Com a vinda dos Ferais, o mundo de Lúcio fica de cabeça para baixo. Ele corre junto com seu namorado Caio para tentar fugir da destruição. Mas, quando ele atravessa uma espécie de parede invisível se vê em um outro mundo onde todos dizem que tudo o que ele viveu é uma mentira.
Sinopse:
O dia em que Lúcio pediu demissão da fábrica de feitiços também foi o dia em que centenas de cães infernais saíram de uma rachadura no chão. Sem entender o motivo do surgimento das criaturas ou por que elas só atacam pessoas racializadas, Lúcio decide procurar um feitiço antigo para eliminar esse perigo. Entretanto, acaba encontrando uma parede invisível marcando os limites do seu mundo e da sua noção de realidade.
Esta é uma história que se passa no universo de Oceanic criado pelo autor. Na narrativa temos um personagem que tenta fugir de um desastre que acontece em seu mundo. Ao lado de seu namorado Caio, Lúcio busca alguma saída, algum tipo de esperança antes de ser atacado por criaturas que parecem visar apenas homens e mulheres negros. Quando ele finalmente consegue atravessar uma espécie de parede invisível, Lúcio acorda cercado de pessoas que afirmam que tudo aquilo que ele conhecia antes era uma mentira. Mas, sua vida está tão impregnada em seu ser que como ele fará para recomeçar tudo? E o que é realidade: aquilo que experimentamos ou aquilo que nos cerca?
Nada como uma ficção científica que não tem medo de fazer você questionar a sua realidade. Ou de desconstruir alguns sensos comuns que temos. Ou de nos fazer refletir sobre asserções que tomamos como certas. É nesse espírito que Waldson Souza consegue escrever uma narrativa envolvente e provocativa que não deixa nada a desejar às melhores histórias de Philip K. Dick. E o autor foi habilidoso ao mesclar a fantasia e o scifi de uma forma que os dois não conseguem ser analisados de forma separada nesse conto. Gostei de como o autor conseguiu tornar a narrativa em algo seu, em dar uma personalidade própria em sua escrita, algo já visto em Oceanic. Porém, preciso dizer que achei a narrativa de Oceanic mais envolvente apesar de este conto ser mais provocativo no que diz respeito à temática. Não sei porque mas a minha experiência com a história anterior do autor foi diferente e mais prazerosa no que diz respeito a mim como leitor.
Só que eu não posso deixar passar a possibilidade de falar a respeito do próprio questionamento da realidade. E isso é algo que consegue bagunçar a nossa cabeça ao longo da narrativa. O personagem não consegue se adaptar ao novo "status quo" que lhe é apresentado. Afinal, como esquecer de algo que você vivenciou, ou pelo menos imagina ter vivenciado por tanto tempo? Chega a ser até uma crítica do autor a uma realidade virtual da qual não conseguimos nos desligar. De como preferimos o irreal, o fantástico ao que é o verossímil. Afinal, o que dita a realidade? O empírico ou o racional? Não é incomum vermos casos de pessoas que não conseguem abandonar seus próprios universos fantasiosos e viverem uma realidade sensível. O dilema emocional vivido pelo protagonista é agoniante e terrível, algo exemplificado nos jantares de família que aparecem mais tarde. Como desenvolver sentimentos por algo que você nunca imagina ter visto?
Este é mais um daqueles contos que você deve ler com toda a atenção do mundo, se focando nas pequenas e nas grandes mensagens passadas pelo autor. Se você tiver que recuar um passo para entender o todo, faça. Apesar de que eu achei a escrita do Waldson tão tranquila aqui e as altas ideias não são complicadas de serem compreendidas.
Ficha Técnica:
Nome: Uma Esfera para cada Feitiço
Autor: Waldson Souza
Editora: Revista Mafagafo
Número de Páginas: não informado
Ano de Publicação: 2020
Avaliação:
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