Doze crianças foram chamadas para um mundo estranho e fascinante para salvar este mundo do mal. Uma história conhecida e clichê, certo? Errado... Katia Regina vai te surpreender a cada página com O Velho Mundo.
Sinopse:
A obra narra a trajetória dos primos Cantrell, nove crianças que se veem perdidas quando, por meio de um sonho, são convocadas a salvarem as treze terras de uma ameaça iminente: Cruciare, o Senhor do Escuro. A aventura debate a linha tênue existente entre nossos piores pesadelos e a realidade em si. Junte-se aos protagonistas nesta viagem através do Velho Mundo e divirta-se, chore e ame com eles!
Uma coisa que eu sinto falta nos livros de fantasia é aquela essência da busca da aventura, da inocência e da vontade de embarcar em uma jornada. Nos preocupamos tanto com histórias intrincadas e personagens "dark" que nos esquecemos deste tipo de característica. Alguns filmes da minha infância como A História Sem Fim, Goonies e Pagemaster fazem falta nos dias de hoje. Katia Regina tenta trazer esse clima para o seu livro, apesar de nos dar uma baita rasteira no final.
Os Cantrell são uma família que mora em algum lugar idílico no Brasil em algum momento do passado. Subitamente eles são tomados por uma série de sonhos estranhos que dizem que eles precisam salvar um reino da destruição e várias imagens de devastação assolam as mentes deles. Curiosos com a perspectiva de uma aventura próxima, eles discutem a sabedoria ou não de embarcar rumo ao desconhecido. Mas, acabam indo para Akilis onde precisam seguir rumo ao Trem dos Inocentes onde precisam encontrar uma pessoa que será capaz de criar um elixir que salvará os treze mundos da destruição profetizada por versos enigmáticos. Mas, além da profecia, estes jovens precisam se preocupar com Cruciare, um semideus vingativo que deseja abrir os portões de seu mundo para retornar e trazer consigo a escuridão. Mas, nem tudo é o que parece e os meninos logo se darão conta disso.
Eu preciso destacar a escrita de Katia Regina: muito sólida e poética. Alguns podem argumentar que em alguns momentos as cenas acabam chatas e longas demais, mas isso pode ser um efeito que a escrita da autora possui. Todas as descrições que ela faz são muito vivas e interessantes, auxiliando o leitor a criar uma imagem sobre o lugar onde os personagens se encontram. Todo o universo literário é chamativo: os postes, a montanha, o muro. Tudo tem vida e se comunica. A autora quis dizer que a magia está ao nosso redor e ela consegue passar esta sensação com fidelidade. Por mais estranhas que algumas de suas criações pareçam, a descrição funcionam de uma tal maneira que eu realmente consigo imaginar um poste com braços longos e asas.
Os personagens são bem trabalhados e possuem características únicas. Como o livro possui 9 protagonistas, achei que a autora poderia se enrolar em algum momento. Tal não acontece e ela consegue fazer com que Ágata, Débora, Clara, Tiago, Daniel, Eduardo, Olívio e Gabriela possuam personalidades distintas. Ágata é a líder natural e aquela mais suscetível aos acontecimentos; Débora é aquela que duvida e deseja a liderança para si, Tiago é um pouco covarde, mas ama seus primos e irmãos; Eduardo é o mais velho e responsável; Daniel é a criança impressionável; Clara tem medo de ver sangue e Gabriela é aquela que defende Débora e quer mediar todas as encrencas. Com o passar da história ficamos conhecendo e amando todos. O livro me lembrou essas aventuras dos anos 80 em que os meninos saem para um outro mundo para resolver questões difíceis e salvar um reino. Acho até que a autora deveria ter ficado nesse ritmo do que ter feito o final. Mas, discutirei isso a seguir.
O enredo acaba um pouco arrastado. Isso porque a autora acabou precisando explicar o funcionamento do mundo e da física mágica de seu universo literário. Tem um capítulo que se passa na casa de Ien que é inteiramente explicativo. Talvez esse tenha sido, para mim, o capítulo que mais demorou a passar. Isso não é um ponto fraco do livro porque a maioria dos autores sofrem com a síndrome do primeiro livro. Menos de 10% das séries de fantasia conseguem lidar bem com essa situação de explicar o mundo e dar seguimento à história. Os momentos de ação são bons e acabam desenvolvendo os outros personagens que orbitam a família Cantrell como Harque e Wolf e até mesmo depois o acréscimo dos demais personagens. Alguns pontos de enredo que eu não gostei foram os plot twists. A autora não soube lidar com eles. Um plot twist funciona bem se o leitor não percebe que ele está chegando; mas se você não fornece condições para que ele aconteça, fica parecendo um truque de enredo apenas para chocar o leitor. Em dois momentos isso aconteceu: a traição de Croker e o final. Em nenhum momento a autora dá pistas de que Croker possa trair Cruciare. Pareceu muito aleatório ele ter ajudado os meninos.
O final eu não quero comentar muito a respeito para não dar ainda mais spoilers (Croker né...). Eu entendo que a autora quis surpreender os leitores, mas o plot twist apareceu do nada. Para esse tipo de revelação arrebatadora, é necessário criar alguns capítulos que deixem o autor pensando que nada é como parece ser e que existe alguma coisa por trás da simplicidade da história. O final me chocou porque foi algo bizarro que caiu como uma chuva de meteoros na minha cabeça. Até cheguei a reler alguns capítulos para tentar ver se a autora criou algum motivo para desconfiança ao longo da história. E isso não aconteceu...
Por último fica uma sugestão para a autora: o livro precisa de mais uma passadinha na revisão. Geralmente eu não me incomodo tanto com erros; na minha mente eu acabo corrigindo e estes passam batido. Mas, existem alguns errinhos bem incômodos e em número grande. Vai fazer muito bem ao livro dar só aquela passadinha final no revisor e ele está pronto para uma versão física bacana.
Enfim, o livro é bom. Tem aquele clima de Crônicas de Nárnia que enterneceu o meu coração. Eu sentia falta de uma história assim e a Katia Regina me deu essa experiência fascinante. Os personagens são ótimos, distintos entre si e o mundo é rico em detalhes e descrições. Alguns erros de escolha contribuem para uma queda na avaliação, mas nada que comprometa a leitura. O final é discutível quanto ao fato de a autora não ter criado as condições para que ele acontecesse. Entretanto, a escrita poética torna as linhas do livro vivazes e mágicas.
Ficha Técnica:
Nome: O Velho Mundo - Abrem-se os Portões de Erebo
Autora: Kátia Regina Souza
Editora: Giostri
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 252
Ano de Publicação: 2016
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*Material enviado em parceria com a autora
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