Depois da morte do Senhor Soberano, Vin e Elend precisam restaurar os pedaços que restaram da cidade de Luthadel. Mas, Straff, o pai de Elend posta o seu exército às portas da idade com a ambição de se tornar o próximo governante. Enquanto isso, Sazed vai à fortaleza dos Inquisidores do Aço e a encontra completamente vazia.
Sinopse:
Numa sucessão de golpes de sorte, Elend Venture subiu ao trono de Luthadel, a principal cidade do Império Final. Nos meses que seguiram a queda do Senhor Soberano e a dissolução de seu governo, o novo rei revolucionou as relações entre os skaa a classe social inferior e os nobres e atraiu a atenção dos diversos governantes das outras partes do grande império. Dentro das muralhas de Luthadel, o perigo espreita de todos os lados. Assassinos de aluguel alomânticos ameaçam a vida do rei, a desconfiança generalizada faz a população temer pelos rumos da cidade e desejar o retorno do Senhor Soberano, e um inverno inclemente se aproxima. Elend, Vin e o bando de Kelsier tentam a todo o custo manter o controle, mas os piores inimigos ainda estão por vir. Fora das muralhas, arma-se um cerco militar gigantesco. À frente dele, Straff Venture, o pai de Elend, um tirano cruel e desesperado pelo poder, busca invadir Luthadel. Mas ele não está sozinho. Reviravoltas e surpresas marcam este segundo volume da trilogia Mistborn. O destino de todo o Império Final está envolto nas brumas, e apenas uma força sobrenatural será capaz de desvendar os mistérios que assolam seus habitantes. Sobre o autor: BRANDON SANDERSON nasceu em 1975, em Nebraska, EUA. Vive em Utah com a esposa e os filhos e trabalha como professor de escrita criativa na Universidade de Brigham Young. Sanderson, o mais novo mestre da fantasia, autor do aclamado Elantris, se atreve a desafiar seus leitores com uma pergunta simples: o que acontece se o herói da profecia falhar? Que tipo de mundo surge quando o Senhor das Trevas está no comando? A resposta encontra-se na trilogia Mistborn Nascidos das Brumas, uma saga surpreendente, repleta de ação e magia. Este é o segundo livro da trilogia que começa com Mistborn: O Império Final, também publicado pela LeYa.
Depois da morte do Senhor Soberano, Elend e Vin precisam lidar com uma Luthadel destroçada e sem o seu deus. Os skaa agora são livres e fazem parte de uma nova sociedade que talvez não os compreende inteiramente. O vácuo de poder eleva Elend a rei de Luthadel, mas um idealista como Elend estará preparado para enfrentar os desafios de ser o líder que a cidade precisa? Vin foi a responsável pela morte do Senhor Soberano, mas parece que ninguém acredita que uma garota franzina como ela tenha sido a responsável. Ou seja, a morte do antigo deus está envolta em uma lenda urbana. Além disso, Vin sentiu mais a morte de Kelsier do que todos os outros. Nesse novo mundo, ela precisa descobrir quem ela verdadeiramente é: uma assassina, uma ladra, uma nobre. Em outra parte dos domínios, Sazed tenta levar o conhecimento dos terrisanos e difundi-los para a população skaa do interior. Só que um acontecimento estranho em uma vila e o aparecimento súbito de Marsh o levarão a um mistério que envolve o próprio Herói das Eras. E em Luthadel, as brumas começam a tomar forma. Que estranha ameaça foi solta após a morte do Senhor Soberano?
Esse é um bom segundo volume. Melhor do que o primeiro, na minha opinião. O autor me parece mais à vontade com suas criações, e já não precisa explicar tanto de seu mundo para os leitores. É uma narrativa mais política do que o primeiro porque envolve Elend precisando se embrenhar nas políticas de corte. Toda a primeira metade desse segundo volume envolve mistérios e enigmas fazendo com que a história seja mais lenta para se desenvolver. A mim me agradou porque o primeiro volume era tão veloz que parecia superficial demais. Há mais tempo para explorar as motivações dos personagens e com menos bolas para equilibrar, Sanderson acha a receita mais adequada. No primeiro volume, ele se focava no grupo de Kelsier como um todo e ainda jogava Vin, Sazed, Marsh e o Senhor Soberano no meio, o que provocava ruído demais. Aqui ele tem três ou quatro pontos de vista, apesar de mais à frente ele acrescentar mais. Existe bastante construção de mundo, mas não chega aos pés dos momentos excessivos anteriores. O autor espalha mais as informações e nos diz o que precisamos saber.
