Paulo Vinicius

Resenha: "Na Luz de seus Olhos" de Letícia Werner

Em uma boate no interior do Brasil, Abigail é uma cantora com uma linda voz e um estranho hábito: colecionar olhos. Mas, não é qualquer par de olhos que a agrada. Ela busca por criaturas específicas e seu sonho é sair desse maldito lugar já que as pessoas apenas tomam e não lhe dão nada.

Sinopse:

“Abigail coleciona olhos.”

Muitas paixões estranhas permeiam uma cidadezinha lamacenta do interior brasileiro. A cantora Abigail, capaz de tudo para alcançar as mais refinadas plateias, acaba descobrindo muito sobre tais sentimentos. Até mesmo aqueles que deveriam ser deixados na sombra da mata.

Letícia Werner apresenta figuras do folclore nacional sob uma nova ótica no seu mais novo conto.

Apresentar as motivações que levam personagens a fazerem determinadas coisas pode ser uma tarefa bem complicada. Principalmente se se tratar de uma personagem com papel antagônico ou com ações reprováveis. Mas, Letícia consegue criar uma boa personagem na figura de Abigail em seu conto. Consigo imaginar a personagem como uma femme fatale tupiniquim. Acho até que a autora poderia ter incorporado mais este lado burlesco na formação da personagem. Aos poucos vamos entendendo quem a personagem realmente é e o que a leva a tomar suas ações na narrativa. A gente entende, apesar de não concordar.

Abigail é uma cantora em um bar em algum lugar do interior do Brasil. Imagino que seja algo no sertão do nordeste ou no norte do Brasil. A personagem parece ser uma meio humana, meio outra criatura (não posso comentar sobre... spoiler). Vemos como ela despertou o interesse por colecionar olhos e entendemos o que a leva a fazer isso. É quase como algo compulsivo para ela. A personagem parece estar buscando um tipo de sentimento bem específico que ela não consegue mais obter ao se apresentar no bar. A maneira como a autora emprega o folclore brasileiro ao longo da narrativa é muito inteligente. Sua pegada é sutil e ela não chega a precisar nomear para entendermos o que é determinada criatura.

A escrita da Letícia é bem redondinha. Não identifiquei problemas de revisão (se tem são bem pouquinhos) e a narrativa é dividida em capítulos bem pequenos. Até achei desnecessário dividir tanto assim. A autora poderia ter optado apenas por dividir em subseções que não feriria a harmonia narrativa. O conto é fechado em si só apesar de haver um gancho que possibilita a autora a retornar mais tarde à sua personagem. Eu gostei bastante e espero ler outras coisas da autora no futuro.