Voltando com mais da sua escrita imprópria para menores, Eduardo Kasse nos mostra uma das figuras mais controversas da história da Igreja católica: João XII. Um papa do final do primeiro milênio d.C. e que transformou Roma em um verdadeiro inferno.
Sinopse:
Escritor é convidado a participar de uma coletânea importantíssima. Escreve uma história narrada com muito sangue, suor, sexo e sujeira. Mas a sua ficção, por mais impactante, por mais pesada que pareça, não consegue nem arranhar a realidade crua e agonizante do fim do Saeculum Obscurum.
Essa é a história do papa João XII, um papa cruel, sádico e representando o oposto daquilo que qualquer homem santo deveria ser. Aliás, santo é tudo menos o que ele é. Cercado de mulheres, sexo e morte, ele toca o terror na cidade sagrada. Os bispos e cardeais se veem às voltas com um homem incontrolável cujos desejos e manias colocam tudo aquilo que eles valorizam em risco. Sem poder se livrar dele de forma direta, eles planejam nas sombras. Mas, o homem é inteligente e esperto e somente um descuido de sua parte pode libertar a Igreja de alguém tão maligno.
Fica logo o meu aviso: não é um conto para pessoas sensíveis, tem cenas de sexo até dizer que chega e muito, mas muito pecado. E descrições gráficas. E isso é avisado logo de cara. Então se você não curte, leia outra coisa. Não é o livro para você. Mesmo quem não se importa, como eu, tive que ir preparado e o próprio autor já havia me dito que isso seria o caso. Fui de mente aberta e curti bastante a narrativa. A escrita é bastante objetiva e atende àquilo que o autor pretende. Kasse conseguiu fornecer uma boa base histórica para aquilo que ele imaginava, o que demonstra que ele correu atrás de fontes históricas sobre o assunto. Em um romance histórico, ter essa fundamentação é o que evita as críticas e consegue fornecer um bom contexto a ser trabalhado. E tudo é feito sem precisar traçar grandes explicações, apenas citando lugares e acontecimentos.
Outro ponto que aumenta a minha visão sobre o conto é que Kasse o construiu com uma metanarrativa. Temos um filho que está lendo uma história escrita pelo seu pai. Ele é o primeiro leitor beta dele. É bastante interessante acompanhar as reações do menino porque representa nossa própria maneira de ler a narrativa. É bem legal ver o quanto ele fica assustados com as ações malignas do personagem criado por seu pai até porque certamente essa será a forma como nós mesmos iremos reagir à história. É como se Kasse nos colocasse como seus próprios leitores beta. Outro ponto legal é a importância de o filho ser um professor de História, fornecendo ao pai aquela consulta tão necessária para qualquer autor que escreva romances históricos. Ou seja, Kasse está nos mostrando uma das bases da necessidade da revisão e da pesquisa, dois aspectos importantes para um bom produto final.
A narrativa é baseado em uma situação real. De fato, João XII foi considerado um dos homens mais malignos da Idade Média, comparado somente a ícones cruéis do Império Romano como Nero, Calígula e Heliogábalo. A Igreja era uma instituição muito diferente do que ela será no final da Idade Média, dependendo fortemente dos impostos pagos pelos senhores feudais e por homens que não passavam pelo processo de ordenação. Geralmente eram segundos filhos que serviam para criar conexões com a nobreza. Os papas contavam ainda com um exército próprio (não confundir com a guarda varegue, que virá com a fundação do Vaticano) o que explica o que vai acontecer mais para o final do conto. O ódio que João XII despertava nos cardeais e bispos foi o suficiente para ele ser perseguido, o que o leva a ser ainda mais mortal e amoral com o avançar da história. Kasse tem algumas liberdades ficcionais, mas quem gosta de acontecimentos históricos curiosos vai gostar da narrativa.
Meu único porém são os saltos narrativos muito grandes. Daria para fazer uma história curta com algumas páginas a mais e trabalhar o entorno de João XII com mais atenção. O que estas pessoas planejavam e se dava certo ou não. Uma coisa que seria legal poderia ser um ou dois atentados feitos ao papa e ele se livrar disso com algum estratagema maluco até acontecer o clímax com a situação final. No mais, outra história que vai deixar os pudicos assombrados com os pecados insensatos de um homem maligno.
Ah... Só uma curiosidade: é um conto natalino. Outra: João XII foi considerado um traidor pelo imperador do Sacro-Império, Oto, o Grande, que colocou Leão VIII em seu lugar, um papa que abriu os caminhos para o estabelecimento das cruzadas algumas décadas mais tarde (embora tenha sido Urbano quem tenha convocado).
Ficha Técnica:
Nome: Três Badaladas
Autor: Eduardo Kasse
Editora: Draco
Número de Páginas: 30
Ano de Publicação: 2021
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*Material enviado em parceria com o autor
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