Essa é uma história de amor que termina mal. Muito mal. A jovem Gertrude se apaixona pelo primo, mesmo contrariando seu pai que deseja um casamento arranjado com um bom partido. O amor de Gertrude lhe promete o mundo, mas depois de uma viagem para a Itália, ele se esquece dela. E isso provoca o fim do amor e da vida da jovem. Só que isso deixará marcas na vida do jovem traidor.

Sinopse:
Um anel com uma serpente de ouro, um abraço gélido e um retorno macabro.
Um jovem artista secretamente pede a mão de Gertrude em casamento e parte para a Itália. No entanto, ele não está disposto a honrar com seu compromisso e terá que lidar com as consequências.
O Abraço Gélido é uma história que desafia os estereótipos de gênero da época ao trazer, ao mesmo tempo, uma mocinha apaixonada e inocente e uma vilã implacável.
Nem sempre as histórias de amor geram belos romances. Às vezes podemos ver boas histórias de terror saindo acidentalmente delas. Mary E. Braddon é conhecida por suas belas histórias repletas de amor terno e algumas pitadas de fantasia. O Abraço Gélido segue uma linha mais sombria onde o afeto se torna sofrimento e no fim gera uma história com um pouco de vingança poética envolvida. É curioso ver isso nesse tipo de histórias porque estamos diante de uma autora que foge ao padrão de personagens femininas virtuosas. Gertrude começa como uma personagem de romances de época, mas a traição de seu amado (que sequer tem um nome) a transforma em uma poderosa força de vingança. Gertrude passa de protagonista da primeira metade do conto à antagonista na segunda metade do conto. Só que eu sequer consigo entendê-la como antagonista, porque ela tem as razões certas e os meios para fazer o transgressor pagar. É uma daquelas histórias que tem um certo nível de moralismo por trás, mas que no fundo há uma razão para tal. Longe de mim dizer que Gertrude deveria ter seguido as vontades de seu pai, mas mais em ter tomado cuidado com o tipo de homem que era seu primo. Quantas dessas histórias ainda ouvimos falar hoje?
Braddon tem uma escrita que é bem típica de romances de época. Que veremos em outras autoras mais famosas da época como Jane Austen. São parágrafos longos e bastante carregados no aspecto descritivo. Se torna fundamental para a autora passar para o leitor como a personagem se sente ou como ela reage a determina sequência de acontecimentos. As descrições corporais (olhos, rosto, cabelos, compleição) são parte importante do método. Alguns desses parágrafos são fluxos de pensamento que visam mostrar ao leitor como a personagem se encontra naquele momento. Os diálogos são escassos e servem mais para detalhar situações que são importantes e significativas para o enredo. Embora eu goste dessa forma econômica e precisa no emprego dos diálogos, os parágrafos longos e/ou redundantes acabam por me incomodar. As descrições dos momentos finais da história me agradaram mais porque exploraram o terror de ser abandonado pela sociedade ou visto como uma pessoa que perdeu suas faculdades mentais.
Daí vocês me perguntam onde se encontra o terror nesta história. Bem, é uma situação bem bizarra. Imagine sentir-se abraçado por uma pessoa morta, cujos braços você enxerga, o anel no dedo você sabe de quem é, e os braços tem uma certa fisicalidade porque você sente o tato deles? Quando o despudorado traidor tenta falar a outras pessoas, ninguém parece ver. Esse contato com sua amada morta acontece o tempo todo e vai tirando a sua vontade de viver pouco a pouco. Ele tenta todas as formas de se livrar disso e não consegue. O terror é agonizante e não sai. Não há meios de se livrar disso. O espírito sabe que está fazendo seu amado pagar pelo crime de abandono. Não é um terror apavorante, mas é daquelas vinganças doces e deliciosas de se acompanhar. Daquelas que despertam um prazer sádico no leitor de ver um canalha sofrendo o que merece. Indico o conto para você que precisa de uma boa leitura no friozinho do inverno. Cuidado com o toque gelado no pescoço... pode não ser o vento batendo na nuca. Principalmente se você traiu uma jovem donzela.

Ficha Técnica:
Nome: O Abraço Gélido
Autora: Mary E. Braddon
Compõe a coleção Sociedade das Relíquias Literárias
Editora: Wish
Tradutora: Camila Fernandes
Número de Páginas: 29
Ano de Publicação: 2022
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