"Com todas as atividades ao redor do certo e seus estudos sobre as Profundezas, no entanto, ela não teve chance de testar os amigos. Enquanto pensava nisso, admitiu que a desculpa da falta de tempo era fraca. A verdade era que provavelmente estava se distraindo porque a ideia de que um da equipe - um do seu primeiro grupo de amigos - fosse um traidor era simplesmente triste demais."
Uma peculiaridade nesse volume que ficou mais perceptível é a descrição precisa do que está acontecendo. Não há tanta margem para imaginar. Ao te oferecer exatamente o que os personagens estão fazendo, Sanderson te dá uma visão da cena como um todo, inclusive os lugares, humores e coisas presentes em um ambiente. Algo parecido com o que Stephen King faz em seus romances de terror. Acho interessante a escolha, mas não gosto por inteiro dela. Costumo pensar na leitura como um exercício lúdico de imaginação onde o leitor participa da construção da história. E Sanderson te dá a história inteiramente pronta, não tendo espaço para especulação. Alguns leitores preferem essa precisão na escrita e gostar ou não é mais uma questão subjetiva, variando de como nos relacionamos com o que lemos. Por outro lado, esta precisão permite ao autor guiar a história pelo curso que ele imaginou, sem improvisos. O planejamento é importante para Sanderson e cada situação é pensada dentro de um escopo maior. Nada é por acaso.
O ponto alto da construção de mundo (e o que Sanderson é famoso por) é o sistema de magias. Aqui temos alguns acréscimos importantes, mas vale imaginarmos como ele enxerga aquilo que cria. Em suas aulas, Sanderson apresenta a importância da criação de um sistema fantástico (magia ou tecnologia) que faça sentido para o leitor. O momento inicial é onde as bases são construídas oferecendo regras e a física da coisa. Em um segundo momento, o criador deve construir em cima de suas bases, acrescentando exceções (como as Leis da Robótica, de Isaac Asimov) ou inserindo um novo elemento. Não vou dar muitos detalhes, mas inicialmente Sanderson desenvolve com mais profundidade os conceitos da Alomancia. Entendíamos os alomânticos como um coletivo homogêneo, mas aqui neste segundo volume temos um pouco mais de individuação. Usando um personagem que não vai oferecer spoilers, Brisa é um abrandador, usando seu metal para manipular as emoções das pessoas. Só que vemos aqui que ele está o tempo todo abrandando e o faz de uma maneira quase imperceptível mesmo aos olhos de brumosos. Sua natureza é abrandar e ele tem um controle mais fino do que outros abrandadores. Já Vin consegue usar o cobre de uma forma mais precisa e profunda, como uma agulha perfurando uma névoa. Neste segundo volume, Sanderson desenvolve mais também a feruquimia, nos apresentando os conceitos deste estilo e como um feruquimista se comporta.
Não parece mas este é um volume bastante movimentado. Elend construiu uma Assembleia formada pelos nobres que permaneceram na cidade após a queda do Senhor Soberano. E este coletivo de nobres vai se revelar um desafio para ele. Elend é um idealista que acredita na igualdade e na reformulação da sociedade, mas ele vai esbarrar na vontade de manter o status quo daqueles que podem oferecer a ele a solidez necessária para governar. A chegada do exército de seu pai, Sraff Venture, coloca a cidade em risco, visto que ele quer tomar posse de Luthadel e de suas reservas de atium. No primeiro volume, Elend se rebelou contra seu pai, mas se tratou de algo quase adolescente, em que tudo o que o garoto pensava era em salvar a mulher que ama, Vin. Agora a situação é diferente e o destino dos habitantes da cidade está em suas mãos. E Elend vai entender rapidamente que para que ele possa conseguir continuar reinando, ele precisará sacrificar parte dele mesmo que o torna esse idealista. Resta saber o quanto ele conseguirá conviver consigo mesmo e o quanto restará do amor de Vin ao final dessa jornada pedregosa.
