Uma coletânea de ficções relâmpago de Nelson de Oliveira que misturam problemas do cotidiano até situações insólitas. São pequenas pílulas de reflexão para que possamos pensar sobre alguns temas.
Sinopse:
Shakespeare dizia que somos feitos da mesma matéria dos sonhos. Aproveitando o lampejo do bardo britânico, garanto que os contos de Nelson de Oliveira reunidos nesta coletânea são feitos da matéria mais pura que existe no universo: os sonhos da infância. Às moscas, armas! é uma coleção de pessoas normais em situações insólitas, de pessoas insólitas em situações normais e de pessoas insólitas em situações insólitas. Vinte e quatro ficções breves, duas dúzias de sonhos lúcidos que desvelam a maquinaria mirabolante da realidade. Cuidado com o que você desconhece! Forças transformadoras coordenam este mundo, subvertendo tudo de fora para dentro. Se você acha que está seguro, bendita seja tua santa inocência. É melhor não ler este livro.
Múltiplos olhares sobre o cotidiano, que pode ou não ser insólito
O gênero da flash fiction ainda é pouco explorado pelos escritores brasileiros. Vejo mais este gênero em colunas de jornal ou em algumas revistas. Por isso, não me é estranho que um escritor como Nelson de Oliveira saiba explorar muito bem histórias desse tipo. Alguém que tem uma veia jornalística em sua escrita consegue ser capaz de escrever narrativas interessantes mesmo em tamanhos reduzidos. A flash fiction (ou ficção relâmpago ou miniconto) é um gênero que não permite muito o desenvolvimento narrativo ou de personagens porque ela se estrutura em no máximo 1000 palavras. O autor precisa ser capaz de entregar sua mensagem de uma forma concisa e direta. Não digo que todos os contos dessa coletânea sejam flash fictions (até porque não creio que o Nelson tenha se imposto essa limitação, em específico), mas acredito que ele tenha se proposto a escrever micro contos que fossem o mais diretos possíveis.
São pequenas pílulas narrativas que se debruçam sobre uma diversidade de temas. Como o próprio autor aponta no final do livro eram contos espalhados e que foram publicados em diversas revistas e acabaram reunidos em uma coletânea. Portanto, eles não seguem nenhuma temática específica. Tem contos estranhos como Ah! onde os personagens se transformam em bolas luminosas saltitantes que acabam infectando outras pessoas assim que entram em contato. Ou seja, o insólito é enxergado como normal ou acidental e o narrador apenas segue descrevendo aquilo que está acontecendo.
Tem ótimas críticas aos leitores e ao mercado editorial como em Daltonismo e Inveja. No primeiro Nelson critica os leitores que acabam se posicionando especificamente sobre algo que ele não sabe se o escritor quis dizer. Rixas como a de Capitu (se ela traiu ou não Bentinho) que já se tornaram lendárias. Ao invés de apreciar a escrita de Machado de Assis por aquilo que ela é, o leitor acaba se envolvendo em uma insossa disputa que não leva a lugar algum. Ou Inveja onde ele descreve a estranha relação entre o Escritor Que Não Sabia Escrever Bem e O Escritor Que Sabia Escrever Bem. A analogia é ótima e, mesmo sendo feita de uma maneira clara, ainda funciona sutilmente.
Outros são verdadeiras experiências de escrita como Quinze Minutos e Avenida Rashomon. No primeiro, Nelson mostra um dia comum na vida de dez funcionários de uma empresa que possuem quinze minutos de intervalo para uma refeição. O autor mostra esse dia se repetindo diversas vezes com apenas algumas variações. A repetição serve para mostrar como isso se torna algo monótono e vazio depois de algum tempo. As variações narrativas no dia de cada um são mínimas, seja com uma troca de refeição, seja com um acontecimento extraordinário, seja com um tempo menor. Essa experiência mostra ao leitor como trabalhar repetições de uma forma interessante (exige até um pouco de observação da parte deles). Já Avenida Rashomon simplesmente são pontos de vista acerca de um mesmo acontecimento. Em um parágrafo. Digamos que um detetive está fazendo um recolhimento de testemunhos sobre um atropelamento. Mas, cada um fornece um relato diferente do que aconteceu. Ao final, o que o detetive consegue assimilar é uma versão bizarra de telefone sem fio.
Não quero entregar muito mais sobre os contos porque eles podem ser aproveitados em qualquer ordem e lidos até mais de uma vez (eu recomendo!) para captar a essência do que Nelson de Oliveira quer dizer. Em alguns momentos ele é capaz de escrever algo simples e direto, enquanto em outros a mensagem está mais escondida dentro do texto. Ou pode ter múltiplos significados. São vários contos e alguns deles vencedores de prêmios como O Homem Só. É óbvio que não dá para dizer que vamos gostar de todos os contos e quase todas as coletâneas são assim. Mas, certamente vai te dar bons momentos de leitura.
Ficha Técnica:
Nome: Às Moscas, Armas
Autor: Nelson de Oliveira
Editora: Link Editora
Gênero: Ficção Especulativa
Número de Páginas: 118
Data de Publicação: 2018
Link de compra:
*Material enviado em parceria com o autor
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