Alicia vive em uma vila simples no interior da Vandália. Apaixonada por Bento e pelo combate de espadas, sua vida mudará para sempre após uma série de ataques de bandidos em sua casa. Forças das trevas maquinam o retorno dos demônios e Alicia estará no meio deste furacão.
Sinopse:
“Aqueles atraídos pelo Abismo estão destinados a encontrá-lo”.
Alicia é uma fazendeira de vida simples. Seus únicos sonhos são passar a vida ao lado do noivo e cuidar das tarefas do campo.
Sonhos que são despedaçados quando mercenários atacam seu vilarejo e deixam um rastro de fumaça, cinzas e sangue.
Algo acorda dentro de Alicia. Uma sede de vingança a domina e exige morte para se saciar.
Em seu caminho pavimentado pelo ódio, Alicia enfrentará os dinossauros que assolam o Norte, golems avançados, soldados corruptos e uma conspiração envolvendo demônios, necromantes e a magia de sangue proibida no reino. Mas sua maior luta será para manter a própria humanidade enquanto mergulha no Abismo.
Já conheço um pouco do trabalho do Thiago desde o ano passado quando eu li o incrível Limbo. Foi uma das melhores leituras que eu havia feito em 2016. Me pegou de surpresa quando ele anunciou o lançamento de Promessa de Fogo. Corri atrás do título e o autor gentilmente me ofereceu o ebook para resenhar. Simplesmente porque eu já imaginava que vinha algo muito bom. E não me arrependi. Um livro de fantasia que vai te surpreender pelas apostas que o autor fez e algumas inversões de clichês típicos do gênero.
Posso dizer com convicção que a escrita do Thiago melhorou muito. Ela já era muito boa em Limbo e aqui só vi algo acima do que já tinha experimentado. Agora o autor precisa lidar com uma série, ou seja, ele vai precisar escrever de acordo, dosando alguma coisa aqui, trabalhando outra coisa ali. Escrever um livro fechado em si mesmo é um pouco mais simples. Isso porque se torna necessário trabalhar com um todo maior, sem entregar todas as surpresas de cara. Talvez isso até tenha prejudicado mais adiante quando eu falar da narrativa, mas a escrita está impecável. Outra coisa que me deixa muito feliz é que o livro é bem revisado, ou seja, se existem problemas no texto eu não fui capaz de enxergar. Os diálogos estão bem trabalhados, condizendo com as vozes dos personagens.
A narrativa é em terceira pessoa, onisciente. O autor pode ter preferido dessa forma para trabalhar todos os núcleos da história. Isso dá liberdade a ele. Mesmo assim, ele procura focar principalmente no grupo de Alicia e, mais tarde, em Olga. É até bom ele não dividir demais a sua narrativa, caso contrário isso pode lhe criar complicadores em volumes posteriores da história.
Os personagens são bem construídos, com suas individualidades e problemas. Ficamos principalmente com Alicia, Matilda e Charlotte. Thiago conseguiu dar uma boa noção do funcionamento da psiquê das personagens. E o mais legal: ele apostou em um trio de protagonistas mulheres. Palmas para o autor. Se formos pensar a respeito, fora alguns personagens de suporte e mais tarde um que entra para o grupo, são poucos os personagens masculinos presentes. Lógico que o autor não vai poder manter isso em todos os volumes, caso contrário seria privilegiar apenas um gênero. Mas, só o fato de ele ter feito esse uso em uma série de fantasia épica (que é tão masculinizada sempre) é elogiável. Não só isso como colocou um casal homoafetivo não forçado e cuja relação é muito doce. Para mim, Matilda e Charlotte roubam a cena no livro por conta de seus mistérios, tristezas e segredos. O leitor acaba torcendo pela dupla, que mesmo sendo duas mulheres fortes e poderosas, possuem suas fragilidades e medos. Nesse sentido, Thiago deu muita profundidade a ambas e quando as cartas são jogadas à mesa, vemos o quanto isso afeta tanto uma como a outra.
“Para ela, o objeto era como a vida de Bento, como o amor dele, como sua personalidade. Bento era ferro. Simples, honesto e difícil de quebrar.”
