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Foto do escritorPaulo Vinicius

Resenha: "Nova York 2140" de Kim Stanley Robinson

Atualizado: 23 de abr. de 2021

O mago da ficção científica climática é publicado no Brasil depois de muitos anos. E ele nos apresenta uma Nova York afundada onde os moradores do prédio Metlife tentam sobreviver a um novo mundo com velhos problemas.



Sinopse:


A mais terrível previsão de cientistas de todo o mundo se concretiza: o aquecimento global eleva o nível dos oceanos, submergindo a cidade de Nova York. Os habitantes da metrópole, no entanto, conseguem se adaptar, e a Grande Maçã segue tão viva e fervilhante como sempre, ainda que de formas inteiramente distintas das de antes. Cada rua é agora um canal; cada arranha-céu, uma ilha. Por meio dos olhos – e dos destinos – de diversos moradores de um prédio da antiga Madison Square, Kim Stanley Robinson nos mostra como uma das maiores cidades do mundo se transformaria após uma catástrofe climática dessa magnitude, no limite entre a utopia e a distopia. Não seria apenas a cidade a mudar: a humanidade jamais seria a mesma.





Sempre falamos sobre os perigos do aquecimento global e do descongelamento das geleiras. O que estes eventos podem acarretar e como a sociedade pode se desfazer diante de mudanças radicais. Kim Stanley Robinson decidiu pensar além. Digamos que o aquecimento global tenha passado e reformulado a dinâmica econômica global. Somos colocados em uma Nova York submersa, quase uma Veneza da América do Norte. Com problemas sociais resultantes desta mudança súbita, as pessoas agora habitam os grandes arranha-céus que se tornaram praticamente pequenas aldeias habitadas por milhares de pessoas. Passíveis de especulações financeiras e imobiliárias, os moradores do Metlife vivem suas vidas enquanto buscam caminhos para um novo mundo. Só que o surgimento de um comprador desconhecido disposto a oferecer bilhões para adquirir o prédio vai provocar uma série de pequenos acontecimentos.


É fato de que eu sou um fã de carteirinha do Kim Stanley Robinson. O considero uma das mentes mais criativas sobre os rumos do planeta e sobre o meio ambiente em geral. Aqui no Ficções vocês encontram resenhas sobre Aurora, uma história sobre uma nave geracional que está se dirigindo a Tau Ceti para iniciar uma colônia em outro planeta, e Red Mars, a história da colonização e da exploração de Marte. Mas, admito que a escrita do autor pode representar um desafio a leitores menos acostumados com ficção científica. Isso porque Kim Stanley Robinson realiza sempre uma pesquisa profunda em seus livros sobre os temas mais variados. Por exemplo, aqui ele trabalha com os temas da especulação imobiliária, o mercado de ações (e os fundos de investimento futuros) e como o aumento das marés criou toda uma região de desenvolvimento a partir de zonas afetadas pelas ondas do mar (intertidal zones). Pensem em uma Nova York afundada, que não explora mais combustíveis fósseis e precisou arranjar meios para ligar os arranha-céus a partir de pontes aéreas que se cruzam e interconectam. É semelhante ao que Andy Weir fez em Perdido em Marte: uma história que, apesar de conter muita especulação futurista, mantém os pés no chão no que diz respeito a ciência.


"Estamos pagando uma fração do que as coisas realmente custam para serem feitas, mas enquanto isso o planeta e os trabalhadores que fizeram as coisas, levam os custos não pagos na cara."

A narrativa usa a ferramenta dos Pontos de Vista (POVs). Cada personagem tem seu próprio caminho a percorrer na narrativa, que pode ou não se interconectar eventualmente com as dos demais personagens. Se formos pensar a fundo, o próprio Metlife é o protagonista da história com as vidas dos núcleos narrativos acontecendo como satélites orbitando ao seu redor. Alegrias, descobertas, amizades, dramas rondam o prédio com estas histórias se sobrepondo à própria existência do edifício. O final pode ser bem dramático e reflexivo para alguns leitores e demonstrar que algumas histórias podem atravessar gerações. A voz narrativa possui diferentes formatos de acordo com que personagem está direcionando aquele capítulo específico. Franklin Garr possui uma história contada em primeira pessoa, algo que se coaduna com a sua própria personalidade, narcisista e pouco humilde. Mutt e Jeff tem em seus capítulos muitos diálogos, praticamente sem nenhum parágrafo de respiro. Ou um personagem misterioso chamado simplesmente de Um Cidadão, que conta as mudanças sofridas por aquele mundo enquanto tece críticas sobre o passado e o presente. Seus trechos sempre são bastante descritivos, comentando sobre fatos e elucubrações.



Os personagens possuem bons arcos narrativos e tem o seu tempo para brilhar na história. É óbvio que alguns deles terão histórias que serão mais identificáveis para alguns leitores do que para outros. Particularmente eu curti mais as narrativas da Charlotte e dos dois garotos, Stefan e Roberto. Mas, nenhuma delas é chata ou arrastada. Até porque os capítulos são bem curtinhos com no máximo tamanhos entre 12 e 16 páginas. Outro elemento interessante é que existem desenvolvimentos em algumas das histórias que irão interferir no dos outros. Ou até participação de mais de um núcleo narrativo em determinado momento. E nada disso parece forçado. Quando algo precisa acontecer, determinados personagens farão uma participação caso sejam necessários. Sequer é formada uma "panelinha" de personagens, embora alguns se identifiquem mais com outros. Por exemplo, o mesmo Franklin é um personagem que prefere ficar na dele, tendo seus próprios objetivos e interesses. Só que ele acaba sendo acidentalmente envolvido na aventura vivida pelos dois meninos. O autor não deixa furos no enredo, apesar de ele deixar algumas coisas em aberto.


