Depois dos acontecimentos da edição passada, o Hulk é confrontado com alguns de seus demônios. Conhecemos também aquele que guarda a porta verde. E o que é o Hulk: um monstro um salvador ou alguma outra coisa?
Sinopse:
A Porta Verde está completamente escancarada, e o Inferno veio à tona no Novo México! Agora, seu diabólico soberano veio fazer sua coleta. Ele sussurra por muitas bocas. Destrói com muitas mãos. Sua única arma é o ódio. Ele veste almas humanas como máscaras para impor sua vontade. Porém, no mais profundo Inferno, abaixo de todos os outros, todas as máscaras caem, e "Aquele que está abaixo de tudo" é finalmente revelado! Bruce Banner lhe pertence, mas o Hulk... nem mesmo o Inferno é capaz de deter sua fúria. E, no mundo da superfície, dois velhos conhecidos ressurgem: Betty Banner e Leonard Samson!
SPOILERS DAS EDIÇÕES ANTERIORES
Essa é uma edição bem interessante por fazer alguns acréscimos à mitologia do Hulk além de seguir a história adiante. Começamos com o Hulk e outros personagens que estavam com ele na edição anterior em um ambiente hostil com céu avermelhado e uma porta verde brilhante ao fundo. Logo descobrimos se tratar do inferno e durante o combate com o Homem-Absorvente e na consequente explosão gama, o Hulk parece ter sido separado de Bruce Banner que se encontra nas mãos de um indivíduo estranho. Para poder sair desse lugar, eles precisarão unir o monstro ao seu alter ego. Nessa edição temos o retorno de Betty Ross que já vimos que está desesperada atrás de notícias de Bruce Banner e o ressurgimento de um velho conhecido do Hulk: o dr. Leonard Samson. No meio de todo esse furacão de introduções e revelações, o general Fortean se aproxima perigosamente do Hulk e deseja destruí-lo de uma vez por todas e não se importa com que tipo de meios ele irá empregar.
Vou começar falando da arte... e eu sei que existem polêmicas acerca do Joe Bennett. Também sou um dos críticos, mas não posso fazer o trabalho incrível do Al Ewing nessa série ser sobrepujado por alguém que fez declarações bestas.
Sobre a arte em si, temos dois artistas atuando: Joe Bennett na história principal e Kyle Hotz que assume uma edição, a número 9, que constitui a quarta história deste encadernado. É preciso sublinhar que a arte do Bennett está no seu auge. Não precisamos nem avançar muito no encadernado para isso. Logo na primeira edição, Bennett constrói alguns cenários assustadores no inferno e não se arroga de usar quadros amplos e splash pages para isso. Gosto de como ele abraçou a ideia de construir um local de aspecto primal onde ele pode abusar de detalhes e construir um fundo que não precisa ser plano ou linear. Ele pode abusar de formas não-geométricas, ângulos de câmera invertidos, lugares ora arruinados, ora desolados. Tem um momento na primeira edição em que o Hulk perde o controle e Bennett constrói uns quadros virados para o lado que são muito legais. Nas duas primeiras edições, tem umas vinhetas com citações sobre quem é o Hulk e o que ele representa e a arte é em preto e branco. Essas vinhetas foram feitas por Eric Nguyen e representam metáforas sobre o personagens e momentos de sua vida.
Aliás, fica uma crítica para a Panini que apenas coloca quem são os desenhistas e coloristas sem indicar em que edição eles trabalharam. Se vão creditar o trabalho do artista, façam o negócio direito. Do jeito que ficou, foi algo preguiçoso.
Kyle Hotz pega uma história bem particular que é a do reencontro entre Betty e Bruce após os acontecimentos de Guerra Civil II. Não se preocupem porque o roteiro do Ewing situa bem o leitor contando que o Hulk foi dominado por alguma força sombria e acabou por se sacrificar. Já volto neste tema. A arte do Hotz tem uma clara inspiração na do artista brasileira Mike Deodato. O emprego dos famosos grids de arte, com sarjetas bem estreitas entre os quadros. Cada grid forma uma cena fechada ou algum truque de câmera (pode ser um close ou um plongé). A forma dos personagens tende a puxar mais para o realista, embora ela fique bem caricata ou estranha em algumas cenas. Tem um close tenebroso no rosto da Betty que não ficou nem um pouco legal. É uma edição repleta do uso de cores frias, o que remete a um clima triste e melancólico por trás desse reencontro. Não sei se jogo o mérito da escolha da palheta nessa edição específica para o colorista, Paul Mounts, ou para uma determinação do Hotz. Digo isso porque é uma edição bem específica mesmo já que Mounts usa cores bem mais brilhantes em outras edições.
