Em um hospital intergaláctico, as emergências acontecem o tempo inteiro. Raças alienígenas extremamente diferentes precisam de atendimento médico. E cabe a Conway e sua equipe cuidar deles. Vamos ver um dia na vida destes bravos profissionais.
Depois de ler Sector General eu cheguei à conclusão de que todo o tipo de histórias já foram criadas em ficção científica. Somos apresentados a uma espécie de hospital espacial que fica no entroncamento de várias rotas de civilizações alienígenas e ali são tratados todo o tipo de emergências. Sim, é isso que você imaginou: você está diante de um Plantão Médico do espaço.
Conway é um médico iniciante no Sector General. Ele é um médico que até o momento só havia lidado com seres humanos que haviam se ferido ou chegavam com alguma doença estranha. Mas, quando um Telfi (um ser de pura luz que se alimenta de radioatividade) chega ao hospital, Conway é um dos poucos médicos disponíveis. Ele vai até O'Mara, uma espécie de psicólogo, e obtém os conhecimentos sobre os Telfi através de um implante de memórias no cérebro. Só que junto com os conhecimentos, uma parte da personalidade do alienígena vai junto e nosso protagonista passa a ficar com um humor vacilando entre a depressão de estar sozinho e a vontade de ser aprovado pelos outros. Mais tarde, um acidente no hospital vai fazer com que os médicos precisem chegar aos seus limites para salvar seus pacientes de um ser alienígena que está matando a tudo e a todos.
[Respirando fundo]... Como fazer uma resenha disso? Bem, em primeiro lugar e já destacando o único ponto negativo da história: a escrita. Achei a escrita bem pouco agradável e em vários momentos eu precisei voltar algumas páginas e ler novamente para ver se eu consegui pegar algumas informações pertinentes. O autor usa jargões médicos e científicos em boa parte da história o que ajuda a complicar ainda mais a compreensão do que está acontecendo. E o curioso é que nessa novella (70 páginas é uma novella já) nem tem tantos casos médicos assim. O protagonista apresenta questões muito mais filosóficas do que simples hard scifi. Mas, mesmo assim o autor conseguiu complicar bastante o acompanhamento da narrativa. Mesmo sendo grande, a novella é bem divididinha em cenas que compõem subseções da história. Isso pode ajudar àqueles leitores que não estiverem caminhando muito bem na história a parar em um ponto específico para depois retomar. A narrativa é feita em terceira pessoa, acompanhando o protagonista Conway. Ele serve também como personagem-orelha já que ele ainda está aprendendo boa parte do funcionamento das coisas dentro da estação e se depara com uma série de informações sigilosas que antes ele não sabia.
Conway é um protagonista muito bem trabalhado por James White. Apesar de a visão do personagem ser utópica por demais, já que ele é um pacifista extremo, a maneira como o autor coloca essa característica como uma desvantagem é o que faz girar a história. As diferenças que Conway tem com os Monitores, uma espécie de médicos alienígenas misturados com tropa de defesa é um debate intelectual entre ser médico e salvar vidas e proteger seus pacientes e tirar vidas. Para mim esta é uma história cujo tema central é o amadurecimento do protagonista que tem uma visão muito estreita das coisas. O que os Monitores colocam para ele é que as situações precisam ser analisadas de acordo com as circunstâncias exigidas. O mundo não é em preto e branco; algumas vezes um homem precisa tomar decisões difíceis que vão exigir dele uma tomada de consciência. Tem uma cena mais para a frente na história que o personagem usa o juramento de Hipócrates como uma justificação para uma inação. Sabe quando dá vontade de entrar na história e dar uns tapas no personagem para que ele faça logo o que tem que ser feito. Só por conta disso vou aplaudir o autor por criar um personagem no qual a gente pode se relacionar.
Mas, eu preciso destacar algo que para mim é uma crítica ferrenha nesta história: em mais de 70 páginas, não tem nenhuma personagem mulher. Só fui me dar conta disso depois. Não tem uma médica, enfermeira, soldado, alienígena, turista, gari, nada... nenhuma. Este tipo de sanitização de gênero às vezes me irrita na era clássica dos autores de ficção científica. Okay, pelo menos o James White não foi igual ao Asimov e colocou uma mulher como um penduricalho na história. Ao menos isso... Porém, incomoda e muito.
Outro tema abordado na história é o do contato com outras raças alienígenas. O que deu para entender na narrativa é que os humanos vivem em uma espécie de proteção sobre o que acontece no mundo lá fora. Isso demonstra o quanto somos insignificantes na grande organização do universo. Temos nossa vida e nossa existência que não são importantes para as grandes decisões e os humanos não precisam saber de tudo. Basta dar a eles o suficiente para sobreviver e serem felizes em seu pequeno cantinho do universo. Muitos romances dessa época lidaram com esse trope, esse gênero de histórias. O final da década de 1950 é o momento em que estamos tentando a todo custo chegar ao espaço, mas as dificuldades são enormes e isso se reflete naquilo que é produzido literariamente. Ao final da novella (que parece compor uma série de outras novellas, sendo essa a primeira) Conway sabe apenas um pouquinho mais do que sabia no começo da história.
Ah, preciso falar sobre a maldita classificação de tipos de alienígenas. Caramba, o autor fica citando durante toda a narrativa ACMO, AADL, AGFE... e eu sem entender patavinas do que ele está falando. No final da porcaria da novella ele me coloca três parágrafos explicando o que significa cada uma delas: tipo de alienígena, quantidade de membros, como absorve nutrientes e em que tipo de atmosfera vive. Custava pôr essa explicação no começo?
No mais, vale no mínimo para saciar a curiosidade de ver uma novella sobre um Plantão Médico no espaço. O protagonista é muito interessante pela forma como o autor faz para que ele amadureça ao longo da narrativa. O tema de contato imediato faz parte de forma secundária já que Conway precisa conhecer tipos diferentes de alienígena na história.
Ficha Técnica:
Nome: Sector General
Autor: James White
Publicado originalmente em 1957
Compõe a coletânea The Big Book of Science Fiction
Organizado por Jeff Vandermeer e Ann Vandermeer
Editora: Vintage
Ano de Publicação: 2016
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