Nesta linda animação do premiado diretor Makoto Shinkai, vamos conhecer a história de Taki e Mitsuha, dois adolescentes que começam a trocar de corpo inexplicavelmente. Taki é um estudante de Tóquio que trabalha como garçom à noite e Mitsuha é uma menina do interior que mora em um templo Shinto.
Sinopse:
Mitsuha Miyamizu (Mone Kamishiraishi) é uma jovem que mora no interior do Japão e que deseja deixar sua pequena cidade para trás para tentar a sorte em Tóquio. Enquanto isso, Taki Tachibana (Ryûnosuke Kamiki), um jovem que trabalha em um restaurante italiano em Tóquio, deseja largar o seu emprego para tentar se tornar um arquiteto. Os dois não se conhecem, mas estão direta e misteriosamente conectados pelas imagens de seus sonhos.
Segundo trabalho do Makoto Shinkai que eu vejo e é incrível como ele sabe usar e abusar de todos os recursos de animação disponíveis. Falar de aspectos técnicos é chover no molhado com o autor, mas eu queria comentar um pouco da história nesta análise. Pode até não ser o melhor trabalho de roteiro do Shinkai, mas estamos diante de uma animação muito bem equilibrada no que diz respeito à cenário, som e narrativa.
Curiosamente Your Name foi apresentado primeiro no mercado ocidental do que no oriental. Segundo as informações do Imdb, ele estreou na Anime Expo em Los Angeles em julho e um mês depois chegou aos cinemas japoneses. O próprio Makoto Shinkai é o autor do mangá e foi responsável direto pela transposição para o cinema ao lado de Noritaka Kawaguchi e Genki Kawamura. A recepção no oriente foi monumental sendo que sua bilheteria só perde para A Viagem de Chihiro em valor absoluto. Estamos diante do primeiro filme de animação japonês a alcançar marcas que só tinham sido feitas por Hayao Miyazaki no auge do Studio Ghibli. O sucesso de Your Name se repetiu em várias partes do mundo tendo tido apenas uma exibição underground no Brasil. Mesmo assim quando o filme foi exibido houve uma grande campanha comercial a seu respeito. Your Name venceu inúmeras premiações como o Tokyo International Film Festival, o Japan Academy Awards e o Seiyu Awards.
A animação do filme é absolutamente linda. Existem quadros do filme que são verdadeiras obras de arte. Cheguei até a usar o ambiente com o meteoro caindo como papel de parede no meu computador por vários meses. Shinkai gosta de utilizar todas as técnicas possíveis dentro daquilo que ele imagina para a animação. Então a gente vai ver jogos de câmera diferentes, efeitos de cenário como movimento por movimento, giros em 360º, zooms distanciados, plongé. É um festival de ferramentas diferentes que em outros filmes não ficaram tão bem e nesse aqui conseguiram ser harmônicos com o que o autor queria. Gostei bastante de como ele tratou o rosto e as expressões dos personagens apesar de ele manter bastante o traço tradicional. Entretanto, a gente percebe pequenos detalhes como tipos de cabelos distintos, olhos, roupas. É que os cenários estonteantes acabam puxando mais a nossa atenção, mas convido a vocês observarem mais os personagens.
Admito ter minhas reservas quanto à trilha sonora. Gostei muito da trilha sonora na segunda parte (quando temos o plot twist), mas a primeira me soou tão comum que eu nem reparei. Sabe quando você sequer lembra que a trilha sonora está presente? Entretanto, na segunda parte adorei os instrumentais e as duas canções são lindas e compõem a cena para torná-la mais emocionante e emotiva. A trilha sonora foi composta por uma banda chamada RadWimps. Conta com cinco músicas. No mais, o resto dos efeitos sonoras faz sentido o que acaba por não prejudicar o que a cena está passando. Gostei principalmente de como a calmaria de Itomori me fazia prestar atenção em tudo o que se passava ao redor: os alunos conversando, a bicicleta de Teshi, os rituais feitos por Mitsuha e Yotsuha.
"Musubi é como chamávamos o deus guardião local há muito tempo. "Musubi" significa união. Essa palavra tem um significado profundo. Entrelaçar fios é uma união. Conectar com as pessoas é uma união, e o passar do tempo é uma união. Tudo isso faz parte do poder do deus. Os fios que trançamos são um laço com ele, uma parte do deus. Representam a própria passagem do tempo. Acomodam-se e tomam forma, entrelaçam-se e retorcem-se, às vezes desenredam-se, rompem-se e voltam a se unir. Isso é uma união, isso é o tempo. "
Your Name é uma história sobre memória, a distância entre as pessoas e tempo. Como eu já havia visto em 5 Centimeters Per Second, Shinkai gosta de narrativas melancólicas que tratam do amor distante e do que uma pessoa pode fazer para concretizar esse amor. Aqui somos apresentados a Taki, um menino da cidade grande que deseja um pouco de paz para si em uma cidade movimentada. Ele tem um amor secreto por Miki Okudera, sua senpai no trabalho de garçom. Já Mitsuha é uma menina de uma cidadezinha do interior que se sente presa em um lugar sem perspectiva. Criada pela avó que chefia um templo Shinto, ela é uma miko (uma sacerdotisa) em treinamento. Mitsuha se envergonha um pouco de seus rituais que ela precisa fazer na frente de muitos conhecidos de sua escola. Seu desejo era ir para a cidade grande.
