Nessa incrível jornada ao contrário, vamos acompanhar a jornada de Benjamin Button, um homem que nasceu velho e tem sua vida acontecendo de trás para frente. Ele viverá momentos incríveis e tristezas insuperáveis. Mas, deixará ele uma marca no mundo?
Sinopse:
Nascer, crescer envelhecer e morrer são etapas de todo destino e só a ficção permite imaginar outros rumos. F.scott Fitzgerald fantasiou a inversão da seta do homem que nasce velho e morre bebê.
Uma epopeia ao contrário
Fitzgerald é um monstro como escritor. Isso é inegável. Quem lê O Grande Gatsby consegue perceber a genialidade na construção frasal, a forma como ele enreda o leitor e até em como ele é sintético em suas ideias. Sintético, porém profundo. Aqui nós temos uma narrativa simples com um elemento fantasioso que serve de fio condutor: um homem que nasce velho e tem seu desenvolvimento ocorrendo ao contrário do natural. A partir desse mote ele vai criar uma narrativa que explora uma sociedade de aparências e um homem tentando viver ao máximo a sua existência.
Observar a escrita de Fitzgerald é sempre um espetáculo à parte. Mesmo com frases curtas e com poucas descrições, ele consegue criar uma narrativa rica em detalhes. História essa que possui várias camadas e pode ser interpretada de múltiplas formas pelos leitores. Sua narração é feita em terceira pessoa e a forma como ele faz isso me lembra uma narração de cinema. Parece realmente uma voz vinda de cima, explicando aos leitores as etapas da vida de Benjamin. Os capítulos são bem curtinhos, permitindo ao leitor terminar rapidamente sua leitura. Entretanto, recomendo a todos lerem uma segunda vez após alguns dias até por conta de algumas ideias que não são nítidas à primeira vista.
A ambientação ocorre no final do século XIX e início do XX se passando em Baltimore, nos EUA. Vemos a sociedade americana da época com sua mania de bailes e de aparências que é um pouco do que vai ser aproveitado por Fitzgerald (muito na vibe que ele usa em O Grande Gatsby). Benjamin chega a participar da Guerra Hispano-Americana, que vai tornar Cuba uma espécie de protetorado americano. Através da visão do personagem vamos ver a banalidade das coisas, como somos julgados pelo nosso exterior e não pelo interior. Em várias ocasiões as pessoas sequer se preocupam em saber quem ou o que é Benjamin. Apenas o julgam como um velho ou como muito novo. Ele vai conseguir se casar apenas por uma semântica e uma preferência. Essa sociedade banal vai afetar as relações que o personagem estabelece com o mundo ao seu redor. Fitzgerald consegue transportar muito bem para nós a angústia que o personagem sente. A vergonha social produzida pelo fato de ele ser velho ou novo; a incapacidade dele de poder tomar suas próprias decisões. Em sua vida ele teve alguns momentos de brilhantismo e que mesmo assim são ofuscados pela forma como ele é tratado.
Tristeza e emoção
Fitzgerald foi um autor que morreu jovem, mas viveu intensamente ao longo de toda a sua vida. Ele transporta isso para a narrativa. Benjamin não é um boêmio inveterado, louco por glórias como Gatsby. Sua maneira de viver intensamente é aproveitar o que a vida lhe oferece ao máximo. Conhecer garotas, entrar na faculdade, ter um trabalho. Tudo o que dignifique a sua existência. Isso para que a sua vida tenha algum impacto. E o que vemos na figura de Benjamin é justamente essa busca: por isso a necessidade de entrar na universidade, de explorar o mundo. Ele é um sujeito inquieto que mesmo com a sua condição e sofrendo preconceito e incompreensão continua seguindo em frente.
Os momentos finais são realmente tristes. Vamos vendo o personagem perdendo suas liberdades pouco a pouco até que ele é apenas um estorvo para seus familiares. É uma relação invertida do que acontece no nosso mundo. Não quero entregar muito para não dar spoiler, mas a maneira como Fitzgerald mexe com a gente através de momentos simples é impressionante.
A história é curtinha, mas muito bem estruturada. Tudo acontece de forma orgânica embora eu reclame um pouco do ritmo acelerado demais. Em alguns momentos os gaps de tempos são grandes. As passagens não são bem demarcadas, ficando a cargo do leitor estabelecê-las. Perceber as diferenças na realidade do personagens, as presenças e as ausências. Porém, o autor consegue demarcar bem as características de cada personagem que passa pela vida de Benjamin, seja seus pais, sua esposa, seus descendentes. Novamente é preciso pontuar que não dá para exigir muito em desenvolvimento de personagens por conta do tamanho da narrativa. Só isso é elogiável e é uma aula para autores atuais que procuram meios de escrever histórias curtas sem perder a qualidade das mesmas. O que cortar, o que editar, o que acrescentar, no que focar.
O Curioso Caso de Benjamin Button é uma história clássica e memorável. Fitzgerald continua a ser um autor sensacional e que vale a pena entendermos a sua escrita e a sua maneira de ver o mundo. Assim como O Grande Gatsby, é uma obra que mostra a hipocrisia dentro da sociedade americana.
Ficha Técnica:
Nome: O Curioso Caso de Benjamin Button
Autor: F. Scott Fitzgerald
Editora: L&PM Editores
Gênero: Drama/Fantasia
Tradutor: Rodrigo Breunig
Número de Páginas: 96
Ano de Publicação: 2016
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