O que acontece quando juntamos o conceito de uma história de fantasia com um cenário repleto de dinossauros? Victor Milán tenta responder a essa pergunta com O Senhor dos Dinossauros.
Sinopse:
Um cavaleiro medieval pronto para a batalha, montado sobre seu fiel T-Rex. A belíssima ilustração da capa de Os Senhores dos Dinossauros já é suficiente para fazer disparar os batimentos cardíacos dos fãs de literatura fantástica. O autor, Victor Milán, consegue fazer o que parecia impossível: materializar um sonho que milhares de leitores compartilham secretamente desde a infância. Ou você aí nunca se imaginou cavalgando um dinossauro? Se alguém poderia contar essa história, esse alguém é o mestre Victor Milán. Talento e experiência ele tem de sobra. Com mais de 100 romances publicados em quatro décadas, Milán recebeu o conceituado troféu de ficção científica Prometheus Award em 1986, concorrendo com o livro póstumo de Philip K. Dick, Radio Free Albermuth. Victor Milán também é um dos membros fundadores da série de livros Wild Cards, editada e coescrita por Melinda M. Snodgrass e George R. R. Martin. O autor de Game of Thrones é amigo pessoal de Milán desde o final dos anos 1970 e acompanhou o processo de criação do livro em primeira mão. Então, o que você ainda precisa saber para se debruçar sobre Os Senhores dos Dinossauros? O romance se passa no Império da Nuevaropa, um continente claramente inspirado na Europa do século XIV. Cultura e costumes, religião, conflitos políticos, tecnologia e armamento são compatíveis com o último período da Idade Média. Mas neste mundo, construído pelos Oito Criadores, os gigantes répteis pré-históricos também fazem parte do arsenal de guerra. Tricerátopos, alossauros e tiranossauros marcham em batalhas épicas, enquanto pterodátilos voam rasantes, como fariam dragões em lendas medievais. As possibilidades são tantas que você não vai querer parar de ler. Ainda bem! Os Senhores dos Dinossauros é apenas o primeiro volume da Trilogia de Victor Milán. O lançamento no Brasil acontece quase simultaneamente com o norte americano. O livro ainda não tinha chegado nas livrarias dos Estados Unidos, e os fãs da DarkSide Books já compartilhavam nas redes sociais a notícia da edição brasileira. O carinho dos DarkSiders é recíproco: o próprio Victor Milán declarou seu encanto pelo Brasil. A edição brasileira de Os Senhores dos Dinossauros chega às estantes em setembro de 2015, em capa dura e com o padrão de qualidade quase psicopata da DarkSide Books. O livro vem com as ilustrações originais de Richard Anderson, artista que fez concepts para grandes produções do cinema como Os Guardiões da Galáxia, Thor: O Mundo Sombrio, Gravidade e Prometheus. Sobre o autor Victor Milán já publicou mais de 100 romances. É um dos moradores mais ilustres de Albuquerque, Novo México, depois de Walter White. Victor é um autor residente da Bubonicon, a Convenção Anual de Ficção Científica e Fantasia da cidade, onde também atua como DJ de rádio, especializado em prog-rock.
Um bom marketing em torno de um livro pode gerar muita expectativa. Nesse mundo globalizado de hoje, todos vendem ideias. E uma boa ideia pode ter como consequência lucro inesperado. Mas, algumas vezes o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro e uma expectativa pode ser quebrada por algo que não entrega exatamente aquilo que o alvo deseja.
Os Senhores dos Dinossauros nos transporta para um mundo que não é o nosso, mas é muito parecido com o nosso. Neste mundo os dinossauros convivem com os homens. Guerreiros montam em seus dinossauros para conduzirem guerras típicas da Idade Média. É neste mundo que somos apresentados a dois homens que caminham estradas opostas: o conde Jaume dels Flors é o líder do Ejército Corregir, a tropa de elite do Trono Dentado; já Karyl Bogomirsky é o volvoyd do leste que se coloca contra o Trono Dentado. Jaume é um guerreiro honrado que leva o código do cavaleiro até as últimas consequências. Já Karyl é um gênio em batalha. Mas, quando Jaume consegue vencer Karyl através de escaramuças acontece uma série de acontecimentos que colocarão um a questionar os seus próprios valores e outro a rever os seus conceitos e reencontrar a chama da batalha. No meio disso teremos uma conspiração arquitetada por elementos presentes dentro da corte que farão Nuevaropa tremer.
Primeiro eu gostaria de retirar o elefante da sala: sim, a tradução é ruim e prejudica a leitura. Não acredito que a culpa seja do tradutor até porque eu conheço e valorizo muito o trabalho de Alexandre Callari. Já li várias HQs traduzidas por ele e este não é o padrão de tradução dele. O que eu acredito que aconteceu foi um pouco de ingenuidade da parte da DarkSide. Ao querer publicar rapidamente o livro em questão, eles provavelmente (estou deduzindo apenas) pularam algumas etapas no processo de tradução. Durante a leitura percebi alguns erros de português, mas não é nada espetacular e inédito. O que me irritou realmente na tradução foram as escolhas de palavras; é um claro sinal de que não houve revisão e nem deve ter passado por um copidesque. São etapas essenciais da tradução e não podem ser puladas apenas por decisões editoriais. Outro fator que pode ter atrapalhado o trabalho do tradutor pode ter sido um prazo pequeno a ser cumprido. Conversando com Felipe Cotias, meu amigo e parceiro de blog, ele me disse que o processo de tradução é algo praticamente artístico. Refletindo bem sobre o assunto, eu concordo. O ritmo das palavras, a estrutura dos parágrafos, as escolhas de expressões, tudo interfere na leitura de um trabalho. Alguns leitores do blog já elogiaram algumas traduções que eu fiz de sinopses e alguns pequenos textos. Agradeço a todos pelos elogios, porém, preciso dizer: não sou nem de longe um tradutor profissional. Ao ver trabalhos como o de Alexandre Callari, Petê Rissatti e tantos outros, só tenho a aplaudir. Porque isso dá um trabalho danado. E esses caras são praticamente escritores por si só (o Alexandre Callari é um escritor, diga-se de passagem, com um livro muito bacana chamado Apocalipse Zumbi). O que eu quero dizer é: coloco sim parte da culpa na tradução, mas em grande parte na editora que forçou algo que não poderia ter sido forçado.
