As histórias tomam um desvio para o bizarro nessa edição onde Jimmy Olsen e a gangue precisam lidar com Feioso Mannheim. O Sr. Milagre precisará de todas as suas habilidades para escapar da armadilha mortal do Dr. Bedlam. Os Novos Deuses foram capturados por Desaad e somente o poder de Sonny Sumo poderá ajudá-los.
Sinopse:
O retorno do Guardião! A chegada de um famoso comediante (?!) à batalha pela Terra! A Povo da Eternidade capturado! A morte de um novo deus! A estreia de Sonny Sumô! Momentos consagradores da maior realização nos quadrinhos do Rei Jack Kirby. agora nas bancas pela Panini Comics!
Essa edição é um bichinho complicado de comentar. Isso porque ela é uma edição com alguns números que não envelheceram bem ao longo do tempo. E o Kirby decididamente tem uma mão ruim para comédia. Temos várias histórias que flertam com o nonsense e com piadinhas que deveriam ser engraçadas na época em que foram publicadas, mas hoje só parece piada do Carlos Alberto na praça. Ao mesmo tempo é uma edição bastante importante ao introduzir duas figuras do cânone do Quarto Mundo: Mannheim, um dos cabeças da Intergangue e a Grande Barda, a eterna parceira romântica do Senhor Milagre. Tem também o Sonny Sumo, mas me recuso terminantemente a entender isso como importante. Enfim, é uma edição que parece uma salada mista de histórias com os destaques ficando para os Novos Deuses e para o Senhor Milagre.
A arte dessa edição está bem feitinha e é aquele suco de Jack Kirby que já estamos acostumados. Fiquei pensando em algum destaque e até tem alguns, mas percebi que o autor deu uma pisada no freio aqui. Só para não deixar o espaço sem comentar nada, queria falar da noção de tempo e espaço do autor, algo que nem sempre é comentado. Nesse sentido, ele é parâmetro para qualquer artista que esteja iniciando no mercado. Seus quadros tem uma ótima noção de onde os personagens se situam e quais as suas ações. Isso porque não basta pensar apenas naquele quadro específico mas onde o personagem estará nos próximos. O personagem A faz X e vai parar em Y, e o personagem B reage a A e vai estar em Z. O leitor ao observar a cena consegue entender bem o que está acontecendo e imaginar a cena em sua cabeça. Por essa razão os quadros de Kirby são realmente sequenciais porque a gente os entende como uma grande sequência de ação. Alguns autores tem dificuldade em posicionar espacialmente os seus personagens e o que eles farão nesse espaço de tempo. Principalmente quando começamos a lidar com vários personagens por cena. Ter essa noção espacial exige experiência e por mais que você não consiga atender precisamente a todos os parâmetros da física de movimento, posicionar a câmera no quadro pode ajudar a esconder as falhas. Já vi algumas cenas em quadrinhos das duas grandes nos dias de hoje em que existem falhas sequenciais a todo o momento ou movimentos que seriam impossíveis de serem executados dados a distância ou a posição. Kirby é um mestre em sequenciamento de cenas.
Como na resenha anterior, começo pela história que mais gostei, a dos Novos Deuses. Adoro como o Kirby decide colocar uma cena maravilhosa em sua revista apenas porque sim. As duas primeiras páginas mostram Metron e Esak explorando uma terra pré-histórica em que os homens os estão perseguindo com tacapes. Isso redunda em uma splash page lindíssima com uma perseguição e criaturas enormes com dentes afiados e tacapes. Ver escala, cores, fundo... é um espetáculo à parte. A cena toda é só para que Metron receba uma bronca do Pai Celestial dizendo que um dos Novos Deuses foi morto na Terra. Seagrin foi morto em circunstâncias misteriosas e Órion e seus aliados partem para ir descobrir o que aconteceu com ele. A única coisa que eu não entendi nessa edição foi a participação "especial" do Corredor Negro. Algo que não fez sentido nenhum e não avançou nada na história. E nem foi uma cena legal. Ok, segue o jogo.
Essa foi uma edição focada principalmente nos aliados do Órion. Depois de terem sido resgatados em Apokolips, acabaram ficando meio em segundo plano e me questionava qual seria o papel deles ali. Se eles seriam mais para colocar o Órion mais próximo da humanidade ou se seriam algum tipo de espiões. Alguns deles começaram a se questionar se valia a pena continuar nesse jogo mortal com criaturas além de sua imaginação. Darkseid é um ente universal e seus aliados são capazes das maiores atrocidades. Mas, Kirby usa o roteiro de forma inteligente e enquanto os coloca questionando seus papéis, os faz atuar. Seja a mulher empregando gás do sono nos seguranças do local onde Órion iria invadir ou o senhor fazendo as vezes de representante da "gangue do O'Reilly". Bom uso de personagens que poderiam ser coadjuvantes extremos e nos faz pensar se não vai haver alguma traição ou abandono no meio dessa guerra de atrito entre os Novos Deuses e Darkseid.
