Noir Carnavalesco é a mistura de romance policial e criaturas folclóricas brasileiras que a gente precisava.
Sinopse:
Depois que o tecido da realidade se dissipou, abrindo uma brecha para um mundo oculto, os seres folclóricos, antes tidos como apenas ledas, se mostram ser bem reais. Eles estão aqui, entre nós. Curupira motorista de UBER, barba-ruiva sendo eleito deputado estadual, pisadeira massagista e um boto metido a detetive particular: esse é o fantástico mundo novo apresentado em Noir Carnavalesco.
No centro da trama está Bartolomeu Osório, um típico malandro baiano (apesar de não ser da Bahia), que aceita investigar o sumiço de uma adolescente chamada Verônica Marte. Ele logo descobre que o caso é bem mais complicado do que ele imaginava. E, para piorar tudo, a cidade está borbulhando com a promessa da maior festa popular do planeta.
Assassinatos estão acontecendo em plena multidão e pessoas estão desaparecendo. É um clima de festa, e a investigação segue as pistas para punir uma evitável tragédia, não fosse pelas pessoas imbuídas da ganância de poder. Noites de dança, sexo, anarquia, carícias, ameaças, revelações e afogamentos. Vimos acontecer isso em todo tipo de lugar nas séries e filmes. Mas, neste livro, o noir infesta as ruas soteropolitanas em meio a uma fantasia onde criaturas folclóricas convivem no mesmo espectro dos humanos. Noir Carnavalesco mistura elementos de suspense noir e fantasia urbana na capital baiana. O livro foi publicado em 2020 pela editora Pyro e escrito por Ian Fraser.
“A quaresma tá chegando e eu quero mais é celebrar a abundância da carne.”
Bartolomeu Osório é detetive particular em Salvador. Vindo de Manaus, abandonou o passado e as tragédias que provocou, toma pílulas que detém seus impulsos e poder pajelante. Ele é um desses seres que começaram a viver entre os humanos depois de o véu que separava os planos se dissipou. Pisadeira, saci, negrinho do pastoreio, boto, anhanguera. O Brasil até atualizou sua Constituição para inclui-los como cidadãos, algo nada eficiente para impedir o preconceito contra esses seres peculiares, ou de eles pararem de abusar de pessoas inocentes. Entre delegados de humanos e até um departamento especializado em crimes dos chamados divergentes, Bartolomeu Osório segue seu próprio caminho ao investigar o desaparecimento de Verônica Marte, filha do policial Eduardo, cuja resolução pode trazer à tona o pior dos piores às ruas de Salvador.
“— Todo mundo quer dançar com o tinhoso, mas ninguém quer se queimar.”
Narrado pelo protagonista, Bartolomeu exala personalidade em cada linha contada. Sua fala reflete o modo de vida, as gírias aprendidas e o que largou ao se mudar, este último revelado aos poucos, relutante daquilo fazer parte de si. Ou seja, a escrita se mescla ao personagem, indo além de desenvolver o enredo. Não só isso, o livro usa de diferentes diagramações em certas frases para acrescentar contextos além das palavras por si.
Esta investigação da garota desaparecida recheia personagens que fazem parte do folclore brasileiro. Os nomes das criaturas nem sempre são mencionados diretamente, por já serem bem conhecidos até entre os poucos interessados pela nossa cultura, além de reforçar a naturalidade do convívio nesta narrativa. Naturalidade de medo, já que as criaturas nada antropomórficas não conseguem superar o pavor da humanidade hipócrita ao ver algo diferente de homem ou mulher. E muitas delas estão entre os capítulos a acrescentar pistas na trama de suspense deste detetive particular falido buscando estabelecer contatos por meios nada puritanos. Só faltou revisar passagens monótonas do enredo, que volta e meia repetiam ações no lar de Bartolomeu, ou de usar as mesmas frases para diálogos diferentes.
“Essa criatura folclórica chamada justiça, ela não existe.”
Noir Carnavalesco traz algo inacreditável de bom: uma história em um estilo visto tantas vezes ambientados em países estrangeiros, agora contada em um lugar nosso, com elementos de fantasia que só podemos ver através de escritores conterrâneos, porque os outros países desconhecem essa nossa riqueza cultural e se inspiram no fantástico de outro lugares, o que por um lado é bom, abre oportunidade a escritores como o Ian Fraser a valorizar nossas lendas nesta trama original.
Ficha Técnica:
Nome: Noir Carnavalesco
Autor: Ian Fraser
Editora: Pyro
Número de Páginas: 235
Ano de Lançamento: 2021
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