Essa vai ser uma review longa.. mas... vamos lá.
A edição da DarkSide ficou linda. O padrão da editora é o de capa dura e geralmente com uma fita marcadora quando o livro é muito longo. O acabamento é excelente, com uma ilustração de capa fantástica. A maneira como o título foi destacado com uma tinta especial e o nome do autor em letras douradas dão uma quebrada na arte da capa deixando-a mais violenta. O espaçamento e a fonte não atrapalham, deixando a leitura fluida e não muito cansativa. Tem algumas ilustrações de dinossauros no início ou no final de alguns capítulos. Enfim, no aspecto da edição do livro em si, a DarkSide continua fazendo um trabalho soberbo.
Entretanto, preciso comentar sobre o aspecto da expectativa. E aqui vou fazer uma defesa da editora: se eu quero vender o meu produto é óbvio que eu vou querer dar o máximo de espaço e propaganda a ele. A editora foi muito correta ao divulgar intensamente o trabalho. Eles fizeram até um booktrailer sensacional para auxiliar nas vendas. Se o livro é bom ou ruim, aí é uma outra história. Aliás, se a editora te fez comprar o livro mesmo ele sendo ruim, aplausos para a editora. Eles são bons! O que eu costumo reclamar são essas chamadinhas colocadas na frente ou atrás das capas: "A junção entre Game of Thrones e Jurassic Park". Bem, digo já que o livro não se trata disso. Infelizmente, Os Senhores dos Dinossauros cai no mesmo problema do que Prince of Thorns: muita expectativa para pouca entrega. E isso não é culpa da editora, mas do escritor. Se o escritor vendeu essa ideia e não entregou no fim das contas, ponham na conta dele. A DarkSide foi extremamente correta no que diz respeito à divulgação.
A ambientação é excelente. Tirando o fato de que o autor perde muito tempo mostrando os tipos diferentes de dinossauros e como eles são terríveis. O livro como um todo não é ruim, mas passar as cinquenta primeiras páginas é uma jornada. Muito bacana ter cavaleiros medievais montando dinossauros como se eles fossem cavalos, mas só isto não pode ser o mote da história. Em alguns momentos, a ambientação se resume apenas a mostrar diferentes tipos de dinossauros. E isso é desagradável. Depois que o autor passa dessa fase de descrever dinossauros, a história muda completamente de tom. Não tem nada de extremamente inovador (tirando os dinossauros) na ambientação proposta por Milán, mas é essa simplicidade que torna o cenário curioso. Ao inserir um elemento diferente na ambientação, ele muda completamente toda a nossa percepção.
Fiquei por muito tempo pensando se daria uma ou duas corujas como avaliação. Em alguns momentos o livro realmente me agradou com desenvolvimentos interessantes e alguns plot twists curiosos. Mas, quando a leitura parece que vai me conquistar de vez, Milán toma alguma decisão que não me agrada. Algumas situações parecem forçadas demais para fazer a história se mover. Ou até a inserção de elementos que não estavam ali antes. E não, eu li o livro com atenção; minha percepção até estava boa (me acostumei com o estilo George R. R. Martin de escrever e aprendi a observar tudo o que se passa em uma cena). Por exemplo, a situação de Melodía na sequência final de eventos foi muito bizarra. Aquilo poderia ter acontecido mais organicamente se o autor fizesse com que o leitor pensasse que tal poderia acontecer. Para mim, foi algo chocante; e foi um choque despropositado.
A trajetória oposta de Jaume e Karyl é uma das partes mais interessantes do livro. Enquanto um vai percebendo o funcionamento da política imperial, o segundo também é atrapalhado pelas politicagens, mas não mede esforços para passar por cima delas. A transformação que ambos os personagens vão passando ao longo da trama, mostram o quanto o autor pensou no desenvolvimento de ambos. Mesmo Melodía, que alguns leitores entendem como uma garota chata, é uma personagem que vale a pena observarmos: ela apenas repete aquilo para o qual foi criada. Mesmo tendo uma personalidade forte, ela é a filha do imperador e uma futura herdeira. Ela precisa seguir os seus protocolos. Já o personagem do Rob Korrigan acaba ficando muito em segundo plano. Aliás, ele funciona muito mais como o nosso olho para o que está acontecendo com Karyl. Nada além disso.
A leitura foi bacana em algumas partes, mas tanto no início como no final se arrastou por várias páginas. Com uma tradução ruim e uma edição maravilhosa, Os Senhores dos Dinossauros é um livro para amar ou odiar. Não existe meio termo aí. A ambientação é muito interessante e o autor vai deixando uma série de ganchos a serem trabalhados em volumes posteriores.
Ficha Técnica:
Nome: Os Senhores dos Dinossauros
Autor: Victor Milán
Série: Os Senhores dos Dinossauros vol. 1
Editora: DarkSide Books
Gênero: Fantasia
Tradutor: Alexandre Callari
Número de Páginas: 480
Ano de Publicação: 2015
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