Paulo Vinicius

Resenha: "Two Truths and a Lie" de Sarah Pinsker

Stella foi ajudar seu amigo Marco a limpar a casa de Denny, seu irmão mais velho que acabou de falecer. Denny tinha se tornado um acumulador e a simples tarefa de limpar em casa se torna algo trabalhoso. Mas, a descoberta das gravações de um antigo programa de televisão revela estranhos detalhes do passado de Stella.

Sinopse:

Stella pensou que ela contou uma mentira no ato, perguntando a seu amigo de infância se ele se lembrava de um estranho programa de TV com um apresentador bizarro em que ela e várias crianças da vizinhança participaram há muitos anos atrás. Mas ele de fato se lembra. Assim como sua mãe. Então por que só ela não se lembra? Quanto mais ela investiga sobre o show e sobre a aura que ele tinha sobre sua cidade natal, mais estranho o mistério fica.

Esse é um daqueles contos que você não dá nada a princípio e te surpreendem de uma maneira. A capa é estranha, a sinopse não diz muita coisa, o início é normal. Mas, a autora te pega de um jeito que você fica vidrado nas páginas. Na descrição do conto, ele diz ser uma dark fantasy, mas eu discordo. Two Truths and a Lie pende mais para um thriller com pitadas de terror. O final é surpreendente.

Tem tanta coisa acontecendo neste conto que eu vou tentar fazer uma sinopse. Tudo começa com Marco pedindo a ajuda de Stella para arrumar as coisas na casa de Denny. Seu irmão mais velho faleceu e ele tinha se tornado um acumulador. A casa tinha se tornado um caos e a ajuda de Stella se tornou essencial não só por causa da morte recente de Denny, mas pelo volume de coisas a serem retiradas. Mas, Stella se arrepende rapidamente de ter concordado em ajudar Marco com essa tarefa. Durante os intervalos, os dois amigos de infância conversam sobre como anda a vida, e Stella tem o hábito de ser uma mentirosa contumaz. Ela conta que tem um filho e trabalha como provadora de café. Só que nenhuma das duas coisas é verdade. Durante a retirada de objetos, Stella descobre que Denny participou muito das gravações de um estranho programa de TV infantil chamado Uncle Bob. O apresentador era um cara bizarro que contava histórias arrepiantes. A mãe de Stella conta a ela que ela participou do programa, mas Stella não se lembra de ter participado. E é aí que o mistério começa...

A escrita da Sarah Pinsker é instigante. Inicialmente parece que se trata de uma história comum. E eu até estranhei pensando porque esta história tinha sido inclusa em uma literatura de gênero. Mas, a autora faz uma virada narrativa acontece de uma forma progressiva. Não é de uma vez só. O estranho vai sendo inserido a cada novo passo dado por Stella. Quanto mais fundo a protagonista se mete em sua investigação, mais ela vai percebendo os furos em sua história. A personagem vai se dando conta do que está acontecendo pouco a pouco, o que desconcerta o próprio leitor.

O quanto sabemos sobre nossas próprias histórias? O quanto retemos de nossa infância? É com essa brincadeira que Sarah Pinsker lida ao longo da narrativa. Quanto mais velhos ficamos, as lembranças mais antigas vão se tornando cada vez mais embaçadas. Claro que o que acontece com Stella é em um outro nível completamente diferente. Mas, as nossas memórias vão sendo construídas em cima de outras. Às vezes retemos uma memória de forma integral, às vezes de forma parcial. Isso quando não usamos mentiras convenientes para criar alguma reação dentro de um grupo de amigos. O que a Stella faz com o Marco logo no início da história eu consigo identificar em várias situações que eu já vivenciei ao longo do tempo. Chega a um momento em que passamos a acreditar em nossas próprias mentiras. E aquilo que inventamos se torna uma verdade. Novamente: o quanto somos capazes de manipular a realidade para criar uma reação?

Fiquei surpreso com esse conto e já quero ler mais coisas da Sarah Pinsker. Eu sei que ela tem pelo menos um romance escrito. Bem, gosto desse tipo de escrita que te prende com mistérios em cima de mistérios.