"Elend olhou intensamente para o poço. O fosso escuro, com a entrada alargada para acomodar as idas e vindas de numerosos skaa, parecia uma grande boca se abrindo, lábios de pedra estendidos e preparando-se para engoli-lo. Elend olhou para o lado, onde Ham estava em pé falando com um grupo de curandeiros."
Se os problemas de Elend são de natureza material, os de Vin são mais emocionais. Ela ainda está lidando com dois fatos: o da morte de Kelsier e o de ela ter matado o Senhor Soberano. No meio desse turbilhão sentimental, Vin já não sabe mais quem é. E a cidade estar sitiada não a ajuda a se focar naquilo que ela realmente deseja. Vin ama Elend, mas não sente que é a mulher ideal para ele. Por ela não se amar, não consegue expressar seu amor de uma maneira honesta. E ela é confrontada com esses problemas de identidade o tempo todo. Os vestidos de sua antiga persona, Valette Renoux, não se encaixam mais naquilo que ela deseja para si. Ao mesmo tempo ela se depara com o fato cada vez mais alarmante de que ela pode ser simplesmente só mais uma ferramenta usada para matar pessoas. E ela é muito boa nisso. A questão que fica é: o quanto ela quer isso para si mesma? Nessa dúvida preocupante, ela se depara com outro Nascido das Brumas que está perseguindo-a há algumas semanas e Vin não sabe quem essa pessoa é e a quem ela responde. Sem falar nas brumas que agora parecem mais ameaçadoras do que antes.
Já o terrisano Sazed está no interior do continente tentando ensinar a algumas populações mais simples sobre a cultura que existia antes da chegada do Senhor Soberano. Só que ele percebe que alguns hábitos e tradições são difíceis de serem modificados. São muitos séculos de dominação que deixaram uma marca profunda naqueles que viviam sob o jugo de ferro de seu governante. Sazed fica então tentando entender qual é o seu papel neste mundo, se é o de ajudar o grupo de Kelsier ou se é propagar conhecimentos que foram esquecidos. É um confronto entre aquilo que ele, Sazed, deseja e a real missão dos guardadores. No meio disso tudo, uma descoberta no templo de Seran, onde os Inquisidores do Aço tinham como sua poderosa cidadela, nada restou ali. Estranhamente eles desapareceram dali, sem deixar pistas. E em uma vila afastada, Sazed se depara com uma visão aterrorizante: brumas durante o dia e capazes de matar pessoas. E todos estes mistérios parecem estar estranhamente convergindo para Luthadel.
A narrativa está alguns níveis melhor do que o primeiro. Ainda não está aquele épico sensacional que muitos colocam como sendo, mas consegue entregar algo mais profundo. As disputas políticas ocupam boa parte deste segundo volume e ele pode parecer meio devagar a partir do primeiro terço. Gostei das idas e vindas no jogos entre os poderes rivais, mas fiquei um pouco decepcionado com a opção por sair desse jogo mais adiante da história. Nada impedia que houvesse alguma solução malandra nas disputas diplomáticas para só então iniciar o terceiro ato. Ainda acho que em Elantris, Sanderson conseguiu brincar melhor com as complexidades da política. O autor não tem problemas em pensar uma variedade de ideias seja para política, economia ou religião. Mas, ele ainda sente dificuldades em fazê-las atender ao que sua história deseja. Por isso que fica parecendo que ele faz uma longa descrição e as ideias parecem se encaixar bem; mas, sempre falta algo. Autores como Joe Abercrombie e Steve Erikson conseguem fazer isso com a mesma competência e trazem um sistema político interessante para o meio da confusão, fazendo com que os personagens acabem sendo tragados por ela. Só que senti que nesse ponto o autor demonstra uma evolução e nos entrega momentos realmente tensos.
