Em um mundo de magia e pólvora, uma revolução desencadeada por membros desgostosos dentro do governo, causa o caos no reino. E o abre a potenciais perigos ancestrais.
Sinopse:
É um negócio sangrento derrubar um rei...
O golpe de estado do Marechal Tamas contra o rei mandou aristocratas corruptos para a guilhotina e trouxe pão àqueles que sentiam fome. Mas também provocou uma guerra com as Nove Nações, ataques internos de fanáticos legalistas e a ambição de supostos aliados de Tamas que querem dividir o dinheiro e o poder.
Está nos ombros de poucos...
Levado ao seu limite, Tamas está contando com os poucos magos da pólvora restantes incluindo o irritadiço Taniel, um talentoso atirador que também é seu filho pródigo, e Adamat, um inspetor de polícia aposentado cuja lealdade está sendo testada através de um suborno.
Mas, quando os deuses estão envolvidos... Agora, com os ataques agredindo os revoltosos de fora e de entro, os fiéis estão sussurrando sobre profecias de morte e destruição. Apenas velhas lendas camponesas sobre deuses caminhando na terra. Nenhum homem moderno e educado acreditaria neste tipo de coisa. Mas, eles deveriam...
O primeiro volume em uma série é sempre muito convoluto. O autor geralmente precisa se desdobrar entre apresentar o mundo e os personagens e conduzir sua história. Normalmente o início é sempre lento e pesaroso e o final geralmente é insatisfatório. Os leitores sempre reclamam de que queriam ver mais ou o final não teve aquele impacto esperado e apenas jogou ganchos para o próximo volume. Brian McClellan conseguiu dar dinamismo no início, mudando um pouco a dinâmica. Mas o final, para mim, foi insatisfatório. Longe de ser ruim, mas o momento do clímax acabou não entregando o que o autor havia construído tão bem.
Brian optou por usar três pontos de vista: Taniel, Tamas e Adamat. Estes são os seus três protagonistas. Dos três personagens, Tamas é o que recebe mais protagonismo. Assim como seu filho Taniel, Tamas é um mago da pólvora. Eles utilizam este elemento de diversas maneiras diferentes: podem aumentar a distância de um tiro, podem explodi-la à distância, podem teleguiar o disparo, podem engoli-la para enrijecer o corpo, podem cheirá-la para tornar os cinco sentidos mais apurados. Aliás, Brian é da escola de Brandon Sanderson, pois pegou as regras normais da magia (com base na obra tolkieniana) e deu uma chacoalhada para criar algo novo e original. A relação entre os magos da pólvora, Privilegiados, Peculiares (minha tradução livre de Knacked) e os Predeii é extremamente rica em detalhes. Compreender o sistema de magias é importante para a apreensão da história.
Tudo começa com um golpe de Estado tramado por um grupo secreto liderado por Tamas. Estes derrubaram o rei e aniquilaram os Privilegiados que formavam a guarda de elite do rei. A partir de então, Tamas e seu grupo precisam se sentar para organizar um novo governo. E este não pode ser monárquico porque isto retomaria a exploração feita pelo rei recém-destronado e sua casta de nobres. A nação rival de Kez, que havia arranjado termos de vassalagem para a cidade de Adopest junto com o antigo rei, se aproxima para uma tomada hostil. Junte a isso um antigo deus que deseja retornar à vida e cumprir sua profecia de sangue.