O filme inicia com uma proposta de duas pessoas que estão insatisfeitas no lugar onde vivem. Quando as trocas começam a acontecer é como se os desejos de ambos estivessem alinhados. Estas trocas sempre ocorrem quando eles acordam, só que não há um aviso prévio. O primeiro terço do filme é a confusão entre estes dois personagens precisando perceber que as trocas estão sendo feitas e precisando se acostumar com elas. Mas, Shinkai nos passa a falsa impressão de que a história é sobre pessoas que querem ir a outros lugares que não aqueles em que eles vivem. Acreditem: não é sobre isso.
Shinkai divide a história em três momentos distintos: o começo com a apresentação de cada um dos dois personagens e as trocas iniciais, o ponto de virada onde ocorre a descoberta sobre do que se tratava tudo e os momentos finais onde Taki busca uma solução para o problema. São momentos muito claros para aquele que está assistindo. O filme até passa a impressão de que é maior do que é na realidade. Tive a sensação de que o filme tinha mais de duas horas, e não é uma fala pejorativa ou de crítica. É que ele realmente passa essa impressão. Fiquei impressionado que havia se passado tão pouco tempo quando terminei de assistir. É quase como se estivéssemos vivendo ao lado dos personagens, nos emocionando e assistindo cada momento da vida deles.
Admito ter gostado mais do núcleo de Itomori do que o de Tóquio. Acho até que o Shinkai não trabalhou tanto com o lado do Taki então a amizade com Tsukasa e Okudera me pareceu estranha e artificial. Por que ambos largariam seu cotidiano para seguir Taki a uma jornada distante? Não me pareceu crível. A Okudera eu até entenderia por conta da relação mais próxima entre ambos, mas a amizade de Taki com Tsukasa foi mal apresentada. Aqueles momentos na cafeteria não me pareceram o suficiente para mostrar o quanto eles eram amigos. Já Itomori é muito bem delineada. As relações de Mitsuha com seus amigos e com as pessoas da cidade são mais claras e até é possível entender por que Mitsuha toma aquelas atitudes no final.
O autor me deu uma rasteira porque eu jurava que o par romântico do Taki seria o primeiro e não o segundo. Passa essa impressão de que a segunda menina (não vou mencionar quem é) está ali mais para ajudar o Taki do que para ser o amor de Taki. Outra característica dos filmes do Shinkai é que esses amores quase sempre não acabam bem. O Jardim das Palavras é assim e 5 Centimeters vai pela mesma linha. Até me impressionei um pouco com o epílogo. Pensei: "nossa... ele quis dar um final mais bonitinho". Mas, um tema claro como água depois dos 30 minutos de animação é o tempo e a memória. Para exemplificar isso, ele usa os fios e a tecelagem para ilustrar como todas as pessoas são interligadas. Cada vez que nos relacionamos com alguém tecemos tramas mais complexas. Algumas dessas ligações são frágeis e podem se romper facilmente com o tempo enquanto outros duram a vida inteira. Dá para fazer uma associação com a deusa Mnemósyne, a deusa grega da memória. Ou até com as fiandeiras. Na lenda, as fiandeiras tecem as tramas do nosso destino. Elas sabem passado, presente e futuro. Através destes fios podemos observar qualquer momento de nossas vidas, mas somente elas podem ter esta visão.
O que me pareceu é que o cometa serve como um veículo para que os personagens possam distorcer o espaço-tempo. Ou um meio de acesso às fiandeiras. Percebam como os fios estão sempre presentes seja como uma pulseira para o Taki ou como um prendedor de cabelo para a Mitsuha. O desespero nos personagens é totalmente palpável e os momentos que tratam da memória são lindos e agonizantes ao mesmo tempo. Chega um momento da história em que eles não conseguem mais lembrar o nome um do outro. Vê-los tentando se recordar dos nomes dava um enorme aperto no coração. Aquele momento em que a Mitsuha pede para o Taki escrever o nome dele na mão dela foi de partir o coração e levar qualquer um às lágrimas.
Your Name é uma animação que eu recomendo a todas as idades. Mostra a importância de cultivarmos o amor das pessoas, sejam elas pais, amigos ou amados e como crescemos diante de determinadas situações. Que todos nós estamos unidos por fios invisíveis, não importa o quão longe estejamos. Vejam esta obra de arte de Makoto Shinkai, um autor o qual vocês devem sempre prestar atenção cada vez que ele lançar algo novo.
Ficha Técnica:
Nome: Your Name
Diretor: Makoto Shinkai
Produtores: Noritaka Kawaguchi e Genki Kawamura
Roteirista: Makoto Shinkai
Estúdio: CoMix Wave Films
País de Origem: Japão
Tempo de Duração: 107 min
Ano de Lançamento: 2016
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