Áquila e Vinicius são amigos. Mas, amigos que se gostam bem mais do que como amigos. Enquanto essa relação se aprofunda e Vinicius se recupera de sua separação com Mariah, coisas estranhas parecem que irão acontecer com Áquila. Pelo menos é o que Vinicius sonha. Mas, será que isso acontecerá mesmo?
Uma coisa é clara: o autor conseguiu ser bem sucedido na tarefa de nos apresentar um protagonista masculino cujas características são diferentes das dos clichês. Em seu posfácio ao final do conto ele compartilha conosco o seu desejo como escritor. De apresentar um personagem masculino e negro que foge aos estereótipos. Ele cria alguém sensível, apaixonado e que acaba se vendo em uma espiral de dor após uma enorme perda. Suas reações são diferentes da do padrão adotado a homens na literatura. Ou seja, somos apresentados a uma outra faceta da masculinidade, uma que tem mais a ver com a representatividade tão pedida em nossos tempos. Porém, o meu problema com a narrativa teve mais a ver com empatia do que com a qualidade da construção de personagens.
Áquila está convivendo com Vinicius há algum tempo. A separação deste com Mariah, sua ex-namorada foi central para que os dois assumissem que tinham algo mais (embora o autor não coloque nenhuma cena mais romântica entre eles). O relacionamento entre os dois é puro e bonito e somos presenteados com belos momentos. Mas, todas as coisas boas um dia podem ter um fim. E Vinicius começa a ter estranhas visões com um homem de chapéu preto que parece perseguir e colocar a vida de Áquila em perigo. Serão esses avisos de que algo ruim pode estar acontecendo? Poderá Vinicius acreditar que algo que não possa ser explicado pela ciência possa estar acontecendo?
Esta é uma trama de amor e vingança. E o quanto pode a dor de uma separação destruir com nossos sentimentos. O autor é bem sucedido ao nos mostrar a relação entre os dois personagens e o quanto ela é importante para ambos. Nada é forçado, tudo é bem feito e tratado de forma harmônica e respeitosa. Não temos clichês de nada aqui. Gostei de como o autor tratou um tem tão belo e delicado com atenção. Para entendermos o impacto do que acontece na narrativa se faz essencial captarmos o quanto os dois personagens se complementam. Outro ponto bacana é que o autor nos mostra que eles precisam superar obstáculos como preconceito e incompreensão das outras pessoas. E isso pode se tornar uma barreira para ambos. Mesmo assim, seus sentimentos são fortes e eles enfrentam essa luta de peito aberto.
Entretanto, não consegui entrar na narrativa em nenhum momento. Embora eu tenha gostado de como o autor modificou determinados conceitos que são levados quase que como senso comum em narrativas, não tive empatia pelos problemas vividos por eles. A história não ressoou para mim. Achei que faltou um algo mais. E a entrada do elemento fantástico tão subitamente na narrativa, sem uma apresentação ou uma insinuação prévia, não ajudou nem um pouco no caso. Claro que ter empregado uma narrativa em primeira pessoa foi uma decisão bastante acertada do autor, ao dar uma abordagem íntima e pessoal. Só que no longo prazo, era preciso gostar do personagem ou sentir empatia por ele. Coisa que não aconteceu. O problema pode ter sido eu mesmo, mas, enfim, para mim não funcionou. Só que é uma história recomendadíssima até pela maneira como clichês foram subvertidos.
Ficha Técnica:
Nome: Por um Preço Adequado
Autor: Miguel Dracul
Editora: Revista Trasgo
Número de Páginas: 37
Ano de Publicação: 2020
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