Quero comentar sobre alguns temas como o da proteção das espécies animais em um mundo menor. Amelia é uma espécie de influencer ativista. Ela tem um programa veiculado nas redes sociais onde ela faz lives sobre os animais que ela realoca para outros lugares. Para gerar audiência, Amelia faz loucuras que funcionam como click bait como resgatar pássaros no topo de uma árvore enquanto está nua para gerar mais audiência. Ou brincar com ursos polares em roupas mínimas. Isso gera burburinho ao mesmo tempo em que chama a atenção para os animais que ela procura resgatar. Ela entende que é um sacrifício necessário em prol de um objetivo maior. Mas, quando ela se torna alvo de uma organização formada por extremistas puristas, que entendem que os ecossistemas devem se manter puros e criticando o ato de realocar animais, Amelia terá muitas tristezas e desilusões. Principalmente quando os animais que ela desenvolve uma amizade são mortos por esses extremistas. A reflexão que fica durante a sua narrativa é como proteger espécies em perigo de extinção? Ao colocar esses animais em outros ecossistemas, não estamos bagunçando o equilíbrio ambiental? Devemos ficar parados observando a morte deles?


"Charlotte estava começando a acreditar que a arrogância era uma qualidade não apenas correlata como também uma manifestação da estupidez, um resultado da estupidez.

Outra temática importante é a da especulação de capital. Temos várias discussões bem complexas sobre como o capital se tornou algo flutuante. Franklin debate sobre como o dinheiro se tornou apenas dados sobre uma tela, e não mais algo tão físico. Trilhões são negociados todos os dias e não há liquidez suficiente para que eles funcionem dessa forma. Até mesmo detalhes sobre o crash financeiro de 2008 onde as pessoas pediam empréstimo sem ter como pagar de volta aos bancos bagunçou a vida de centenas de bancos nos EUA que quase quebraram em cascata. Alguns dos questionamentos de Franklin são bem curiosos, como o fato de os governos terem perdido espaço e poder decisório diante do crescimento cada vez maior de empresas e bancos. Uma das grandes confusões ocorridas na narrativa tem a ver com um pequeno vírus introduzido por dois personagens que retirava margens mínimas financeiras de todos os fundos financeiros globais e enviava o que foi retirado a um fundo social. Algumas das discussões vão parecer incompreensíveis, mas sejam pacientes que o objetivo vai ser explicado mais à frente da história.



Já outras histórias terão um fundo mais pessoa como o núcleo formado por Stefan, Roberto e o velho senhor Hexter. Juntos eles estão atrás do tesouro do velho navio Hussar, um grande navio inglês afundado no século XVIII que dizia conter moedas de ouro e ele estaria em algum lugar no Bronx. Uma espécie de lenda urbana que vários mergulhadores já tentaram encontrar ao longo da história, mas nunca conseguiram. Os dois garotos estão ajudando o velho Hexter a encontrar o tesouro. Mas, eles fazem isso sem o treinamento apropriado e usando instrumentos improvisados. Já Hexter é um senhor que mora em uma casa próxima demais da costa afundada da cidade. Os dois garotos são órfãos, não tendo nenhum tipo de guarda legal ou família. O mesmo pode ser dito do senhor que vive em uma casa improvisada. A conexão entre os três é explorada amplamente ao longo da narrativa e a gente começa a entendê-los como um tipo de família improvisada e que cuida um do outro. O carinho que os meninos sentem pelo velho senhor é tocante.


No meio de tudo isso, temos o desaparecimento de Jeff e Mutt, dois especialistas em análise de dados de fundos de investimento que desenvolvem um algoritmo que vai afetar todo o sistema financeiro global. Mas, alguém dá um jeito de sumir com eles e os colocam em algum lugar indefinido. Lá eles passarão por momentos de medo e estranhamento sobre qual será o destino deles. Caberá à inspetora Gen investigar o desaparecimento enquanto vai aos poucos descobrindo que existe mais por trás do sequestro dos dois analistas do que parece em um primeiro momento. Algo que envolve até mesmo o próprio edifício Metlife. Como vocês podem ver, a narrativa é riquíssima tanto em construção de mundo (gente... tem ilhas flutuantes onde pessoas praticam agricultura), desenvolvimento de temáticas sensíveis e personagens carismáticos. Essa é a fórmula de um livro acima da média escrito por um autor experiente, conhecedor daquilo que está apresentando. E que vai fazer você leitor refletir sobre o seu papel em um mundo em uma mudança climática e ambiental em estágio avançado.


"A História é feita pela humanidade tentando se recompor."










Ficha Técnica:


Nome: Nova York 2140

Autor: Kim Stanley Robinson

Editora: Planeta Minotauro

Tradutora: Márcia Blasques

Número de Páginas: 496

Ano de Publicação: 2019


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Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/ https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo, Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom. 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