Maika Halfblood coloca em ação um plano ousado para saber mais acerca de seu passado. Com inimigos vindo de todos os lados, talvez o maior deles esteja dentro dela mesma.
Sinopse:
HQ mais vendida de 2016, com várias indicações ao prêmio Eisner em 2016 e 2017, monstress com a história de Maika Halfwolf, uma arcãnica mutilada pela guerra, e que esconde um grande poder desconhecido dentro de si. Diante da opressão e do perigo terrível, Maika é caça e caçadora, procurando respostas sobre um passado misterioso. Em agosto de 2017, Monstress ganhou o prêmio Hugo para melhor História Gráfica.
A cada ano que passa algumas HQs se aproximam cada vez mais de histórias dignas de livros. Roteiros cada vez mais complexos, seja na estilística ou no desenvolvimento/encadeamento de palavras. Algumas editoras de HQs como a Image, a Marvel e a DC já perceberam isso e passaram até a contratar autores ficcionais para roteirizar arcos de histórias. Já temos Holly Black, Ta-Nehisi Coates e até o Brandon Sanderson arriscando nesse filão. Mas, Marjorie Liu me surpreendeu demais com Monstress. Esta é uma autora híbrida, que escreve tanto para HQs como para livros. Aqui, temos uma história de uma autora madura, apresentando uma narrativa muito bem elaborada e repleta de elementos vindos da cultura oriental. Fora os traços estonteantes da Sana Takeda que está arrasando.
Gostei demais da escrita da Marjorie. Ela conseguiu criar vozes distintas para vários personagens, fornecendo personalidade a cada um deles. A Maika é uma mulher emocional, levada por seus instintos; Ren é um personagem sarcástico e um tanto covarde; até mesmo o membro da Dusk Court tem uma personalidade mais estoica. Dar vozes aos personagens permite a eles serem distintos entre si e não versões diferentes do mesmo personagem. A narrativa é muito harmônica, tanto que o leitor não sente que a história é longa. Vamos passando as páginas e apreciando a história até o momento em que ela acaba e a gente quer mais. No começo a gente fica perdido na ambientação porque a autora vai apresentando altos conceitos para nós. Os Arcanics, as Cumaean, o Lilium, a guerra entre humanos e arcanics. Mas, pouco a pouco vamos nos familiarizando com o mundo onde a história se passa e tudo fica bem mais claro lá para o capítulo 3 ou 4.
A Sana Takeda está arrasando nos desenhos. Ela pegou a ambientação criativa imaginada pela Liu e elevou à máxima potência. Os traços estão lindos, puxando bastante para uma palheta escura, focada no marrom e no cinza. Mas, a artista não se intimida quando precisa fazer uma splash page (cena de página inteira) ou algo mais colorido (como as cenas que se passam no mundo dos sonhos da Maika onde tudo é dourado). O visual dos personagens é lindo mesmo e percebemos a inspiração que a Sana teve dos mangás japoneses. É uma mescla desses dois tipos de arte e produz um efeito belíssimo. Por exemplo, a Kippa tem todo jeitão daqueles personagens kawaii dos mangás. Por outro lado, a Yvette puxa mais para o padrão comics americano. Os cenários são bem detalhados e encantam os olhos do leitor. Às vezes eu me perdia olhando o fundo da página, fosse o laboratório em Zamora, a tumba do Antigo ou o palácio dos Lordes Arcanistas.
A proposta da autora é bem simples: uma história onde Maika precisa conhecer o seu passado ao mesmo tempo em que tenta caçar algumas pessoas. A personagem desconfia das pessoas devido ao seu tempo como escrava. Mesmo quando ela está em um grupo, demonstra ira e fúria quase o tempo todo. Entretanto, pouco a pouco a companhia de pessoas que acreditam nela vai provocando algum tipo de mudança, Claro que nesse primeiro volume as mudanças são bem sutis. Só uma parte que não toma uma decisão egoísta ou algum momento em que a personagem procura ser menos agressiva. Kippa acaba sendo responsável por boa parte dessas mudanças.
Gostei de como a autora aborda a questão da escravidão. A primeira página da história é Maika nua, sendo vendida em um leilão de escravos onde aqueles que estão dando lances analisam os aspectos corporais da possível escrava. Ao longo da narrativa a autora vai desenvolvendo como a escravidão causou um conflito terrível entre humanos e arcanistas. Algumas cenas são cruéis como os escravos com coleiras, ou a jovem criança dentro de uma espécie de gaiola de pássaros ou até cerca que separa humanos de escravos. A escravidão é retratada pelos desenhos de Sana Takeda de forma crua e direta. Seja nas torturas ou na forma como o arcanista é descartado para ser estudado.
Percebi também uma certa inspiração lovecraftiana tanto no desenho como no roteiro. O elemento do terror é colocado no desconhecido, naquilo que não é possível definir ainda na trama. Seja aquilo que existe dentro da protagonista ou os momentos em que aparecem criaturas realmente bizarras. Gostei dessa pegada diferente, que acaba fazendo a trama adotar um outro tom. Aliás, fica até difícil definir exatamente que estilo de história Monstress é: tem elementos de fantasia, mas o cenário é meio steampunk e inclui momentos de terror.
A construção de mundo é feito de maneira progressiva e achei divertida a forma que a autora encontrou para realizar o info dumping. Ao final de alguns capítulos ela apresenta uma espécie de aulinha onde um gato explica pontos do mundo, sejam os mitos, grandes acontecimentos ou as raças formadoras. Na última página deste primeiro volume tem um mapa bem legal também. Eu fiquei muito curioso para saber o que vai vir no próximo volume porque ela deixou várias questões em aberto.
Monstress é uma HQ digna de um livro de ficção. Mesclando elementos de cultura oriental, steampunk e dark fantasy, Marjorie Liu e Sana Takeda conseguiram criar um clássico instantâneo. Com um roteiro muito competente e desenhos de tirar o fôlego, aconselho todos os fãs de fantasia a darem uma oportunidade à história de Maika Halfblood. Vocês não vão se arrepender.
Ficha Técnica:
Nome: Monstress vol. 1: The Awakening Autora: Marjorie Liu Artista: Sana Takeda Editora: Pixel (no Brasil) Gênero: Fantasia
Tradutor: Não Informado Número de Páginas: 196 Ano de Lançamento: 2018
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