Gostei mais do desenvolvimento de personagens aqui do que no primeiro volume apesar de que algumas situações acabaram me soando enfadonhas. O dilema de Vin é palpável até o momento em que suas dúvidas tomam um caminho esquisito e meio forçado. Ela questionar se os seus métodos ou sua presença são benéficos ou nocivos até é compreensível, mas atrelar isso a uma questão sobre seus sentimentos, me parece meio juvenil até. No caso da personagem, amor e poder não estão necessariamente relacionados. Ela teme seu poder porque pensa que pode se tornar aquele que ela matou. Ou que pode acabar se tornando uma ferramenta nas mãos de pessoas mal intencionadas. Seu amor por Elend, que se tornou mais evidente no volume passado, tem a ver com uma necessidade de pertencimento que ela tem. Ao ser confrontada durante a história por alguém que compartilhava dos mesmos sentimentos que ela tinha antes de conhecer Elend a faz ver o que a fez amadurecer. Imaginei que a relação entre Vin e Zane seria uma forma da personagem confrontar seus próprios fantasmas e não de criar um triângulo amoroso esquisito. A ideia de apresentar um rival a Elend, causando confusão, mais confundiu o leitor do que soou para a personagem.
Por outro lado, Sanderson aprendeu a dar mais espaço a outros personagens. Ele já fazia isso lá em Elantris, mas desde o primeiro volume de Mistborn ele começou a se focar em um número bastante reduzido de personagens. Isso fazia a história ter tons unidimensionais. Sim, a história é sobre Elend e Vin, e, em um segundo plano, sobre Sazed. Mas existem momentos geniais de personagem com Allriane, Zane e até com Brisa. Alguns trechos com Brisa são muito legais porque mostram sua maneira de enxergar o mundo. Como pensar o cotidiano a partir de um indivíduo cuja habilidade é manipular de forma quase natural as emoções daqueles que o circundam. Alguém que sabe instintivamente que as pessoas estão mentindo para ele o tempo todo e isso é algo de responsabilidade dele mesmo. Além disso, Sanderson conseguiu nos apresentar de uma forma mais profunda como funciona a alomancia do latão e do zinco, poderes mais voltados para as emoções.
"O Sobrevivente está morto - Elend falou. - Eu nunca o conheci, mas ouvi o bastante para saber de uma coisa. Ele não cedia ao desespero."
Preciso dar um puxão de orelha na Leya (apesar da editora nem mais trabalhar com literatura de gênero). A tradução não está boa e no sentido de que não revisaram a tradução do Petê Rissatti. Não é possível que uma revisão e copidesque deixe passar tantas aliterações, erros de concordância esquisitos e manutenção de termos em inglês para logo em seguida estarem traduzidos. E nada me fez franzir tanto o meu cenho como ver "franzir cenho" repetido tantas e tantas vezes. Entendo que foi uma escolha do Sanderson, mas teria sido possível amenizar isso com escolhas diferenciadas. Para mim, faltou dar um apoio ao tradutor. Mesmo sendo uma pessoa tão competente quanto o Petê, ele precisa de um bom suporte de revisão. Fiquei bastante incomodado com a quantidade de problemas que vi aqui... novamente: quando são poucos, nem me incomodo tanto. Mas, me atrapalhou de verdade.
O Poço da Ascensão é um segundo volume bem acima da média, que foi capaz de nos apresentar uma história envolvente ao mesmo tempo em que cria novas perguntas para os leitores. Embora se passe apenas em Luthadel, conhecemos mais sobre o mundo, sobre as religiões, a economia e, claro, o sistema de magias. A Feruquemia ganhou bastante espaço neste volume. Temos uma jornada bastante sensível de duas pessoas cujo destino era complementarem uma à outra. Ou melhor, estarem juntos faz com que eles sejam ainda melhores do que separados. Digo isso no sentido de serem pessoas melhores. Ao final, somos deixados com um novo status quo e nos preparamos para entender o que existia de verdade no poço da ascensão. Sem falar que mesmo morto por Vin, o Senhor Soberano deixou uma enorme sombra para trás, fruto de seus muitos anos como o deus desse mundo.
Ficha Técnica:
Nome: O Poço da Ascensão
Autor: Brandon Sanderson
Série: Mistborn Primeira Era vol. 2
Editora: Leya
Tradutor: Petê Rissatti
Número de Páginas: 720
Ano de Publicação: 2015
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