O roteiro do Al Ewing tenta criar uma explicação mitológica para a figura do Hulk. Ele vai buscar em textos religiosos o significado do bem e do mal e a lenda da árvore da vida. Ao longo da primeira edição, Ewing constrói uma ideia de personas que fazem parte do inconsciente de Bruce, algo que já havia sido explorado por autores como Peter David em outros momentos. Seja o Hulk cinza, o demoníaco ou o primitivo, todos são facetas de um homem que desde a infância precisa lidar com traumas. Nessa nova (ou não tão nova assim) abordagem sobre o personagem, o Hulk é uma força que pode ser tanto destrutiva como criativa. Depende do seu alter ego e qual a finalidade que ele dará a seus poderes. Tem um momento ótimo da primeira edição também onde todos do grupo do Hulk observam uma imensa nuvem verde ameaçadora que promete ser um inimigo poderoso. E aí um deles se questiona sobre a passagem deste ser para o mundo material e a capacidade dele de destruir inocentes. O Hulk se volta e, com um sorriso ameaçador, proclama que eles deveriam ter mais medo dele do que da estranha criatura, já que ele tem maior capacidade de destruir o mundo.
Além de Betty e Samson, outra figura que retorna é a do pai do Bruce. Já que estamos buscando compreender a personalidade do monstro e de seu alter ego, Richard Banner é tão importante quanto. Em alguns flashbacks pontuais, vemos o quanto a relação entre Bruce, seu pai e sua mãe foi marcada pela violência. Um lar virulento e tóxico onde a personalidade do Hulk se forma na mente do Bruce Banner que precisa lidar de alguma forma com as frustrações surgidas a partir das pequenas violências do cotidiano. Só que surge um adicional porque é mostrado que Richard fazia pesquisas sobre um terceiro tipo de energia existente no universo que fosse diferente da plana e da em ondas. E essa energia teria algum tipo de vínculo com a radiação gama. O que Ewing faz é entender a relação do gama a partir de uma abordagem científica/mística ao mesmo tempo. Vamos ver aonde isso vai dar. Por ora, gera a curiosidade.
Como já mencionei, temos o reencontro entre Betty e Bruce. Aqui vale destacar o quanto Ewing amadurece a relação dos dois. Seria simples só demarcar que os dois se amam e o que ficou para trás, ficou para trás. Mas, não é bem por aí que as coisas são. Betty ama o Bruce, mas ela se ressente muito do fato de ele ter tirado a própria vida. Algo que violou a confiança que ela tinha nele, a partir do momento em que sua vida atinge um estado tão insuportável que não vale mais vivê-la. Ou seja, é como se Bruce estivesse negando a importância do amor da Betty por ele. Os poucos diálogos que eles tem ao se reencontrarem demonstram essa contradição entre desejar estar com o outro e a pura fúria de que seu parceiro a deixou para trás. Claro, existe ainda toda a questão de que Bruce tomou os poderes daqueles que dependiam da radiação gama, e Ewing até joga isso na mesa, mas não creio que seja essa a principal motivação da personagem. Curioso também é o quanto o Hulk atual pouco se importa com a Betty. Quando acontece uma situação com ela, ele simplesmente dá de ombros e segue em frente. Por mais que ele suspeite que ela esteja bem, sequer dar cinco segundos para descobrir o que aconteceu? Isso vai dar problemas com o Bruce.
E aí temos o retorno do dr. Samson. Temos todo o background por trás do renascimento do personagem e parece que tem algo a ver com a porta verde, mas nem dá para entrar em muitos detalhes porque só temos um combate rápido entre eles e uma troca de palavras para lá e para cá. Esta terceira edição é fenomenal em apresentar as ideias que o autor deseja para ele. É notável que Ewing vá buscar na essência da relação entre dr. Jekyll e Mr. Hyde as inspirações para a sua criação. Não no simples o médico e o monstro, mas na psiquê, nas metáforas, nas lendas religiosas. É uma edição bastante redondinha.
Ficha Técnica:
Nome: O Imortal Hulk vol. 3 - Hulk no inferno
Autor: Al Ewing
Desenhistas: Joe Bennett, Kyle Hotz, Eric Nguyen
Colorista: Paul Mounts
Editora: Panini Comics
Tradutor: Leo "Kitsune" Camargo
Número de Páginas: 120
Ano de Publicação: 2020
Outros Volumes:
Vol. 4
Vol. 5
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