Neste volume veremos como a noção de fã pode ser levada às últimas consequências. Novos deuses passarão a ser apresentados ao panteão. E será que podem existir mais do que 12 deuses neste ciclo?
Sinopse:
Imortal não significa viver para sempre... A cada 90 anos, aproximadamente, doze deuses reencarnam no corpo de jovens adultos. Eles são carismáticos, perspicazes e atraem grandes multidões. São capazes de levar qualquer um ao êxtase. Há rumores de que podem realizar milagres. Eles salvam vidas, seja metafórica ou concretamente. Eles são amados. Eles são odiados. Eles são incríveis. E em menos de dois anos estarão todos mortos. Isso já aconteceu uma vez. E vai acontecer de novo...
Ah, como o autor entende seus fãs. Ele realizou o meu desejo neste segundo volume. Aliás... baixou o espírito de George R.R. Martin no Gillen e ele sai matando a torto e a direito neste volume. A melhor frase que define este volume é: "Você sabe de onde vem a palavra fã? Vem de fanático". Pronto, não preciso falar mais nada deste volume. Seguindo.
Laura continua suas investigações mesmo após a morte de Lúcifer. Ela quer saber quem incriminou Luci mesmo que isso a leve para o lado mais obscuro do panteão. E além disso ela precisa lidar com a possibilidade de que ela não recebeu poderes vindos de Lúcifer. Ela é apenas uma ser humana normal convivendo com seres divinos e além de sua imaginação. E será que isso é tão ruim? Será que ser um deus é tão bom assim? Baphomet está em uma encruzilhada. Ele quer tentar ser bom, mesmo sendo um deus agressivo e Ananke irá ter uma conversa séria sobre os acontecimentos que se desenrolaram no subterrâneo entre ele e Morrigan. Inanna se envolve na investigação de Laura e ela percebe as qualidades dele. Mas, no final deste volume teremos várias revelações bombásticas. Tantas que o terceiro volume pode não ter mais ninguém.
Visualmente este volume é...Uau... o que é este volume. Okay, eu não gosto tanto de arte digital assim, mas é inegável a qualidade visual apresentada aqui. Os desenhistas piraram completamente neste volume. Utilizaram formas diferentes de apresentar os quadros, splash pages magníficas e novamente se destaca o visual dos personagens. O capítulo da festa de Dionísio é um espetáculo à parte. E eu tenho que concordar com a Laura de que aquela festa não parece ter durado apenas três horas, mas muito mais. O leitor é sugado para dentro de toda aquela celebração do prazer que só um deus como Dionísio pode nos apresentar. O visual dos cenários está muito acima da média. Não tenho nem grau de comparação com o primeiro volume. O que temos aqui é uma explosão de cores por todos os lados: rosa, azul, amarelo, laranja. Todas cores muito fortes e chamativas. E novamente: a série se destaca justamente por causa desse estilo "estou aqui.. me note". Tudo é muito colorido, muito visual.
E a maneira como desenho, cores e narrativa se juntam é fantástico. O autor realmente trabalhou em conjunto com o desenhista e o colorista. Sem esse trabalho conjunto seria impossível testar elementos diferentes de narrativa. Por exemplo, quando Laura vai conversar com um sujeito durante as festividades, temos duas páginas diferentes em que ele apresenta os suspeitos detalhando como eles poderiam ter se infiltrado no tribunal. Mas, a forma como isso é contado é bem diferente, com um visual meio borrado e letras espalhadas pela página. Ou o mapa cheio de marcações da festividade. Parece que aquilo não vai fazer diferença, mas faz sim. Porque o que acontece depois tem a ver com o lugar onde cada um dos personagens está. Faz diferença para que possamos descobrir quem estava por trás dos assassinatos. Outro destaque de experiência narrativa é quando Baphomet leva Laura até a Morrigan. Aquele trecho em que eles estão descendo até o subterrâneo é interessante. Ao mesmo tempo em que a protagonista está pensando nos próximo passos a serem tomados, vemos que as luzes e a nitidez do cenário vão decaindo à medida em que ela é engolida pelas trevas que caracterizam o mundo de Baphomet e da Morrigan. Daria para falar de vários elementos diferenciados de narrativa como o quarto detalhado de Laura, ou o contato de Ananke com mais deuses.
Inanna e Dionísio são os destaques deste volume. Mas, me chamou a atenção Dionisio. Isso porque ele coloca em questão se vale realmente a pena ser um deus. Retomo a minha ideia advinda de Sandman que será que somos nós que precisamos dos deuses ou o contrário. Todos os deuses desta série sofrem com algum tipo de questão ou maldição. Ingenuamente Laura acha que Dionísio é o mais legal e feliz dentre os deuses do panteão, mas o personagem prova justamente o contrário. Ele precisa se sacrificar para que todos possam ter a sua felicidade. Ele age em prol do próximo e não de si mesmo. Woden sofre do mesmo problema, mas ele acaba preferindo adotar uma postura mais egoísta. Ele prefere ajudar a si mesmo e curtir esses dois anos o máximo que ele consegue. E são formas diferentes de encarar a divindade. Aliás, é uma releitura dos mitos greco-romanos já que os deuses para essas culturas tinham sentimentos que nem sempre eram positivos. Hera era ciumenta, Zeus era mulherengo. O que Gillen faz em The Wicked + The Divine é situar esses sentimentos em um pano de fundo atual colocando novas questões para que o leitor possa refletir.
A partir dessa questão da divindade somos colocados diante de outro dilema: até onde a adoração não é fanatismo? Isso porque o assassinato do juiz pode ter sido o ato de um fanático. Diante de um mundo que havia perdido a crença no divino, de repete somos arremessados em um ambiente repleto deles. Nossa própria forma de pensar é questionada. E o fanatismo existe também para a não adoração, para a negação. Se todos eles morrem, então eles não são deuses, certo? O fanatismo leva as pessoas a tomarem atitudes extremas. E o que leva a esse estado de espírito? Podemos até mesmo entender Laura como uma fanática, já que ela tenha uma visão quase cega sobre o panteão. O que acontece com ela ao longo do volume é justamente fruto dessa cegueira que acaba impedindo-a de enxergar os fatos de maneira pragmática. Ela quer saber qual é o papel dela no mundo. Quando lhe é feita a revelação de que ela não poderia ser uma deusa, seu mundo cai por terra. Porque ela estava convencida do contrário. No final do volume ela finalmente consegue entender qual é o papel dela.
Para mim esse foi o melhor volume até o momento. Com vários experimento visuais e splash pages de tirar o fôlego os desenhistas se superaram e muito neste volume. Provavelmente eles captaram de maneira mais perfeita aquilo que Gillen quis dizer com os seus roteiros. E a história avança muito bem, acontecendo determinadas situações que deixam o leitor espantado. Eu quero logo pegar o volume três.
Ficha Técnica:
Nome: The Wicked + The Divine vol. 2: Fandemonium Autor: Kieron Gillen Artistas: Jaimie McKelvie, Matthew Wilson e Stephen Cowles Editora: Geektopia Gênero: Fantasia/Ficção Científica
Número de Páginas: 192
Tradutor: Não Informado Ano de Publicação: 2015
Outros Volumes:
The Wicked + The Divine vol. 4
The Wicked + The Divine vol. 5
The Wicked + The Divine vol. 6
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