Depois dos acontecimentos bombásticos do primeiro volume, Essun tenta colocar sua vida nos eixos enquanto ficamos sabendo o que aconteceu com Nassun e Jija.
Sinopse:
O fim se torna mais escuro enquanto a civilização desvanece na noite longa e fria. Alabaster Tenring – louco, destruidor, salvador – voltou com uma missão: treinar sua sucessora, Essun, e com isso selar o destino da Quietude para sempre.
É impressionante a capacidade que N.K. Jemisin tem de sempre tirar um coelho da cartola na hora de escrever um romance. Por mais normal que possa parecer uma narrativa, vai ter algum elemento diferente ou exótico na escrita da trama. Em The Obelisk Gate ela usa o espaço para amadurecer sua protagonista e para nos colocar diante de um conflito iminente que pode vir a acontecer no terceiro livro. Ao mesmo tempo ela consegue nos entregar uma história que ganha contornos sensacionais. Mais um livro que entrou na galeria das minhas melhores leituras deste ano. Só não foi mais perfeito porque ele acabou e agora só tem mais um livro.
A escrita da autora continua muito acima da média. Ela consegue entregar uma narrativa que é ao mesmo tempo precisa, emocional e ampla. Precisa porque as palavras são bem encadeadas, fornecendo ritmo e cadência à trama. O leitor não sente o peso das palavras; elas fluem com facilidade. Emocional porque cada capítulo é carregado nas emoções. Sentimos solidão, tristeza, amargura, inveja e raiva junto com as personagens. A autora nos carrega junto em sua narrativa. Ampla porque mesmo a escrita sendo centrada em duas personagens estando em dois lugares específicos, tudo escalou. O que está em jogo deixou de ser apenas o drama de Essun e agora de Nassun. Passou a envolver toda a Quietude.
“É surpreendente como a sensação é revigorante. Ser julgada pelo que faz, não pelo que é.”
E a Jemisin apronta mais uma com seus truques de escrita. Se no primeiro ela brincou com as três pessoas do discurso e nos apresentou três personagens que convergem para algo, agora ela brinca com quem está te contando a história. Essa brincadeira acaba encaminhando o leitor para as conclusões erradas. Quando descobrimos quem está realmente narrando a história, muitas coisas começam a fazer sentido. Além disso, a autora revela mais do que parece na narrativa.
A série adota um tom maior de ficção científica. Alguns detalhes começam a fazer com que a gente coloque a narrativa nesse lado. E o mais legal é o quanto a Jemisin mescla muito bem os dois gêneros. Ou seja, ela sequer se importa de onde ela está situando sua narrativa. Vemos a palavra magia sendo usada pela primeira vez em toda a narrativa. Magia é uma quebra das regras do mundo. Nada como colocar a magia como algo que dobra as regras que ela mesma havia criado anteriormente. Não quer dizer que as personagens vão usar suas habilidades sem acontecer alguma coisa a elas. Nesse mundo, tudo é muito limitado. Quanto maior a habilidade, maior o preço a ser pago pelo seu uso. Ao mesmo tempo, existem elementos tecnológicos capazes de aumentar a precisão das habilidades e até discussões sobre satélites. E finalmente começamos a entender porque existe a Quinta Estação.
Temos dois grandes temas permeando a narrativa seguindo o caminho das duas personagens. De um lado temos Essun tentando encontrar o seu lugar no mundo. Inicialmente sua jornada era em busca de sua filha Nassun e de se vingar de seu marido Jija. Mas, diante das necessidades da população de Castrima e ela percebendo que seus poderes poderiam servir a uma causa maior, tudo muda. Ver a transformação de Essun ao longo da narrativa é sensacional. A personagem amadurece demais e no final da trama a gente está torcendo por ela. Algumas frases de efeito dela são sensacionais.
"Nada de votos. [...] Se vocês quiserem ser escravizados, saiam da comunidade. Se não, irão lutar até a morte ou eu mesmo irei matar todos vocês."
Os trechos de Nassun são para entendermos o que aconteceu com a personagem depois que ela foi levada por Jija de Tirimo. Vemos como ela interpretou toda a situação que se sucedeu com ela e qual era a sua relação com Essun. É bastante curioso como os acontecimentos são ressignificados de acordo com o ponto de vista. Nassun acaba precisando lidar com uma pessoa completamente instável a seu lado e acaba precisando encontrar em um personagem completamente inusitado uma figura paterna. Mesmo com dez anos, Nassun vê o lado ruim das pessoas da mesma forma que Damaya sofre no primeiro livro. Mas, a maneira como ela reage a essas situações é bem diferente. Se apegar a alguém, mesmo que em uma relação abusiva, se torna uma válvula de escape para tudo aquilo que está acontecendo.
Alguns capítulos são dedicados também a Schaffa, o Guardião de Syenite. Vemos o que aconteceu depois da tragédia em Meov e como a personalidade de Schaffa acaba se alterando. Este ponto de vista serve para nos mostrar um pouco mais sobre o universo dos Guardiões e até a organização política do mundo. Algumas das desconfianças que tínhamos no primeiro volume se confirmam aqui. Ao lado de algumas explicações dadas pelos comedores de pedra, acabamos por construir um modelo sobre como o mundo funciona. Algumas questões ficaram para serem respondidas no terceiro volume.
Outro tema forte presente em The Obelisk Gate é a irresponsabilidade do homem na descoberta de novas tecnologias. Não paramos para pensar qual é o efeito que um avanço vai ter no equilíbrio ecológico do planeta. O que aconteceu na Quietude é justamente a falta de responsabilidade. E a autora é inteligente ao não dar tantas pistas sobre o que aconteceu, primeiro colocando os acontecimentos em uma temporalidade distante demais para ser recordada precisamente e em segundo sendo contada por um narrador não-confiável. Como confiar em alguém que possui sua própria agenda? E, mais uma vez os efeitos geológicos no habitat da Quietude interferem na forma como os povoados se desenvolvem. Inclusive a batalha que acontece no final se dá por causa de uma tática de sufocamento por parte dos agressores.
The Obelisk Gate é uma continuação explosiva do primeiro volume. Aprofundando mais os personagens e apresentando mais mistérios, Jemisin consegue escalar os perigos. Consegue construir uma narrativa que é emocional ao mesmo tempo em que repleta de temas ligados à preservação do meio ambiente.
Ficha Técnica:
Nome: O Portão do Obelisco Autora: N.K. Jemisin Série: A Terra Partida vol. 2 Editora: Morro Branco Gênero: Fantasia/Ficção Científica Tradutora: Aline Storto Pereira Número de Páginas: 528 Ano de Publicação: 2018
Outros Volumes:
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*Material enviado em parceria com a Editora Morro Branco
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