Nossa dinossaurinha favorita está de volta em tirinhas sobre os mais variados temas. Ela vai se ver diante de uma epidemia de zumbis viciados em séries, de sua pilha interminável de leitura e de uma viagem ao passado em que ela vai se lembrar de seu tio que escrevia colunas de jornal.
Sinopse:
Tê Rex é uma filhote de dinossauro. Ela curte livros e seriados e tem dificuldade em compreender a loucura à volta, mas ainda assim percorre as páginas e episódios indo onde nenhum dinossauro jamais esteve.Tê Rex: ZapZombie é o novo livro da premiada série criada por Marcel Ibaldo e sua filha Marcelli, acompanhamos a odisseia da dinossaurinha mais nerd de todos os tempos lidando com zumbis, nostalgia e mensagens nada verdadeiras do Zap. Sejam bem vindos à pré-história Nerd!
Esta é a segunda compilação das tirinhas da Marcelli Ibaldo que conquistou inúmeros corações com a sua primeira coletânea (cuja resenha vocês podem conferir bem neste link). Então saber que ela é talentosa, a gente já conseguiu perceber e em uma idade bem jovem. O próximo desafio que foi até explicado pelo seu pai, Marcel, que é o roteirista das tirinhas, é que agora as tirinhas não são algo mais tão espontâneo, mas algo produzido para os fãs da Marcelli. Ela tem uma base de fãs que quer descobrir o que ela vai produzir a seguir. E é então que somos presenteados com essa segunda coletânea da Tê Rex, com uma Marcelli já na sua adolescência, estudando mais quadrinhos e mudando os seus interesses. Zapzombie é o produto de uma menina em constante desenvolvimento, que está abrindo suas asas para o mundo. Respondendo à pergunta de se ela conseguiu se sair melhor do que no primeiro... com certeza. O elemento de surpresa não existe mais e agora os olhos se voltam para ela e parece que a Marcelli não decepciona nem um pouquinho.
É muito legal poder acompanhar a evolução de um artista que a gente passa a acompanhar. Acompanhar in loco mesmo, adquirindo seus materiais um a um, e elogiando aqui, criticando acolá. Nesta segunda coletânea, dá para perceber que a Marcelli afinou mais os traços, usando menos deles para conseguir desenhar sua personagem. Isso economiza trabalho e faz com que ela passe a se focar em outros elementos do quadro, ou empregar sarjetas diferenciadas, inserir mais personagens. Quando você domina o traço do seu personagem, tudo fica mais simples. Outro destaque fica para o uso de retículas, o que faz os personagens ganharem mais profundidade. Os olhos brilhantes da Tê, ou as texturas nos móveis da sala ou do quarto. Eles ganharam mais vida. Até é legal ver os extras ao final do quadrinho porque a Marcelli explica parte do processo de criação. Os personagens ganharam cores mais vivas, por exemplo. A Marcelli tem se preocupado mais com a arte-final e até mudou sutilmente os traços dos seus personagens. Dadas as devidas proporções (e os devidos dinossauros) é como acompanhar a evolução do traço do Maurício de Souza nas tirinhas do Horácio. No começo, o personagem era mais alongado, as cores mais foscas e as bordas mais grossas. Com o passar do tempo, o Maurício passou a ser mais econômico para lhe conferir agilidade. É mais ou menos isso o que vemos com a Marcelli.
Outro ponto da arte que eu curti é que a Marcelli está brincando mais com o metatexto ou com a própria composição dos quadros. Seja um balão mais alongado que atravessa três quadros quando o seu pai está falando, o que produz uma piada engraçada, ou o preenchimento ou não do fundo. Ela chegou até a tirar uma foto da sua mão e usar em um quadro. Há brincadeiras com caleidoscópios e arco-íris ou até mesmo deixar os quadros na cor sépia. Tudo para fornecer um segundo nível de compreensão, este mais estético, às piadas. Tem outro efeito incrível que a Marcelli fez que foi em uma dupla de páginas onde em um lado está a Tê e do outro está a mãe da Tê estilizada como um dinossauro. A Marcelli fez dois closes de perfil (só mostrando o rosto) no formato de um tríptico, ou seja, de três quadros que formam uma imagem. Ficou bem elegante! Nossa querida artista está aprendendo a usar recursos bem mais avançados e gostaria muito de vê-la fazendo o que o Pascal Jousselin fez na HQ Imbatível ou a Melissa Garabeli fez em Big Hug: usar os quadros em si para fazer a piada. Isso seria muito, mas muito legal.
As tiras ainda mantém muito da inocência da Marcelli, mesmo o Marcel sendo o roteirista. Acredito que os roteiros do Marcel devam girar nos interesses de sua filha e ele só ajusta os balões (seria legal ver como o Marcel adapta as ideias da Marcelli para o roteiro... isso daria bastante pano para conversa). A Marcelli mantém o seu interesse por séries e livros e isso é bem legal. Ela ao mesmo tempo tece críticas sutis a quem passa horas e horas maratonando séries. É óbvio que ela curte também, mas fica aquela cutucadinha para irmos explorar a natureza, lermos um livro ou fazermos outras coisas mais saudáveis. Outro tema bastante presente nas tirinhas é o da nossa eterna pilha de leitura que parece não ter fim. Não vou dizer que não, mas a minha está do tamanho da do pai da Tê também. E os livros novos não param de chegar. Ao mesmo tempo vemos que a menina está crescendo e tendo um pensamento mais crítico sobre o mundo. As últimas tiras envolvem uma série de flashbacks de quando a Tê era criança e como ela desenvolveu o seu interesse por livros. Havia também um tio que trabalhava em um jornal escrevendo colunas que criticavam a postura mais bruta do governo, calando os meios de comunicação e exercendo a censura. Isso provoca um acontecimento trágico que é abordado pela autora, que nos mostra que a Tê ainda não tinha ideia do que estava acontecendo. Esse processo de conscientização política só tende a aumentar nos próximos anos e a Marcelli é um fruto dessa nova geração engajada que está chegando ao mercado.
Para destacar mais um ponto do roteiro, agora temos tiras continuativas, algo que era bem esparso no primeiro volume. A Marcelli deixa bons ganchos para continuarmos lendo as histórias e coisas que terão consequências mais adiante como a epidemia dos zumbis de série ou o próprio flashback. Uma tira precisa ter um bom gancho para que o leitor continue acompanhando-a. E esta coletânea é sensacional neste sentido porque a gente quer continuar lendo indefinidamente. Lembro que li de uma tacada só porque não conseguia parar. O timing das piadas continua muito bom e algumas são daquelas que a gente logo se identifica. Essa HQ continua maravilhosa e só tenho a valorizar o trabalho da dupla Marcel e Marcelli. É daquelas materiais que ficam no coração. A Avec está de parabéns por ter apostado neles e espero continuar lendo mais dessas tirinhas
Ficha Técnica:
Nome: Tê Rez - Zapzombie
Roteirista: Marcel Ibaldo
Artista: Marcelli Ibaldo
Editora: Avec Editora
Gênero: Tirinhas/Humor
Número de Páginas: 120
Ano de Publicação: 2021
Avaliação:
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*Material recebido em parceria com os autores
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