Vindo de um outro mundo que foi destruído, o jovem David acaba caindo na Terra e é resgatado por Batman e Superman. Manifestando poderes inusitados, o garoto acaba aos cuidados do Superman que o transforma em seu parceiro contra o crime. Nasce o Menino-Trovão. Mas que mistérios será que ele esconde?
Sinopse:
O início de um novo arco épico! A história nunca antes contada e de curta duração do parceiro do Superman é finalmente revelada, mas que conexão secreta com um dos contos mais atemporais da DC essa história prenuncia? Só o tempo dirá (essa foi uma pista). E ainda: Superman vs. Lobo!
Toda vez que pego uma edição de Os Melhores do Mundo com roteiro do Mark Waid sei que uma coisa está garantida: diversão. Faz tempo que não vejo uma série de histórias que se tornou longa, ganhou força própria apenas sendo estupidamente divertida. Waid vai buscar suas inspirações claramente na Era de Prata e se permite ser galhofeiro nas histórias. Existe um tema sério no fundo, mas as histórias possuem um frescor difícil de se ver hoje em dia. Por mim, podem deixar o Waid brincar enquanto ele quiser com esses personagens porque, como leitor de quadrinhos, sinto que precisa dessa injeção de heroísmo todos os meses. Mais do que isso: Waid introduz mais um personagem nas histórias do Batman e do Superman cujo conteúdo e origem podem gerar inúmeras histórias. Ou seja, essa é aquela HQ necessária todos os meses nas bancas.
Waid começa um novo arco de histórias com a apresentação do Menino-Trovão. Ele é o último sobrevivente de uma Gotham de outro universo que explodiu e ele foi enviado para outra dimensão através de uma máquina capaz de atravessar o tecido do multiverso. David acaba sendo resgatado por Batman e Superman que descobrem que o garoto é capaz de disparar explosões de calor ou elétricas de acordo com seu nível de stress. Clark acaba adotando o jovem como um parceiro e começa a treiná-lo para melhor poder ajudá-lo. Só que essa parceria vai se tornar mais difícil do que parece já que David não contou exatamente toda a verdade sobre como ele veio parar aqui. No meio de tudo isso, o Chave planeja algo infalível para poder lidar com nossos heróis. Junto a ele está ninguém mais, ninguém menos que o Coringa. E o Coringa adooooooooooora parceiros de heróis.
Vou começar esta análise do roteiro do Waid convidando a todos para lerem a partir daqui, caso não consigam encontrar os números anteriores. Waid escreve de uma forma contida e fechada em si mesma. O leitor pode começar aqui que não vai sentir nenhum problema de compreensão em relação a histórias passadas. Para dizer que não tem qualquer conexão, tem uma fala do Batman com o Robin mencionando um acontecimento da penúltima edição do arco do demônio Nezha, mas é um diálogo rápido para servir de piadinha interna. Não tem qualquer efeito para a história. No mais, o roteiro não nega brincar com conceitos da década de 1970. Waid quer esse espírito mais leve e heroico desse período, e os personagens parecem estar se divertindo o tempo todo. O Batman é o soturno da história, mas os demais personagens são muito luminosos. Tudo é bastante para cima, mesmo quando acontece algum momento mais tenso. Essa é uma história direta e dinâmica que não faz muitas firulas e te coloca aonde precisa estar. Isso pode agir tanto para bem como para mal. Por exemplo, gostaria que o Waid tivesse gastado um pouco mais de tempo trabalhando a conexão entre Superman e David, falando sobre como foi o momento inicial de treinamento dele. Parece que o rapaz já nasceu combatente do crime na edição n. 8, embora tenha lá suas inseguranças. Ou seja, por ser direto e dinâmico, por vezes o roteiro peca por não dar a devida atenção às coisas.
