Esta é uma série de histórias que se passam em diferentes momentos da vida de Hari Seldon e nos ajudam a entender mais sobre o pesquisador que se tornou um mito.
Sinopse:
Oito anos se passaram desde os avanços iniciais da psico-história. Embora o Império Galáctico ainda demonstre grande força, Hari Seldon vê claros sinais de decadência e a inevitável ruína dessa poderosa estrutura.
Entre as ameaças de um futuro caótico, guerras políticas e dramas pessoais, Seldon precisa lutar contra o tempo para implementar o trabalho de sua vida: um plano que pode abreviar em milhares de anos o período de trevas causado pela queda do Império.
Concluído pouco antes de sua morte, em abril de 1992, ORIGENS DA FUNDAÇÃO é o sétimo e último volume da obra máxima de ISAAC ASIMOV. Nele, o Bom Doutor narra a segunda metade da vida de Hari Seldon – agora um notável cientista e político influente – e seu esforço para conduzir a humanidade a uma nova FUNDAÇÃO.
Este é o derradeiro livro escrito por Asimov, o último em sua longeva carreira. Curioso pensar que ele faleceu poucos meses depois de escrever seu último parágrafo. Não chega a ser um livro brilhante como Fundação, Eu, Robô ou Cavernas do Aço, mas o trechinho que replico abaixo é de fazer caírem lágrimas dos olhos:
"Isto, isto foi o trabalho da minha vida inteira. Meu passado... o futuro da humanidade. A Fundação. Tão linda, tão cheia de vida. E nada pode... Dors!"
Origens da Fundação é uma obra carregada de sentimentos. Sentimentos de amor, de sabedoria, de solidão. A obra se passa oito anos após Prelúdio à Fundação e já vemos uma Fundação em seus momentos iniciais. O livro tem uma estrutura bem curiosa reunindo diversas histórias curtas, algumas delas interligadas diretamente, outras não, que se estendem pelos últimos dez anos da vida de Seldon. Ainda o vemos fazendo experimentos com a psico-história e formulando ideias e teorias que pudessem auxiliar os colonos em Terminus. Há uma sensação de iminência permeando as linhas da obra como se protagonista e escritor soubessem que tinham um tempo limitado para deixar suas obras em dia. Seldon precisa tomar uma série de ações importantes para manter a Fundação coesa. Algumas delas vão fazê-lo se distanciar de sua família e de seus entes queridos. É aí que a narrativa toma um outro rumo, nos mostrando os anos finais de sua vida, onde a solidão e a ausência de utilidade assolam seu coração.
No pano de fundo, o Império vai implodindo internamente, seguindo as previsões que Seldon havia entregado para Cleon. Os conflitos e crises vão se somando uma a uma e a sociedade está se esfacelando sem que o governo imperial consiga encontrar uma solução. A sua recém-formada família formada por Raych e Dors, e mais tarde por sua neta, Seldon procura sobreviver em um mundo cada vez mais perigoso. Sua neta manifesta poderes psíquicos, o que já demonstra uma piscadela para o que viria a ser a Segunda Fundação, o projeto secreto de Seldon. Aliás, é aqui que vemos a busca do cientista pelos limites do poder de sua neta e por outras pessoas dotadas dessas habilidades. E, sendo um projeto secreto, se torna um dever dele proteger a sua formação, o que o faz se distanciar mais ainda e se tornar aquele ser misterioso que vemos no primeiro volume.
Assim como o volume anterior, não é uma narrativa importante ou revolucionária em relação aos outros volumes da série. Para todos os efeitos, Asimov fechou a sua cronologia em Fundação e Terra. Também como em Prelúdio, lacunas são preenchidas, o que acaba deixando a narrativa como um todo bem redondinha. Toda essa segunda série que se inicia em Limites da Fundação e finaliza em Origens da Fundação servem para transformar a série Robôs, Império Galáctico e Fundação em uma coisa só. Os conectores estão presentes em vários volumes. Porém, preciso dizer que a escrita não é das mais inspiradas e em vários momentos senti dificuldades em avançar na trama. Ou em algumas das histórias existem algumas conveniências narrativas que incomodam.
Assim como no volume anterior percebemos uma maior preocupação de Asimov em desenvolver seus personagens, colocando situações onde seus sentimentos e posições são explorados. Apesar de Seldon ser o personagem principal, vemos o ponto de vista mudando para outros ao longo do livro. Outro ponto favorável é que os antagonistas não possuem objetivos simplórios ou são meras representações do mal; eles são complexos e sua maneira de enxergar o mundo ou seus objetivos podem ser mais empatizados pelos leitores. Lembrando sobre a decadência de Cleon e toda a sua estrutura governamental em que existe uma estagnação devido à sua clonagem. O imperador é um homem que possui uma visão clara sobre seu governo e a maneira de comandar uma vasta extensão de território. Ele não é aquele personagem tolo do primeiro volume. A relação com Demerzel também é explorada com maior aprofundamento.
A estrutura narrativa é bem mais complexa e assim como em outros livros as histórias contam com quebra-cabeças que os personagens precisam solucionar para resolver um problema ou solucionar algum mistério. São maneiras bem transversais de explorar problemas ligados ao método científico. O famoso Daneel Olivaw, personagem importante da série Os Robôs, está presente neste livro em um encontro fascinante com Seldon. Daneel está interagindo mais aqui, sendo um Primeiro-Ministro dentro do Império Galáctico. Um momento de ruptura é quando o Império atinge um nível de decadência perigoso ocorrido a partir de um desenvolvimento inesperado e Seldon se vê obrigado a acelerar o plano Seldon. É aí que o cenário sai de Trantor e somos levados a Terminus. É aí que outro tipo de decadência acontece: a do próprio protagonista. Lentamente ele vai chegando à sua velhice e com os seus planos bem encaminhados, não existe muita coisa mais a ser feita. Um homem tão ativo se encontra sem utilidade para a sociedade. Ele vai perdendo suas ligações pouco a pouco com amigos e familiares seguindo em frente ou morrendo. Tem uma cena com a Dors lá pela metade final do livro que é de doer o coração. É quase que uma indireta para nós, falando do quanto nossas vidas são limitadas e a velhice e a morte se aproximam de todos nós em algum momento.
O que podemos inferir é que o livro pode ter espelhado a própria vida de Asimov em seus últimos anos dada a forma como ele nos apresenta os temas. O leitor percebe a dor que o abandono e a solidão deixam no protagonista. Se o primeiro livro é uma história de jornadas, buscas e glórias, aqui é o seu exato oposto: decadência e perda. É uma história fascinante sob muitos aspectos, nos fazendo pensar no legado deixado por esse grande homem. É uma narrativa que me fez chorar e pensar em minha própria efemeridade neste imenso universo.
Ficha Técnica:
Nome: Origens da Fundação
Autor: Isaac Asimov
Série: Fundação vol. 7
Editora: Aleph
Tradutora: Maria Silvia Mourão Netto
Número de Páginas: 448
Ano de Publicação: 2021 (nova edição)
Outros Volumes:
Vol. 6
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