Após receber a visita de um Feiticeiro Principiante, o Homem-Abelha sai em busca de quem ele era antes de ser enfeitiçado.
Sinopse:
Escrito por Frank Richard Stockton e publicado pela primeira vez em 1887, o conto narra a história do Homem-abelha, que vive de forma humilde e contente até que um certo aprendiz de feiticeiro aparece com notícias perturbadoras: o Homem-abelha, diz ele, já foi alguém (ou algo) completamente diferente. Mas quem? Ou o que? Um gigante, um príncipe? Um cachorro ou um dragão? O agora inquieto Homem-abelha parte para descobrir a resposta.
Em uma narrativa que mescla fantasia e filosofia, Frank Richard Stockton nos mostra a jornada do Homem-Abelha. Ele vivia em uma cabana simples na floresta. Humilde, era um homem velho e considerado feio e encarquilhado pelos seus pares. Mas, era feliz ao lado de suas abelhas. Um dia, um Feiticeiro Principiante passa pela cabana e diz a ele que provavelmente ele fora enfeitiçado. Que essa não era sua verdadeira forma. O Homem-Abelha fica estarrecido com a revelação e pergunta ao Feiticeiro Principiante se ele poderia ajudá-lo. Infelizmente, como ele era apenas um aprendiz, ele nada poderia fazer. Mas, se ele descobrisse o que ele era antes de ser o Homem-Abelha, ele poderia pedir a ajuda de feiticeiros mais experientes e transformá-lo de volta naquilo que ele era antes. É então que nosso protagonista sai em busca de sua verdadeira identidade.
Esse conto tem tantas interpretações diferentes que fica até difícil para mim não dar spoilers. Eu vou tentar não ir muito a fundo nos debates e só tocar em dois pontos: a descoberta do eu e o altruísmo intrínseco. Está na cara que essa é uma jornada de auto-descoberta. Mas, ela foge um pouco do que estamos acostumados. Isso porque Stockton faz com que o protagonista usa sua intuição para tentar descobrir o que ele era. É como se ele buscasse uma afinação, algo que lhe dê o estalo em seu cérebro e lhe diga o que ele era na verdade. O conto é uma aula sobre o que é o método empírico. Isso porque o personagem se utiliza do senso comum para resolver os obstáculos que aparecem pelo seu caminho. A descoberta do eu acaba se mesclando com essa metodologia. Só que há uma pequena reviravolta nisso: nós somos uma construção social e emocional feita a partir de uma experiência acumulada ao longo de anos. Ninguém nos transformou no que somos; nós é que nos transformamos.
Stockton também coloca uma situação curiosa. Durante a narrativa o personagem é colocado em uma situação em que ele precisa sacrificar algo precioso a ele. E ele faz isso sem pestanejar. O curioso é que o personagem não sabia que era corajoso, mesmo sendo corajoso. Essa é uma ideia que faz parte das formulações socráticas e é um questionamento e uma provocação: o ser humano é programado para fazer o bem de forma altruísta? Somos heróis por natureza? Na dita situação o personagem acaba deixando de lado algo que fazia parte dele, apenas para salvar alguém que lhe era desconhecido. Por que ele faz isso? Falo dessa questão em um momento que vivemos um mundo sombrio onde a sociedade tornou as pessoas individualistas demais. Onde a noção de heroísmo se perdeu em gradações de utilitarismo. Pensamos de forma material e não mais altruisticamente. Não sei se Stockton ou Sócrates formulariam o mesmo pensamento nos dias de hoje. É algo a se pensar.
A estrutura da narrativa segue o modelo dos contos de fadas. A tradução está muito boa e facilita a leitura. O padrão da história é aquele mesmo: são colocados três obstáculos que o protagonista precisa superar e ao final nós temos a mensagem que o autor deseja passar. Simples, mas com uma carga de mensagens impressionante.
Ficha Técnica:
Nome: O Homem-Abelha de Orn
Autor: Frank Richard Stockton
Editora: Wish
Tradutora: Cláudia Mello Belhassof
Número de Páginas: 55
Publicado originalmente em 1887
Avaliação:
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