As composições do Dan Mora continuam belíssimas. Fica aqui a minha referência às três primeiras páginas da edição n. 6 que mostram a destruição da Gotham do David. E ela tem vários paralelos com a cena da destruição de Krypton composta pelo John Byrne lá na década de 1980. Seja o ângulo da cena, os quadros, a sequencialidade. Mora conseguiu transpor para outro cenário ao mesmo tempo em que forneceu sua própria identidade a um momento tão trágico. Gosto de como o Mora consegue dar jovialidade à Turma Titã, seja nas expressões quase inocentes ou no próprio design. Vez ou outra vemos a dificuldade que alguns artistas tem de simplesmente desenhar adolescentes. Eles parecem pessoas com bem mais idade. Aqui não. Dois personagens que muito me agradaram na pena do Mora foram o Ricardito e a Moça-Maravilha (nossa queridíssima Donna Troy). A última edição dessas três mostram uma Gotham afetada por uma tragédia insana, e Mora conseguiu retratar muito bem. Seja os carros sendo arrastados, as pessoas desesperadas ou os heróis tentando ajudar no local. Mora conseguiu transpor bem todo esse cenário de caos e insanidade criado por dois vilões insanos. Vale mencionar ainda uma outra cena nessa mesma edição em que Mora divide metade da página em seis quadros mostrando o Superman na frente dos quadros e no fundo os salvamentos que ele realizou em uma cor menos fosca, como se fosse uma transparência. Boa maneira de mostrar os momentos em que o Superman salvou alguém sem precisar desenhar o personagem em todos eles.
A história toda gira em David e como ele chega em nosso mundo e descobre possuir super-poderes. Inicialmente comparei a situação dele com a do próprio Kal-El tendo fugido de Krypton, mas o roteiro do Waid é muito inteligente e logo me dá um tapa na cara. Nada disso: o paralelo que dá para ser feito com David é com a Kara, a Supergirl. Isso porque o Superman era bebê quando fugiu de Krypton, então ele não tinha exatamente uma relação mais afetiva com os pais ou o mundo de origem. Kara não... Kara viveu até os quinze anos em Argo City e era uma adolescente quando sua cidade foi destruída por um meteoro e ela foi enviada para a Terra. Tanto Kara como David sofrem da síndrome do sobrevivente. De qual a razão para eles terem sobrevivido enquanto todo o resto de seus conhecidos e de seu mundo foram destruídos. O garoto tem PTSD claramente e os momentos mais tensos da história é quando ele trava. Ou tem reações desproporcionais. O leitor fica acompanhando isso e percebe claramente o quanto isso vai dar errado. A única falha de roteiro para mim é o Batman apontar a cada cinco minutos que algo está errado na história do David. Como leitor, sei que algo está errado e ter mencionado apenas uma vez já me fez ficar com dúvidas. Afinal, o Batman é o maior detetive do mundo. Lembrar toda hora é tratar o leitor como uma criança que não compreende.
Gostei da combinação maluca entre o Chave e o Coringa. Aliás, alguém pode me dizer onde esse vilão apareceu? Os poderes dele são curiosos em um nível Espantalho de ser. Claro, Waid tem que criar uma situação à altura dos Melhores do Mundo, então ele eleva os problemas. O Coringa do Waid é o palhaço do crime, mas aquele palhaço perigoso lá da época do Jason Todd. Os desafios das três edições são mais voltados para construir a trama em torno das inseguranças do novo personagem inserido na história. Só que o roteirista é inteligente e insere outros elementos sem que nos demos conta como a inserção da Turma Titã, colocando a história nos tempos em que Dick Grayson ainda era mais jovem e inocente. Spoiler: Waid terá uma série com os Novos Titãs publicada em breve no Brasil. E fiquei doido para ver porque ele consegue passar uma dinâmica muito legal da equipe. Em poucas páginas ele foi capaz de deixar claro a personalidade de cada um dos personagens. Queria ver uma formação com o Waid colocando a Kara na equipe. Isso daria uma bela diferenciada em relação a tudo o que foi escrito antes.
