A Terra finalmente entra em contato com alienígenas. Estes não tem intenção de invadir ou destruir a Terra, mas de transformá-la em um entreposto comercial. A partir da construção do porto, as relações entre humanos e alienígenas se tornam muito confusas. Vamos acompanhar uma unidade voltada para lidar com estes casos.
Sinopse:
Imagine se os alienígenas viessem à Terra não em guerra ou em paz, mas com uma proposta de negócios: abrir um espaçoporto na Terra em troca de tecnologia avançada. Mas quando nossos visitantes alienígenas quebram as restrições portuárias e causam o caos em nossas cidades, cabe aos recém-formados agentes de segurança da Terra caçar e deportar com seguranças alienígenas fugitivos e perigosos de volta ao Porto da Terra. Um thriller de ação scifi escrito por Zack Kaplan e Andrea Mutti.
Viemos a negócios...
A proposta de Kaplan é bem interessante. Ao invés do clichê do invasor alienígena, temos o ser de negócios. Não há nada dramático nisso. A abertura de um entreposto porque a Terra fica em um lugar bem posicionado na Via Láctea, de onde inúmeras raças alienígenas podem reabastecer ou estacionar suas naves. Em troca, a Terra receberia algumas tecnologias avançadas pelo transtorno causado. Qualquer alienígena fugitivo deve ser lidado com cuidado, e nenhum tipo de violência é permitido dentro dos limites do possível. Ou seja, as forças de segurança não podem machucar de nenhuma forma qualquer alienígena. Esse é o mote para a ambientação de Port of Earth.
Zack Kaplan tem uma boa pegada de ficção científica. Ele consegue entregar um thriller sem ser verborrágico demais. Ao ler Port of Earth, o leitor vai traçar várias comparações com MIB - Homens de Preto. Não digo em relação ao ambiente de espionagem, mas o da existência de vários tipos diferentes (e bem loucos) de alienígenas e os terrestres precisando lidar com eles. Mas, as comparações terminam aqui. Kaplan usa o mote para trabalhar a temática de duas formas: a partir de um viés político, inserindo várias discussões sobre interesses, segurança e benefícios; e outro de ação, onde um grupo de soldados precisa lidar com alienígenas dos mais diferentes tipos. Eu gostei do roteiro de Kaplan e ele combina bastante com o gênero scifi. Existe até a preocupação em entregar extras detalhados como tipos de naves, características de várias raças alienígenas, as forças de segurança e empresariais terrestres que lidam com o porto. Aquele tipo de informação que o fã de boas histórias scifi vai curtir.
No início de cada capítulo temos a dinâmica de uma espécie de programa de entrevistas onde uma repórter coloca o representante do consórcio que lida com os alienígenas na berlinda. Ela questiona uma série de situações referentes ao porto e a como a Terra está ou não se submetendo aos alienígenas. O que é transparente de cara é em o quanto o acordo não beneficia a Terra, mas um pequeno grupo de capitalistas obcecados em lucrar com esse novo contexto. O representante acaba cedendo à repórter e usando aquele discurso empresarial conhecido de que hoje nós teríamos problemas com eles, mas no futuro tudo valeria a pena. Isso começa a mudar lá pelo volume 4 quando lemos relatos de alienígenas aparecendo em diversas partes do mundo causando o caos completo. Milhares de mortos quando alienígenas decidem comer os integrantes de uma cidade, espalham gás venenoso, abduzem para experimentos. Se no começo temos um discurso típico empresarial, isso começa a mudar rapidamente à medida em que a violência transborda, e o profissionalismo se transforma em condescendência.
Mesmo a justificativa da troca por tecnologias mais avançadas começa a cair por Terra diante dos questionamentos da repórter. Será mesmo que os alienígenas estão oferecendo boas tecnologias para os terráqueos? Eles estão realmente dividindo coisas que seriam úteis? O motor que usa água como combustível é a chave da questão e a menina dos olhos dos cientistas. Mas, o que me parece é que é como se a gente entregasse um desintegrador nas mãos de uma criança de 4 anos sem dizer como funciona. Ela só sabe que o desintegrador transforma a coisas em pó. Lentamente os benefícios tecnológicos vão se tornando bombas ambulantes nas mãos dos cientistas que não fazem ideia de como lidar com.