Já de Alicia eu não gostei tanto. Não por conta de seu protagonismo ou do direcionamento da história em relação à sua condição e sua angústia. A fúria e o ódio da personagem acabam desfocando-a demais em relação ao que o autor deseja apresentar. Percebi o que estava acontecendo e entendi aonde o autor queria chegar, mas eu acho que ele errou a mão nesse sentido. Ficou exagerado demais. Seria possível trabalhar a ira de outras maneiras.Alguns diálogos chegavam até a incomodar e me lembrou um pouco o Jorg, de Prince of Thorns. Um personagem que no primeiro volume era mal construído pelo Lawrence e eu defini na época como um "malvadinho chato". Aqui a Alicia me parece mais nervosinha do que com ódio de seu oponente. No final de Promessa de Fogo sim, eu achei que o autor encontrou o ponto certo quando acontece uma discussão importante para os rumos da série no próximo volume.
Impossível eu não comentar sobre os sáurios e os demônios. Finalmente algum autor conseguiu me entregar um trabalho legal com dinossauros em um universo fantástico. E nada mais feliz do que ser um trabalho de um autor nacional. Que Senhores dos Dinossauros, que nada!!! Sou mais Promessa de Fogo. Alguns vão dizer que o autor não entregou muito nesse sentido neste volume, mas pelo que eu conheço do autor, ele dá indícios de que a presença dos sáurios vai ser importante mais à frente. Em nenhum momento o autor ficou de fanboy mostrando os seus lindos dinossauros como foi feito no livro citado. Nada disso. Eles foram apresentados como criaturas que impactam a maneira como os humanos sobrevivem no mundo. Alguns deles são domesticados, mas a maioria é selvagem. Tem uma passagem insana com um quetzalcoatl.
E, como assim???? Culto dos demônios? Os demônios irão voltar e salvar a humanidade? Salvar???? Ótima inversão de clichês. Claro, a gente percebe indícios de que as coisas não são como parecem, mas só isso já me agradou muito. E os demônios acabam fazendo parte importante desse primeiro volume. Além disso, temos também um mundo onde existe a pólvora e até seres mecânicos, apesar de um pouco raros. Nada muito exagerado, tudo de forma a equilibrar bastante a condução da narrativa. São muitas questões a serem resolvidas futuramente.
Minha crítica no aspecto narrativo é a construção de mundo. Achei que muito não foi dito e isso pode prejudicar o autor em futuros volumes. Geralmente, autores de fantasia deixam para fazer esse infodump no primeiro volume. Dessa forma em histórias subsequentes, tudo o que eles precisam fazer é subir um pouco mais a história. O grosso acaba ficando para trás e não há uma necessidade urgente de explicar muita coisa. Não à toa, no final deste livro, o autor precisou escrever um capítulo bem pesado com explicações. É algo que pode ser solucionado até de formas indiretas. O ritmo da história é muito bom. Ia ser muito chato se o autor precisasse mudá-lo por conta de um excesso de explicações. Como eu ia mencionando, esse trabalho de infodump pode ser feito em pequenos contos ou novellas que antecedem um possível segundo volume. Um autor que faz muito isso é o McClellan que aprofunda o seu mundo em pequenos contos e novellas.
"Toda decisão significa um abandono. Cada escolha deixa outra opção para trás. Sempre haverá arrependimentos, sempre haverá “o que poderia ter sido”. Um mundo de possibilidades sempre seria destruído ao agarrar-se a uma escolha. O que importava era resolver com qual delas seria mais fácil viver."
Promessa de Fogo é o começo de uma grande série. Temos muitas ideias apresentadas no romance que podem vir a gerar muitos bons desenvolvimentos. Com uma escrita em seu melhor, Thiago nos apresenta uma história contendo demônios, dinossauros, espingardas e mais coisas que existe entre o mundo terreno e o Abismo. Com uma protagonista que ainda precisa ser melhor trabalhada, mas um casal homoafetivo que rouba a cena, o romance nos apresenta uma história de amor e o quanto a perda daquilo que amamos pode nos causar uma dor que pode levar a uma fúria infinita. Estou ansioso por mais!!
Ficha Técnica:
Nome: Promessa de Fogo
Autor: Thiago D'Evecque
Série: Abismo vol. 1
Editora: AutoPublicado
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 206
Ano de Publicação: 2017
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