agrega a possibilidade de gerar descendentes).
Gris e Vess precisam encarar uma encruzilhada em suas vidas. Elas estão diante de um momento onde devem decidir quais os próximos passos a serem tomados. Gris foi responsável por uma revolução ao enviar os dados do conluio entre o Reino Invisível e Duni. Ambos eram considerados inimigos um do outro quando na verdade agiam em conchavo para dominar governos e a economia da galáxia. Gris se tornou a face da revolução. Mas, a capitã só queria salvar a sua tripulação e tocar os seus negócios em paz. Ela acabou sendo levada a uma decisão difícil por conta das circunstâncias. Agora, após ser feita de refém pelos rifters, Gris percebe o quanto sua decisão implicou uma mudança repentina em seus planos. Ela ainda se considera uma mera transportadora de mercadorias. Curiosamente quando o líder dos rifters joga na cara de Gris que ela perdeu a oportunidade de ser alguém diferente ao buscar apenas objetivos egoístas, isso provoca uma reflexão na capitã. Só que a preocupação dela é com sua tripulação e tomar uma medida altruísta pode colocar todos em perigo. A pergunta que fica é: perseguir um motivo maior ou salvar sua própria pele?
Por outro lado Vess perdeu todo o contato consigo mesmo. Ela imaginava estar perseguindo um caminho da transcendência. Depois de se desiludir com o culto do Reino Invisível, ela fugiu para a nave Sundog e partiu a um caminho desconhecido por ela. Quando Vess retorna para Rool ela não é bem recebida pelos seus compatriotas que desprezam a sua escolha religiosa. O fato de ela se ver envolvida com as denúncias de falcatruas do culto a colocaram como alguém procurada por toda a galáxia. E os roolianos são um povo que não desejam se envolver em grandes confusões, preferindo uma espécie de isolamento tácito. Não à toa Duni apenas usa o planeta para explorar matéria-prima comprada a preços módicos e revende produtos industrializados a preços exorbitantes. Rool é extremamente isolacionista e esta atitude faz do planeta desprotegido contra o ataque de piratas espaciais.

Por outro lado Vess tem outro problema: ela se encontra em um momento da vida dos roolianos em que feromônios são liberados de sua pele, deixando-a em um momento de máxima fertilidade. Com isso, uma substância azulada é secretada de sua pele que, ao entrar em contato com outra pessoa, cria uma espécie de conexão com ela. Isso é ainda mais forte se Vess sentir uma atração prévia por ela. E alguns poderes extras surgem dessa conexão. Justamente Gris. A quem Vess tem de fato uma atração. Mas, isso acaba sendo uma experiência estranha para ela, já que essa conexão ocorre normalmente com outros roolianos. Posso deduzir que essa falta de compreensão se dê porque os roolianos são isolacionista e normalmente não tem contato com outras civilizações. Vess está em dúvida se deve permitir ou não essa conexão com Gris. Para evitar ela deveria evitar o contato físico com ela. Mas, a Sundog é tão pequena que se torna impossível ficar longe dela. E, para piorar, Gris não faz ideia do que está acontecendo (mesmo que outros pareçam entender melhor do que ela).
Estar sendo perseguidos por Duni também não ajuda. Quando a Sundog é atacada pelos piratas espaciais existe um medo terrível de parte de toda a tripulação de que eles enxerguem neles os procurados da galáxia. Que a Sundog não é apenas uma nave ferro-velho, mas que sua tripulação é mais valiosa do que parece. Não confiar em ninguém também fornece uma falta de direção para Gris. O que fazer? Quais decisões tomar a seguir? Curiosamente aqueles que parecem ser inimigos vão se provar aliados improváveis e aqueles que seriam aliados vão conspirar pelas costas dos membros da Sundog. Gris vai ter que tomar decisões bem difíceis e algumas delas serão erradas e outras improváveis serão as corretas.
O Quadrinho em 1 Quadro:

Quis trazer uma imagem não-específica da série para mostrar a vocês as escolhas que Christian Ward faz para a composição de cenas. Uma coisa que eu não gosto muito é o design de personagens. Acho que os rostos ficam meio sem definição em alguns momentos. E falta expressividade em outros. Mas, por outro lado o ambiente de fundo é lindo. Ward sabe fazer como ninguém ambientes espaciais criativos. Seja um cinturão de ferro-velho, um planeta diferente ou um terreno completamente alienígena. Rool parece uma floresta alienígena insana com ilhas flutuantes. É muito divertido. Só que é preciso apontar que a ação vai se passar em vários capítulos na nave dos piratas. Achei que nesse momento a arte acabou sendo confinada a um espaço pequeno. As escolhas de enquadramento normalmente variam entre 4 a 8 quadros, mas de vez em quando Ward deixa livre. Gosto quando ele cria ideias como a da imagem acima onde o quadro simula a janela da nave. Notem também o emprego de uma espécie de jogo de câmera com a nave. A gente consegue imaginar os três quadros de cima para baixo como uma coisa sua.


Ficha Técnica:
Nome: Invisible Kingdom vol. 2 - Edge of Everything
Autora: G. Willow Wilson
Artista: Christian Ward
Editora: Berger Books
Número de Páginas: 128
Ano de Publicação: 2020
Outros Volumes:
Link de compra:

Comments