As histórias que completam as edições da revista mensal são aquela boa e velha encheção de linguiça com histórias filler saídas da infame Batman Urban Legends e agora encontraria mais uma fonte de tranqueiras: a Superman: Man of Steel. Mas, no meio de histórias sem pé nem cabeça como a da parceria do Superman com o Lobo ou da história corrida e não compreendida entre o Batman e Anarquia (que poderia render muito tema intrigante), temos duas que me chamaram a atenção. Uma delas se encontra na edição n. 8 e tem o roteiro de Nadia Shammaz e se chama Meu Filho. É uma história entre o Batman e a Talia al-Ghul em uma situação em que o Damian se fere em uma emboscada feita por ele e o Asa Noturna e o estado dele é grave. Batman e Talia discutem sobre onde o Damian deveria viver. A história é bem doce e mostra o lado mãe da Talia e como tanto ela como o Bruce se amaram um dia e hoje sabem que são pessoas falhas. Mesmo assim, possuem um amor muito grande pela semente que eles deixaram no mundo. A arte da Jahnoy Lindsay não é nada demais, mas entrega bem os momentos mais sensíveis entre os dois personagens. O roteiro consegue abordar com bastante astúcia o tema da família sem ser piegas.
A segunda história está na edição n. 9 e é um pouco mais longas do que essas curtinhas. Tem o roteiro do Jim Zub e se passa em um cenário gótico chamado Castelo Arkham. Nesse mundo alternativo, o Batman é uma espécie de caçador de monstros, a la Van Helsing, e Arkham é habitada por umas criaturas demoníacas. Bruce Wayne é um lorde rico que perdeu os pais e o seu mordomo quando jovem e agora conta com o apoio de Julia Pennyworth e do de Kirkland Langstrom, um cientista exótico que o ajuda a entender as estranhas loucuras desse mundo cruel. Gostei de como Zub se baseou claramente na mitologia lovecraftiana para criar um mundo bem diferente. Em poucas páginas já estava fisgado com o que ele estava entregando. O ambiente é bastante macabro ao mesmo tempo em que me remete a histórias como as de Drácula ou Frankenstein com as igrejas retas e assustadoras, as experiências terríveis e o ambiente de corte que pode ser tanto acolhedor como perigoso. A arte de Max Dunbar está perfeita para o que Zub deseja entregar e o artista dá um visual bem legal ao homem-morcego inserindo ganchos, estacas e uma armadura estranha ao mesmo tempo em que mantém o visual clássico do personagem. Isso daria uma minissérie bem legal.
Melhores do Mundo continua entregando o que o leitor deseja. Mora centra a sua narrativa em um novo arco inserindo novos elementos ao seu mundo. Ao mesmo tempo em que ele reforça a relação entre os personagens, as novas variáveis apresentam perigo e tensão por toda a parte. O tema do parceiro mirim que ajuda a deter os criminosos está sendo ressignificado pelo autor que deixa um gancho ao final da nona edição que remete imediatamente a uma situação desagradável nos anos 90. Vamos ver aonde isso vai dar. Dan Mora continua arrebentando nas composições e conseguindo dar detalhes únicos às cenas. Até mesmo fazendo releituras de quadros clássicos como o da destruição de Krypton. Só tenho a ansiar desesperadamente a próxima edição.
Ficha Técnica:
Nome: Os Melhores do Mundo ns. 7 a 9
Autores: Mark Waid, Dave Wielgosz (n. 7), Tini Howard (n. 7), Blake M. Howard (n. 7), Nadia Shammas (n. 8), Yedoye Travis (n. 8) e Jim Zub (n. 9)
Artistas: Dan Mora, Riley Rossmo (n. 7), Max Raynor (n. 7), Jahnoy Lindsay (n. 8), Lucas Silveira (n. 8) e Max Dunbar (n. 9)
Coloristas: Tamra Bonvillain, Ivan Plascencia (n. 7), Hi-Fi (n. 7), Romulo Fajardo Jr (n. 9)
Editora: Panini Comics
Tradutor: Diogo Prado
Número de Páginas: 48 cada
Ano de Publicação: 2023
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