Outra boa história dessa edição é a do Senhor Milagre e nela ele se vê precisando encarar algumas tretas de seu passado. O inimigo da vez é o Dr. Bedlam, um ser que não tem forma e precisa de seres conhecidos como os Animados, criaturas que são como tábula rasas e servem para que Bedlam tenha uma presença física. Bedlam é um especialista em manipulação mental e isso pode ser um calcanhar de Aquiles para alguém como Scott Free que precisa ser capturado fisicamente para poder fazer suas fugas espetaculares. Bedlam convida Milagre para um desafio direto: ele vai até o andar mais elevado de um edifício para encarar seu algoz e precisa chegar ao primeiro andar, atravessando o saguão para vencer. Mas, claro que isso não será uma tarefa simples já que Bedlam infecta todos no prédio com a fumaça vinda das pílulas da paranoia.
As tramas que Kirby cria para o Senhor Milagre são muito criativas. Imagina ter que pensar no roteiro para um personagem cujo superpoder é escapar de armadilhas, como Harry Houdini. Como seguir criando fugas mirabolantes para esse cara e continuar mantendo o interesse do leitor? Nessa edição, Kirby vai ter umas explicações meio malucas e tecnológicas, mas mesmo assim ele consegue se sair bem no geral. Um dispositivo narrativo que parece ter se tornado padrão nas histórias é a de Scott Free explicando suas fugas para o Oberon. Essa edição também serve para introduzir a Grande Barda e tivemos mais alguns elementos do passado de Free em Apokolips. Parece que ele era treinado para ser mais um dos acólitos de Darkseid e estava sob a tutela de Vovó Bondade. Existem ainda muitas lacunas e o autor vem preenchendo-as uma por uma. Já dá para perceber que teremos algum tipo de grande revelação nas próximas edições.
Embora não tenha curtido tanto as duas edições de o Povo da Eternidade, preciso admitir que Kirby é muito criativo ao criar cenários bizarros. Esse parque de diversões do terror criado por Desaad tem coisas bem bobas, mas mesmo assim diverte ao nos mostrar como o personagem encara a questão do medo e da maldade. Na edição, os membros do Povo da Eternidade estão presos em armadilhas maléficas as quais eles não são capazes de sair. Desaad quer absorver toda a energia vinda do medo para usar para seus propósitos escusos. Desaad chega até a tentar destruir a caixa materna que acaba indo parar nas mãos de Sonny Sumo, um descendente de grandes guerreiros do passado e que agora usa suas habilidades para ganhar uma grana na indústria cinematográfica. Mas, ele ouvirá o chamado da caixa materna? E como Kirby estava em uma fase meio engraçadinha, ele decide colocar Darkseid junto de dois transeuntes que perguntam se ele está usando alguma fantasia para participar em um filme. Darkseid dá um trocadilho e assusta uma garotinha que sai correndo junto com o seu pai. Esse é o vilão que queremos, não é?
Essa edição de o Povo da Eternidade é meio maçante porque boa parte das duas edições se passa com Desaad descrevendo as maneiras criativas com as quais ele está torturando seus cativos. Com direito inclusive a uma ceninha bizarra da Belos Sonhos em uma lápide de vidro com outras pessoas a cobiçando. Uma paródia cruel da lenda da Branca de Neve. No fundo, Kirby faz uma crítica à sociedade de espetáculo que observa a tudo de forma estática quando situações horríveis podem estar acontecendo. A visão da Belos Sonhos de figuras monstruosas rondando-a é uma metáfora bem interessante aos dias contemporâneos. Sonny Sumo, para a minha infelicidade, vai ter uma participação importante nos próximos números por conta de uma descoberta que eles fazem quase no final deste volume.
A pior história dessa edição é a do Jimmy Olsen. Eles foram capturados na edição passada pelos asseclas de Mannheim e são levados a um esconderijo onde são expostos a um pó que vai causar a morte deles em vinte e quatro horas. Só que no meio de tudo isso temos Goody Rickles, uma paródia de um comediante polêmico da década de 1970 chamado Don Rickles. Imagina um cara gordinho e calvo de meia idade usando uma capa amarela e um uniforme roxo, fazendo piadas bizarras por duas edições. É isso aí. Teoricamente ele deveria ser o alívio cômico da história, mas meu deus... E isso porque preciso destacar a introdução de Mannheim, um vilão que vai ser bastante usado principalmente nas histórias do Superman. O cerne da história é o Guardião saindo em busca da Intergangue para conseguir um antídoto para a condição deles. Clark Kent é enviado em uma nave a uma outra dimensão (aliás, uma linda cena em página dupla do Kirby). Lá temos o encontro do Superman com um dos Novos Deuses, Lightray. Um ponto dessa edição é que começamos a ver cruzamentos entre essas histórias. No todo, é uma edição mediana com algumas histórias de destaque e uma arte que é de outro mundo. No mais, temos algumas boas ideias e um senso de humor discutível da parte do autor.
Ficha Técnica:
Nome: Lendas do Universo DC - Quarto Mundo vol. 3
Autor: Jack Kirby
Arte-Finalista: Vince Coletta
Editora: Panini Comics
Tradutor: Marcelo Galvão
Número de Páginas: 176
Ano de Publicação: 2019
Outros Volumes:
Vol. 1
Vol. 2
Vol. 4
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