55 colegiais de diferentes escolas japonesas se atiram na frente de um trem em uma tarde de maio. Apenas uma sobrevive. O que as levou a cometer esse ato? E por que apenas Saya sobreviveu?
Sinopse:
Esta é a macabra história do suicídio coletivo de 54 garotas, todas estudantes. Elas se atiram na frente do metrô, causando enorme comoção pública. Uma série de outras mortes de grupos espalhados por todo o país deixa a equipe do detetive Kuroda em pânico. Eles correm contra o tempo e as pistas mais atrapalham do que ajudam. Neste suspense de alto teor psicológico nada é tão simples como parece.
Esta é uma história com vários toques de crítica social. Uma sociedade regrada por modas e pessoas querendo acreditar em algo. O autor conseguiu pintar o ambiente escolar de uma forma assustadora. Saya Kota é uma personagem extremamente real que qualquer um de nós pode conhecer de nossas convivências com vizinhos ou como colega de nossos filhos. Mas, eu admito que fiquei bastante dividido com esse mangá.
A escrita do autor é bem crua e direta. Ele não afaga o leitor e nem reduz os socos no estômago. O que ele conta nas 168 páginas desse mangá é uma história bem realista (tem uma parte no final que não é e isso me incomodou, mas já, já, chego lá). Gostei imensamente da primeira parte do roteiro da história. Essa é a parte que pega mais na crítica social e ao modelo escolar no Japão. A segunda parte quando ele enxerta elementos de terror ficou estranho e deslocado. Isso é uma mania em muitos roteiristas japoneses que acabam complicando uma história que poderia ser bem simples. Não havia a menor necessidade de inserir elementos sobrenaturais. Tudo já era impactante sem a necessidade de colocar um algo mais.
Antes de focar nos temas da história, deixe eu fazer alguns breves comentários sobre os desenhos. Achei-os bem medianos, mais para o baixo do que para o bom com algumas exceções no estilo de desenho do autor. A história não exigia grandes quadros, sendo mais focado nas personagens e em suas ações. Tem uma cena em que ele mostra alguns machucados no corpo de Saya que não me pareceu tão impactante assim. Uma menina que sofre muitos hematomas advindos de violência sexual fica com marcas bem mais profundas no corpo. Tirando os cortes nos pulsos e um ou dois roxos na barriga, parecia que a personagem não havia sofrido tanto. E a cena pedia algo de impacto para chocar a Kyoko que estava ali observando sua amiga naquele estado. Entretanto, gosto demais como o autor criou a atmosfera de boatos e pequenos comentários na escola enquanto a Saya ou a Kyoko passavam pelo corredor. Ora ele empregava silhuetas no fundo, ora ele colocava bocas e lábios imitando os burburinhos feitos entre as alunas. Nesse ponto, o autor foi muito feliz. As cenas de grande impacto são incríveis. A cena do suicídio coletivo (não é spoiler, gente... acontece na página 2) consegue passar para o leitor toda a violência daquele ato conjunto. Ah... para os desavisados: esse é um mangá para maiores de 18 anos, tá, gente. Tem cenas bem explícitas no mangá. E não se trata de um pornô não. É apenas um mangá que vai tratar de maneira bem séria da prostituição juvenil no Japão.
E aqui eu entro nos temas propriamente ditos. Até é preciso localizar em parte o mangá porque algumas coisas trabalhadas pelo autor são bem específicas da sociedade japonesa. A situação vivida pela Saya, a formação de clubes na escola entre outros pequenos detalhes. Porém, e começo por este tema, a prostituição juvenil é um tema que precisa ser mais debatido nas escolas. Saya acaba se envolvendo nessa vida por questões pessoais. Até acho que o autor precisava ter trabalhado um pouco mais porque ficou muito solta essa parte. Que problemas mentais o pai de Saya tinha? Para ela surtar a esse ponto, foi uma situação séria e importante para a formação do caráter da personagem. O tema é tratado abertamente e chega a incomodar um pouco o leitor. E é essa a intenção do autor, o que ele consegue fazer de uma maneira aberta e respeitosa.
A amizade entre Saya e Kyoko também é uma das molas que carregam a narrativa. Uma dependia da outra, apesar de que Kyoko vai se dar conta disso muito depois. Achei outra falha de roteiro aqui porque a Kyoko alega que Saya foi importante para ela em um determinado momento de sua vida quando ela passou por problemas familiares. Mas, isso só vamos ficar sabendo muito depois. E era um fato importante para a narrativa. O afastamento entre duas amigas é um acontecimento natural. Muitas coisas que consideramos eternas no tempo da escola acabam se esfacelando porque a vida acontece. Surgem outras preocupações, novos problemas, novas responsabilidades. Até entendo que a Kyoko se sinta em parte responsável pelo que a Saya passou, mas é preciso entender que ela própria é responsável por suas decisões. Me preocupa um pouco esse encaminhamento do roteiro para uma culpabilização da outra personagem. E até entendo que é para dar uma certa dramaticidade ao que aconteceu à Saya.
Não gostei da pegada sobrenatural no final da história. Eu achei que não combinou com a proposta inicial colocada pelo autor. Poderia ser apenas um clube passado de menina para menina a partir de pessoas com um forte carisma ou cuja atenção é conquistada a partir de uma fama fugaz. Mas, não foi isso o que aconteceu. Até são elementos bem leves, mas acabam desviando completamente o foco da história no final. Sei lá. Não combinou para mim.
Para fechar, queria mencionar um pouco a questão da popularidade e da crença. Para mim este é o ponto alto do roteiro do autor. Ele nos mostra como temos toda uma massa de adolescentes com problemas que acabam buscando nos lugares errados a inspiração para solucionar situações emocionais que eles passam. E o poder da internet por trás de um simples fórum. E olhe que estamos falando de um mangá escrito em 2001 onde não havia as redes sociais com tanta importância como temos hoje. Saya descobre a auto-mutilação através de seus gostos musicais; as meninas fazem seus comentários que se espalham rapidamente pela internet. E a rapidez com a qual essas informações se espalham é vertiginosa. E o quanto isso pode afetar uma pessoa em um ambiente tão tenso como é o da escola.
Suicide Club é um mangá impactante apesar de ter os seus problemas. São temas extremamente importantes e críticos em uma sociedade que vive de aparências. As personagens são bem trabalhadas apesar de que na segunda metade a história descamba para um roteiro sobrenatural que em nada combina com a proposta inicial. Os traços são medianos apesar de alguns truques de imagem que o autor emprega em certos quadros.
Ficha Técnica:
Nome: Suicide Club Autor: Usumaru Furuya Editora: New Pop (no Brasil) Gênero: Suspense/Terror Tradutor: Denis Kei Kimura Número de Páginas: 168 Ano de Publicação: 2017
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