Paulo Vinicius

Resenha: "Olhos Verdes" de Teresa Helsen

Cláudia é uma mulher bem sucedida que trabalha para um chefe que tem uma existência misteriosa. Sua amiga Rebecca acaba se envolvendo com um homem possessivo e com um comportamento violento. Vai caber a Cláudia ajudá-la de todas as maneiras possíveis.

Sinopse:

Claudia Cazarotto é uma contadora que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é finalmente contratada pela empresa de tecnologia e segurança Blue Velvet.

Em "Olhos Verdes", vamos acompanhar a experiência da melhor amiga de Claudia, Rebecca Stein e seu sedutor e perigoso amante italiano.

Claudia Cazzarotto é uma mulher que já passou por muita coisa em sua vida. Conseguiu se estabelecer como uma mulher de sucesso e trocou o Brasil pela nevada Nova York onde trabalha para um homem misterioso chamado Cunningham. Apesar de toda a segurança que um trabalho desse nível passa, existe uma insegurança acerca de seu chefe que já se envolveu em escândalos. Rebecca Stein é sua melhor amiga e parceira para todas as horas. Elas já se apoiaram nos tempos bons e nos ruins e sua amizade só se fortaleceu com o tempo. Quando Becca conhece um homem encantador chamado Scaffa, parece que ela finalmente tirou a sorte grande. Mas, alguns de seus comportamentos são estranhos e colocam a jovem em uma situação complicada. Tudo o que Becca precisa é que sua amiga esteja lá, mas poderá ela fazer realmente alguma coisa?

Antes de falar da história em si, vamos falar da edição que está bem bacana. O formato é pequeno com uma boa formatação que favorece a leitura. Tem algumas ilustrações da Lua Bueno Cyriaco que dão um charme para a edição. É uma leitura que você vai levar algumas horas para debulhar (uma tarde de sábado, uma viagem de ônibus). Existem alguns problemas de revisão que, caso corrigidos, poderiam beneficiar a edição. Mas, preciso dar um puxão de orelha na editora. O livro trata de um tema complicado que é o da violência doméstica e não tem nenhum aviso de gatilho no livro. Não há nada gráfico no livro, mas as situações podem afetar quem tem fragilidades com esse assunto. Pode parecer implicância, mas quando o tema central do livro é isso, o leitor precisa ser avisado.

Portanto:

Aviso de gatilho: violência doméstica, violência contra a mulher

A escrita da autora é leve e solta e um emprego frequente de diálogos. A narrativa segue o modelo em três atos e em terceira pessoa. A forma como a história é conduzida segue bem a cartilha, sem grandes invenções. Ou seja, se você busca um thriller vai encontrar aqui. Porém, tudo é muito previsível na história. A partir da metade a gente começa a conseguir visualizar o que vai acontecer a seguir. Não temos exatamente uma virada narrativa e o momento climático segue aquela confusão típica de filmes desse gênero. Meu grande problema está na narrativa em si. A narrativa é muito corrida e dá uns saltos que o leitor não consegue acompanhar. Fora que ele parece ser o segundo livro de uma série, algo que só fui me dar conta durante a leitura quando a autora fazia menções a situações anteriores. Como se trata de um thriller, acho que seria legal para a autora tornar cada volume auto-contido. Ajuda bastante porque o leitor não se sente obrigado a consultar histórias passadas. Basta pegar exemplos em Harlan Coben ou até em Agatha Christie que mesmo tendo alguns personagens que se repetem ou são mencionados aqui ou ali, não dependem de outros para serem compreendidos.

O tema central da história é violência doméstica. Becca precisa lidar com um namorado misterioso, abusivo e controlador. O leitor vai se deparando com todos os sinais que apontam para essas situações. Gostei de como a autora lida com o tema de uma maneira bastante elegante e didática em alguns momentos. Vale destacar a cena da conversa entre Claudia e Becca onde a protagonista busca convencer a amiga sobre não naturalidade das ações de seu namorado. Muitas vezes mulheres se enganam tentando encontrar alguma justificativa para um comportamento violento. Sentimentos como a vergonha e a humilhação se misturam ao medo súbito de alguém que está em sua vida. Por mais que gostemos de alguém, precisamos cuidar de nós mesmos. Cuidar de nossa liberdade, de nossa saúde. Os sinais físicos e emocionais são comuns nesse tipo de personalidade dominadora. Cláudia passa por todos os estágios de quem está ligado a uma pessoa que passa por uma situação dessas: o arrependimento por não ter notado antes, o esforço em convencer a pessoa sobre o que está acontecendo, a frustração quando sua opinião é descartada, o medo em ver o risco vivido por sua amiga. Está tudo ali e bem trabalhado.

Normalmente eu escreveria sobre os personagens e suas relações, mas não tenho como avaliar isso pela minha falta de conhecimento sobre o mundo narrado pela autora. O que posso dizer apenas com a leitura aqui é a respeito da amizade entre Claudia e Becca. Esse ponto é bastante reforçado pela autora. Claudia é a típica protagonista ousada e que não leva desaforo para casa. Se mete em várias confusões e precisa desvendar um mistério em seu ambiente profissional. Becca é mais sensível e companheira, funcionando como um complemento à personalidade da protagonista. Existe uma clara tensão entre o chefe misterioso Cunningham e o policial Maguire que é o namorado de Cláudia. Parece que se trata de um triângulo amoroso. A autora escolheu envolver também a máfia italiana de Nova York, mas vemos apenas alguns relances disso nesta aventura.

A narrativa é curtinha e divertida na medida do possível. Fiquei um pouco frustrado por perceber que eu deveria ter um conhecimento prévio sobre algumas situações, o que prejudicou parte da minha experiência. Mas, a autora conseguiu entregar um tema tão difícil de uma forma respeitosa o que me fez curtir no fim das contas a história apresentada. O livro apresenta aos leitores uma narrativa descomplicada, envolvente e com personagens cujos laços são importantes e formam um núcleo narrativo repleto de possibilidades.