... e causamos o caos
No meio disso temos uma unidade de segurança que precisa buscar um suposto alienígena que teria se escondido próximo ao porto. Rice e McIntyre são enviados até lá para apreender e deportar. Rice é o cara "bonzinho" da história: deseja o desenvolvimento do homem, entende a necessidade de lidar com os problemas com diplomacia e tem uma namorada cientista. McIntyre é um cara mais experiente e entende que esse tipo de relação só vai prejudicar as pessoas. Enxerga o mundo em preto e branco, e só quer esses alienígenas nojentos fora do seu mundo. Se precisar, ele vai dar um tiro no meio da cabeça deles (onde quer a cabeça deles fique). Então a gente tem essa dinâmica simples e óbvia entre dois indivíduos que compartilham de ideias opostas. Algo que já cansamos de ver em filmes como Máquina Mortífera. Os dois agentes vão ter aquele choque de ideias e Rice, inicialmente, vai levar a melhor, fazendo com que McIntyre trabalhe ao seu lado.
Mas, as situações com fugitivos alienígenas vão se complicando quando um ser potencialmente perigoso parece ter intenções de sabotar o projeto do Porto da Terra. Ele sai atrás de alvos aparentemente aleatórios até que as coisas começam a fazer sentido pouco a pouco. É aí que o que parecia ser uma HQ de ação, se torna em um thriller scifi em que os dois agentes vão precisar trabalhar juntos para descobrir os planos desse ser. No final do quarto capítulo temos momentos bem explosivos em um cenário que me lembrou bastante os filmes do Alien.
Ação ininterrupta
O que eu posso elogiar do traço do Mutti é em como ele consegue entregar boas cenas de ação. É complicado criar momentos de suspense em um quadrinho em que o leitor consiga se engajar, sentindo toda a pressão daquele momento. O artista sabe trabalhar bem com sombras e luzes, instigando o sentimento de expectativa do leitor. Sabe quando você vira um corredor e teme pela sua vida, já que um ser horrível pode estar à sua espreita? Os visuais das raças alienígenas também são bem bizarras e o artista sabe trabalhar com tipos diferentes de formato corporal. Isso ajuda e muito, principalmente porque o Kaplan cria uns alienígenas bem malucos e curiosos.
Entretanto, não gostei muito da arte. Eu entendi que a ideia da HQ é ser cinzenta e escura, mas o emprego do branco em excesso acabou me desagradando. Em certos momentos, os cenários parecem feios e estranhos. Isso apesar de Mutti saber dar bastante detalhes aos elementos mais scifi. Mas, eu não consegui gostar dessa palheta clara demais; achei até que por ser uma HQ mais de suspense, ele iria empregar cores mais escuras. O design de personagens é normal, nada espetacular e segue aquele padrão de comics americano. Não causa estranhamento no leitor. No começo a quadrinização pode incomodar por conta daquele trecho de reportagem que eu comentei no início. Recomendo aos leitores que sejam pacientes e passem essa parte. Ele consegue entregar boas cenas e, como eu disse, o detalhamento do cenário é muito bom.
Port of Earth é uma boa HQ de ficção científica. Não vai inventar a roda ou ser revolucionária, mas vai entregar ao leitor uma narrativa competente e alguns questionamentos que vão colocar uma pulga na orelha do leitor. Kaplan já está ficando famoso por entregar boas histórias de scifi e esta não é diferente. Já a arte é normal, com algumas qualidade e alguns defeitos. Não achei nada extraordinário até porque a palheta de cores muito clara me incomodou.
Ficha Técnica:
Nome: Port of Earth vol. 1
Autor: Zack Kaplan
Artista: Andrea Mutti
Editora: Image Comics
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 128
Ano de Publicação: 2018
Outros Volumes:
Volume 2
Volume 3
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