Marada é encontrada por um grupo de guerreiros de Ashandriar que a resgata das mãos de um cruel feiticeiro. Mas, ela foi deixada em um estado lastimável e não consegue mais ser a poderosa guerreira de outrora. Como Marada poderá recuperar a sua alcunha de a Mulher Lobo?
Sinopse:
De Chris Claremont, autor best-seller do NY Times, grande arquiteto do mundo mutante da Marvel, responsável pela popularização dos X-Men, e aclamado roteirista de heróis como Wolverine e Quarteto Fantástico, e John Bolton, o celebrado artista de Livros da Magia, Sandman, Morcego Humano e Drácula, chega uma verdadeira obra-prima da fantasia, Marada: a Mulher-Lobo! Marada, a maior guerreira que o Império Romano já conheceu, cuja menção do nome faz até mesmo os homens mais corajosos tremerem, uma mulher capaz de derrubar impérios, jaz alquebrada, derrotada, entregue e indefesa. Quem ou o quê teria sido capaz de dobrar os joelhos da espadachim dos cabelos prateados? Acompanhe os aliados da heroína desvendando as respostas para essa indagação, em meio a uma jornada épica de feitiçaria, barbarismo, guerras e traição.
Tive contato com o trabalho de Chris Claremont na sua fase clássica como roteirista dos X-Men. Responsável por todo o sucesso do grupo de mutantes, Claremont esteve presenta na minha adolescência quando eu comprava avidamente os gibis para saber o que aconteceria a seguir com Ciclope, Wolverine e todos os outros. Mal sabia eu que isso era a ponta do iceberg do trabalho do autor. Quando me deparei com este trabalho lindo, fiquei encantado com o que o autor era capaz de nos apresentar.
Lá vou eu elogiar novamente o trabalho do Pipoca & Nanquim. Uma edição primorosa, como já é costumeiro deles, com um cuidado inacreditável em todos os conceitos. A capa é absurda com uma ilustração do John Bolton da protagonista e os tentáculos de um monstro que ela enfrenta na terceira aventura envernizado. Isso dá um efeito gosmento muito legal. Aliás, é uma clara influência do terror lovecraftiano nos desenhos do Bolton. O título da HQ é em hot stamp dourado que chama a atenção assim que pomos os olhos. A borda das páginas foi feita com uma espécie de poeira de coloração dourada que dá uma riqueza incrível à edição. O tamanho da HQ é grande, quase em tamanho europeu o que ajuda e muito a valorizar o desenho do Bolton. Internamente temos alguns artigos extras como prefácios a edições anteriores e até uma fala do Claremont sobre como foi trabalhar com o Bolton.
A narrativa do Claremont é bem eficiente nos apresentando rapidamente a personagem, suas motivações e o que se sucedeu a ela. Aos poucos o autor vai formando o núcleo ao redor da personagem, mesmo ela sendo uma solitária por natureza. Nesta HQ temos três histórias de Marada cada uma interligada de forma sutil à outra. As histórias são legais e a gente acaba lendo-as de uma só vez, mesmo o Claremont usando uma escrita um tanto verborrágica para os quadrinhos. Não é cansativo até porque as ilustrações do Bolton ajudam a dar um plus à história. Uma pena que a série parou com três histórias porque Marada é uma personagem rica em histórias a serem exploradas.
"Apesar de ser uma princesa de nascença, a neta de César, Marada aprendeu a manejar uma espada tão logo aprendeu a andar, e viveu por ela desde então. Poucos são páreos para sua habilidade e ninguém o é para sua ferocidade."
Já o traço do Bolton é de uma beleza ímpar. Posso imaginar o impacto que o artista teve na época de sua publicação. E ele não esconde a sua inspiração em gênios como Barry Windsor-Smith. É aquele traço limpo que transformou histórias como A Espada Selvagem de Conan em um sucesso absoluto. O cuidado com a modelagem do corpo dos personagens, a influência da magia, do absurdo e do sobrenatural estão ali na nossa cara. Bolton pegou inspirações de vários lugares: no primeiro, temos uma história típica de um gênero de capa e espada com feiticeiros malignos e demônios infernais; na segunda, a presença de uma corte africana; e no terceiro temos uma clara inspiração árabe. Os cenários de fundo também dão uma aparência de amplitude em que tudo parece grandioso. O deserto onde ocorre a caçada mortal é vasto e nos passa uma agonia de que aquele terreno se estende pelo infinito. Outra coisa legal de se observar é que Bolton precisou colorir as duas primeiras edições a pedido da Marvel enquanto que o terceiro já foi pensado para incluir cores. A gente consegue visualizar isso na forma como Marada é desenhada no capítulo 1 e no 3. Percebam as diferenças nos cabelos da personagem e até na fluidez dos movimentos.
Não tem como não comentar sobre a temática do primeiro capítulo. A decisão do Claremont de explorar a temática do estupro e de como ele afeta psicologicamente e emocionalmente uma personagem é elogiável. Claro que vão haver inconsistências e exageros na forma como ele aborda a temática e os leitores mais sensíveis vão perceber isso. Mas, pensem que esse quadrinho foi feita no escopo do gênero capa e espada, que é machista por natureza (ora, basta ler qualquer volume do Conan para se certificar disso). Claremont nos coloca diante de uma mulher forte e magnífica, que foi marcada por um acontecimento terrível que a tornou fragilizada. Ela não deixou de ser uma guerreira, mas sua impotência diante dos atos cruéis que lhe foram feitos a afetaram. Marada sabe que vai viver com essa mácula para sempre, e não é que ela supera o problema, mas ela tenta tocar a vida adiante. A protagonista não permite que o estupro defina quem ela é, mas procura transformar o que lhe aconteceu como uma fornalha para fortalecer a sua decisão sobre o que ela é.
No segundo capítulo temos uma caçada mortal. É engraçado como essa narrativa já foi usada e abusada por vários filmes que vieram antes e depois de Marada. Uma história simples, mas colocada de uma maneira dinâmica pelo autor. Não há grandes firulas de roteiro aqui e a história é o que é e funciona bem. Gostei principalmente do momento da perseguição que fazia o próprio leitor suar diante de uma adversária feroz que estava à espreita. A qualquer minuto uma flecha poderia perfurar o seu coração. E no deserto não há lugares para se esconder. O embate final entre Marada e a candace é sensacional e demonstra o tato que Bolton tinha com combates entre guerreiros.
Não vou comentar sobre o terceiro capítulo de forma a deixar alguma surpresa para os leitores. Só recomendo demais que vocês adquiram esta obra sensacional. Claremont está de parabéns pela coragem de escrever essa história na década de 1980 demonstrando ser um autor de vanguarda diante de tantas outras coisas apresentadas no período. Com a arte deslumbrante de John Bolton, o pacote é completo. E, mais uma vez, o Pipoca & Nanquim arrasa na edição do livro.
Ficha Técnica:
Nome: Marada - A Mulher-Lobo Autor: Chris Claremont Artista: John Bolton Editora: Pipoca & Nanquim (no Brasil) Gênero: Fantasia Tradutor: Bernardo Santana Número de Páginas: 112 Ano de Publicação: 2017
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