O golpe de Estado proposto por Tamas tem a intenção de ser uma espécie de Revolução Francesa das histórias de fantasia. Claro que alguns elementos não batem, mas temos quase tudo ali: um nacionalismo obtido a ferro e fogo, a presença essencial de uma classe burguesa formada por poderosos donos de rotas comerciais e até uma organização sindical que procura ampliar sua esfera de influência. A rivalidade entre Kez e Adopest é o confronto entre o Antigo Regime e o Iluminismo. Tamas tem todas as características de um homem típico do Iluminismo. Brian provavelmente se baseou nas críticas de Montesquieu feitas ao Antigo Regime: o domínio dos nobres, a desigualdade social e a extrema centralização política. Até mesmo as roupas dos homens de Tamas lembram o modelo francês após a criação da conscrição por Napoleão Bonaparte no final da Revolução Francesa. Para Tamas, tudo pode ser explicado através da razão e da lógica. A religião é o domínio do sobrenatural, sendo apenas a justificativa de homens tolos para não conseguir explicar determinados fenômenos da natureza. Vamos nos recordar de que a maioria dos pensadores iluministas, inclusive Montesquieu, propunham a separação completa entre Estado e Igreja, formando assim um estado laico. Mas, as crenças de Tamas serão postas em xeque com o aparecimento de um chef de cozinha que se diz ser a reencarnação do deus Adom, um deus menor no mundo criado pelo autor. Tamas quer fazer o possível para provar que o chef é apenas um Peculiar com delírios de grandeza.
Mas, nem tudo é entendimento entre o grupo de Tamas. Alguns monarquistas persistem em sua resistência, tendo o apoio de um traidor infiltrado no grupo de Tamas. E esse traidor parece estar fornecendo informações privilegiadas a Kez. Tamas contrata Adamat, o investigador para dar luz à situação. Nos momentos em que a ação acontece no ponto de vista de Adamat, a história adota um contorno meio noir. Eu consigo imaginar Adamat como sendo aquele detetive particular, a la Dick Tracy. Gosto desta maneira como o autor gosta de, repentinamente, mudar completamente o estilo de escrita. O personagem é um homem de família que, além de investigar o possível traidor, precisa lidar com o estranho Lorde Vetas que possui seus próprios interesses.
Deixei Taniel por último porque este parece ter uma história que será melhor desenvolvida nos próximos volumes. Ao retornar de Fatrasta, um território que assim como Adopest sofre o assédio de Kez, encontra sua prometida nos braços de outro homem. Ela, também uma maga da pólvora, acabou cedendo à sedução de um homem contratado por uma família rival para destruir a união entre ela e Taniel. Isso poderia dar a Tamas muito poder de barganha entre seus aliados. Mesmo compreendendo que a culpa do ocorrido não foi inteiramente de sua prometida, seu orgulho foi ferido e a chama de sua paixão foi substituída pelo extremo oposto. Taniel retornou de Fatrasta com uma estranha companheira, a jovem Ka-Poel, uma selvagem muda que ele salvou e agora lhe tem uma dívida de gratidão. Mas, a relação entre Taniel e Pole vai mudando ao longo da história. A dedicação e lealdade de Pole lentamente alcançam o coração de Taniel. Se antes Taniel enxergava-a como uma selvagem jovem demais, ele começa a mudar de opinião quando eles seguem para as montanhas Shouldercrown. Me parece que o triângulo amoroso entre a ex-prometida arrependida, a sedutora selvagem e Taniel pode ser um dos temas a serem explorados a seguir.
Outro tema muito interessante em Promise of Blood é a cegueira da pólvora. Magos que inalam muita pólvora acabam se tornando viciados. Isso porque a pólvora fornece uma certa “clareza” ao mundo. Taniel é viciado em pólvora e, para tomar algumas decisões difíceis ou para conseguir passar por situações perigosas precisa cheirar um pouco da substância. Quando Tamas é gravemente ferido, ele utiliza a pólvora como analgésico e precisa lidar posteriormente com os efeitos da abstinência. É um tema que despertou a minha atenção e faz todo o sentido dentro do universo criado pelo autor.
Eu poderia falar um pouco sobre a estranha mágica de Pole que parece pegar elementos de vodu, mas prefiro esperar o segundo volume para ver como o autor desenvolve a personagem. Brian não apresentou direito os limites das habilidades de Pole. Enfim, a obra é riquíssima em temas e foge um pouco do lugar comum da fantasia.
Ficha Técnica:
Nome: Promise of Blood Autor: Brian McClellan Série: The Powder Mage vol. 1 Editora: Orbit Gênero: Fantasia Número de Páginas: 608 Ano de Publicação: 2014
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