Pessoas na aldeia dizem que um urso vive na floresta. Somente crianças conseguem enxergar esse urso. A criança que conseguir passar uma noite com o urso poderá realizar um desejo. O quanto de verdade será que existe nesta história?
Sinopse:
Em meio a um grande suspense, o mangá convida o leitor a uma reflexão sobre as consequências das decisões que são tomadas ao longo da vida. Com seu traço delicado e uma narrativa densa, Natsume Ono leva seus protagonistas a enfrentarem seus medos e temores ao mesmo tempo que surpreende o leitor com uma fábula moderna e introspectiva.
Algumas histórias tem o dom de ecoar em nossos corações. Seja por tratar de um tema impactante, seja por tratar de personagens que nos simpatizamos. Natsume Ono nos presenteia com uma história sobre arrependimentos e fugas, sobre pessoas que vão para a floresta porque é o único lugar que lhes restou.
O roteiro da autora é muito inteligente. Ele nos apresenta uma história em ziguezague, primeiro apresentando o mito da floresta para depois nos apresentar os outros personagens envolvidos na narrativa. O destaque fica pelo pouco uso que ela faz dos diálogos. É um livro com vários trechos marcados apenas por desenhos. Gostar ou não da história vai depender muito do que você, leitor, vai conseguir retirar dos quadros e associar o dito ao não dito. É uma história bem amarradinha e com um final deixado em aberto. A gente sabe o que vai acontecer no final, mas a autora não dá muitos detalhes fazendo com que imaginemos o que pode ter se sucedido em seguida.
Preciso admitir que o traço não é nem um pouco atrativo. A autora usa um estilo bem alternativo como se ela tivesse feito tudo a lápis sem uma arte-finalização. Dá um visual bem rústico ao mangá e em alguns momentos chega a ser esteticamente complicado. Porém, não sei como descrever isso, ela conseguiu me cativar com esse estilo. O visual da floresta é claustrofóbico e assustador, e a gente consegue sentir isso mesmo nesse tipo de traço. Parece até bruxaria; me senti tragado por aquela floresta e seus segredos. A ponte que separa o mundo civilizado do que está oculto no seio da floresta. Ou a cabana isolada onde existe pouco conforto além de uma cama, um criado-mudo e uma série de diários. Agora, o que mais me impressionou foi o urso. Incrível como um ser que não tem uma única fala em toda a narrativa consegue ser o mais expressivo de toda a história. Aquele olhar profundo e penetrante capaz de fazer você revelar todos os seus segredos. A autora desenhou estes momentos em um ângulo que parece que o urso está olhando para fora do mangá. É como se ele estivesse me perguntando o que eu tenho feito de minha vida; quantas vezes eu fugi de uma responsabilidade; quantas vezes eu quis ir a uma floresta e me livrar de tudo.
Os personagens são bem distintos entre si e cada um possui uma fuga propriamente dita. A menina é alguém que está travada entre ser criança e ser adulta. Engraçado como eu achei que fosse um menino até mais ou menos a metade do capítulo 1. Ela se esconde até mesmo de si mesma. Ela deseja buscar o segredo da floresta porque sente que ainda é uma criança. É como se ela não tivesse chegado a um acordo consigo mesmo que precisava mudar para seguir adiante. A gente pode ver que a personagem sabe que é uma adulta desde o começo da história porque se sente deslocada junto às crianças.
No segundo capítulo somos apresentados a um homem que está fugindo de um problema de corrupção política. Ele foge porque não quer ter de assumir a responsabilidade pelos atos que fez. Não sabemos exatamente o que é até mais ou menos o final da história. Mas, o desespero dele é palpável até ele descobrir um urso na floresta. A relação deste homem com o urso é bem diferente porque o animal parece domesticado. A cada olhada do urso para o homem, ele sente que está sendo julgado por ter fugido dos atos que fez. Vamos ver que o homem, assim como a menina do primeiro conto, não consegue entender que precisa parar de fugir e resolver suas questões.
Quantas vezes isso já nos aconteceu? O homem comum tem a tendência a fugir de problemas muito complexos. Ser corajoso não é apanágio de muitos; os verdadeiramente corajosos são aqueles capazes de perceber que é preciso parar de fugir. A fuga é uma espécie de instinto primitivo do homem que sente medo de um predador à espreita. Esse predador não precisa ser algo físico. O medo de ser perseguido pode ser uma fabricação de nossa mente a partir de um problema nosso do cotidiano: uma traição, um amor que pode ou não ser correspondido, maus tratos na escola, um chefe abusivo. Natsume Ono consegue traduzir bem esse sentimento para as páginas do mangá. E torna este um mangá bem curioso de ser lido.
Ficha Técnica:
Nome: Nigeru Otoko - O Homem que Foge Autora: Natsume Ono Editora: JBC Gênero: Drama/Fantasia
Tradutor: Edward Kondo Número de Páginas: 200 Ano de Publicação: 2017
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