O Caçador é uma reimaginação dos contos de fadas partindo de um personagem pouco explorado nas histórias originais, um caçador com a missão de assassinar a Branca de Neve.
Sinopse:
Uma jornada pelos contos de fadas em busca de si Há muitas eras, em um reino cujo nome ficou esquecido, um caçador recebeu uma estranha ordem de sua rainha: escoltar a princesa até a floresta e ali matá-la, levando o seu coração como prova de que a missão fora cumprida. Todos sabemos o que aconteceu a partir daí. mas apenas no que se refere à princesa. O que teria acontecido com o caçador? O Caçador é o primeiro romance de Ana Lúcia Merege (autora de O Castelo das Águias e curadora das coletâneas Medieval e Duendes) e retorna 25 anos depois de sua primeira edição. Aqui, ela convida o leitor a percorrer uma das possíveis trajetórias do personagem, que passa por mil peripécias a fim de encontrar a sua floresta livre. Assim, ele pesca no rio um par de botas mágicas, presencia o encontro entre a Fera e o pai da Bela, ajuda um príncipe a despertar uma princesa que dorme. até que, finalmente, encontra uma história na qual tem a chance de desempenhar o papel principal. Repleto de aventura e evocando a magia dos contos de fadas, esta é também a viagem de um jovem em busca de sua identidade: uma jornada às vezes dura, às vezes divertida, mas que, mais cedo ou mais tarde, todos nós somos levados a empreender.
Reimaginar contos de fada já é algo comum na hora de formular novas histórias ou em apenas adaptar a novos formatos, não que isso impeça a criação de uma narrativa original. Mesmo respeitando o conto original, é possível enxergar as possibilidades de explorar novas cenas ou pontos de vistas distintos, transformando um personagem secundário em protagonista e provar que as narrativas clássicas podem ir além de príncipes, madrastas e magia. É o que Ana Lúcia Merege fez em O Caçador, primeira história escrita por ela e relançada em 2021 pela editora Draco.
O Caçador recebe a ordem da Rainha: escoltar pela floresta a princesa cuja pele é branca como a neve, e dar um fim nela. Todos conhecem essa história, o Caçador se recusa a matar essa donzela, exceto que depois, este personagem insignificante para a Rainha tem uma jornada além, por ela o considerar um coadjuvante quando na verdade possui sua própria história, encontrando personagens de outros contos icônicos.
A escolha do protagonista foi inteligente. Ao pegar um personagem secundário nos contos de fadas, embora presente em certas situações, a autora ganha a liberdade de o reconstruir com convicções próprias e demonstrar como a vida de cada ser tem o seu valor. Neste caso, o conflito do personagem é encontrar um propósito a seguir, cujos obstáculos surgem como alertas de qual caminho difere do ideal a conquistar sua identidade.
Nesta dificuldade de o protagonista se encontrar entre os contos de fada, o encanto da magia é ofuscado pela realidade de sobreviver sem o dote da realeza e do dilema desta que, embora perigoso, o Caçador não tem nada a resolver, apenas sofrer as consequências causadas por ela, como a madrasta de Branca de Neve o manipulou antes de seguir sua própria trilha. Neste caminho ele se transforma, desenvolvendo-se como um personagem responsável por suas próprias escolhas e a redescoberta de um mundo diferente do lugar habitado por ele antes. A partir disso, a autora consegue traçar um ponto de vista distinto entre os demais contos de fadas que o Caçador chega a explorar.
É possível comparar a narrativa da Ana Lúcia Merege a uma costura. Ela pega aquela peça de roupa desgastada, passada entre gerações e vista por pessoas de todas as idades. Então tece novos fios, aproveita os retalhos e traça novas cores à peça original. O Caçador é esta roupa de contraste colorido e tons neutros da abordagem realista dos contos de fadas, tornando o clássico em algo original.
Ficha Técnica:
Nome: O Caçador
Autora: Ana Lúcia Merege
Editora: Draco
Número de Páginas: 96
Ano de Publicação: 2021
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